Serginho tinha uma arritmia cardíaca leve

São Paulo – A morte de Serginho, na noite de quarta-feira, e a divulgação do resultado de exames cardíacos feitos pelo jogador em fevereiro, nos quais apareceram irregularidades, abriram um grande debate entre médicos, atletas e dirigentes. O zagueiro tinha condições de atuar profissionalmente? Seu clube, o São Caetano, não deveria tê-lo proibido de jogar? O atleta resolveu assumir a responsabilidade e exercer a atividade mesmo sabendo dos riscos?

O médico Martino Martinelli Filho, do Incor (Instituto do Coração), onde Serginho passou pelo check-up, afirmou que ficou sabendo de problemas no coração do jogador acusados numa cintilografia. “O exame mostrou um comprometimento do músculo cardíaco, é uma miocardiopatia, doença do músculo cardíaco que suscetibiliza o aparecimento de arritmias, muitas letais.”

Martinelli não quis entrar em detalhes, pois não teve acesso aos exames. Mas comentou que, com o conhecimento do problema pelos médicos do São Caetano, a tragédia poderia ter sido evitada. De acordo com o cardiologista, a morte foi causada por forte arritmia. A cintilografia de fevereiro apontou “coração dilatado e doença muscular importante”, segundo revelou a Rádio Jovem Pan. A assessoria do Incor disse que o instituto não tinha autorização para divulgar os resultados.

O volante Marcelo Mattos, do São Caetano, confirmou à Agência Estado aquilo que o goleiro Sílvio Luiz havia dito na quarta-feira. Sabia-se no clube da doença do zagueiro, morto aos 30 anos. “A gente sabia por cima de um problema, mas prefiro não falar sobre isso.” Mesmo assim, o presidente Nairo Ferreira de Souza voltou a negar problemas de coração do atleta.

A patologia de Serginho, segundo apontaram os exames, seria uma miocardiopatia hipertrófica assimétrica, de origem familiar, que favorece a arritmia, causa de ataques cardiácos. “Na maioria dos casos, quem tem essa doença não pode jogar”, comentou Ari Timerman, ex-presidente do Funcor, órgão da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Ele não iria parar, diz esposa

Coronel Fabriciano –

A esposa de Serginho, Elaine Cristina Castro Cunha, de 28 anos, negou ontem, em Coronel Fabriciano, interior de Minas Gerais, onde o marido será sepultado hoje, que o zagueiro tivesse a intenção de encerrar a carreira no final do ano, por causa de problemas cardíacos.

Segundo ela, o zagueiro estava confiante de que poderia ter uma vida longa no futebol. Conforme seu relato, na última sexta-feira, ele chegou a dizer que pretendia jogar até os 40 anos.

Elaine afirmou que em janeiro, junto com todo o grupo do São Caetano, ele foi submetido a exames de pré-temporada. Os médicos do clube, segundo ela, solicitaram então a realização de “exames mais detalhados”, que teriam detectado uma arritmia cardíaca leve. Os responsáveis pelo departamento médico no entanto teriam assegurado ao zagueiro que ele poderia continuar jogando sem problemas. “Ele nunca assinou termo de responsabilidade. Ele não seria louco de colocar em risco a vida dele”, observou a esposa, desmentindo notícias de alguns companheiros de clube que Serginho vinha atuando com um documento isentando o clube de qualquer responsabilidade caso alguma fatalidade acontecesse.

O meio-campista Lúcio Flávio, presente ao velório, revelou que Serginho permaneceu cerca de 10 dias sem treinar, após a bateria de exames realizada no início do ano.

Exames

O presidente do São Caetano Nairo Ferreira de Souza, voltou a afirmar que os exames realizados em Serginho constataram que o zagueiro não precisaria encerrar a carreira prematuramente por algum tipo de deficiência cardíaca. “O Serginho estava apto a jogar”, declarou, repetindo o que havia dito na quarta-feira. E o dirigente garantiu novamente que o atleta não assinou nenhum termo de responsabilidade para continuar atuando. “O São Caetano jamais colocaria em campo um jogador sem condições.”

Enterro hoje

Coronel Fabriciano

– O corpo do zagueiro Serginho começou a ser velado por volta das 16h no ginásio do clube Casa de Campo, de Coronel Fabriciano (MG). O corpo do atleta desembarcou por volta das 14h no aeroporto de Ipatinga (MG), vindo de São Paulo por meio de um vôo fretado. Aproximadamente 1 hora 50 minutos depois, o caixão chegou a Coronel Fabriciano transportado em caminhão do Corpo de Bombeiros.

O caixão de Serginho foi coberto com a bandeira do São Caetano e camisas do Social de Coronel Fabriciano e Democrata de Governador Valadares, os clubes pelos quais ele jogou.

O enterro está marcado para as 9h de hoje, no cemitério Vale da Saudade.

São Paulo x São Caetano no dia 3

Rio de Janeiro

– A partida entre São Paulo e São Caetano – suspensa no segundo tempo em conseqüência da morte do zagueiro Serginho – será disputada no dia 3 de novembro, às 20h30, no Morumbi, com portões abertos ao público, segundo decisão anunciada na tarde desta quinta-feira pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O departamento técnico da entidade decidiu ainda que serão jogados apenas os 31 minutos que restavam para o final da partida.

A CBF decidiu também alterar a data da partida que o São Caetano jogaria no sábado, contra o Paraná, pela 39.ª rodada do campeonato brasileiro. Este jogo foi transferido para o dia 10 de novembro, no estádio Anacleto Campanella, em São Caetano. O horário inicial, 20h30, foi mantido. A CBF decretou luto oficial de uma semana e determinou que todos os jogos dos campeonatos da Série A, B e C deverão respeitar 1 minuto de silêncio na rodada deste final de semana.

O zagueiro Serginho, de 30 anos, morreu na noite de quarta-feira, em conseqüência de uma parada cardiorrespiratória, sofrida durante a partida que estava sendo realizada no estádio do Morumbi.

O jogador desmaiou; chegou a receber atendimento médico ainda no gramado – inclusive com respiração boca-a-boca – mas, em seguida, foi levado ao Hospital São Luiz, onde morreu algum tempo depois.

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