Mulher de detido por suspeita de terrorismo nega acusações contra o marido

A mulher do paraibano Antônio (Ahmed) Andrade dos Santos Júnior, um dos doze presos pela Polícia Federal por suspeita de planejar atentado terrorista que poderia ocorrer durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, demonstra ainda estar surpresa com a prisão do marido, nega que ele tenha envolvimento com atos de violência, e diz que as famílias e os advogados continuam sem contato com os acusados. Eles estão detidos há uma semana no presídio de segurança máxima em Campo Grande-MS, onde devem ficar por trinta dias, prazo que pode ser prorrogado.

Segundo os policiais responsáveis pela operação Hashtag, os acusados faziam apologia a grupos terroristas como o Estado Islâmico nas redes sociais e chegaram a trocar informações sobre treinamento em lutas marciais e tiro – um eles teria tentado encomendar um fuzil AK-47 em um site clandestino, o que não se realizou. A prisão deles foi possível porque a Lei Antiterrorismo, aprovada este ano pelo Congresso, incluiu como crimes “atos preparatórios” para ataques terroristas, o que é criticado por organizações de direitos humanos por ser uma definição abrangente demais.

Vanessa Schuh, mulher de Andrade, com quem tem um filho de dez meses, nega que o marido preparasse qualquer ação violenta, embora admita que ele “não era totalmente contra o Estado Islâmico”. “O Antônio concordava com algumas questões, mas não sobre o terrorismo. E isso fazia com que alguns irmãos o considerassem radical”, disse Vanessa.

Segundo ela, essas “questões” diziam respeito apenas à defesa da existência de um estado para muçulmanos. “Sim, ele defendia a existência de um estado onde todos os muçulmanos, cristãos e judeus fossem respeitados. Mas eu prefiro não me alongar sobre esse assunto porque se fica mal explicado as pessoas logo interpretam como terrorismo.”

Andrade, de 36 anos, aparece com outro preso, o paulista Vitor Magalhães, em uma foto tirada no Egito, ao lado de uma bandeira negra associada a grupos terroristas como o Estado Islâmico, o que Vanessa acredita ter sido o motivo de sua prisão. “Eu não concordo. Ele não estava planejando nada e penso que uma foto, onde ele provavelmente não sabia o que estava fazendo, transformou-o em um terrorista. Achei exagerada a prisão porque, se eles (policiais) o estavam de fato investigando desde abril, sabiam que ele não estava planejando nada.”

Andrade e Magalhães viajaram juntos ao Cairo, onde passaram seis meses estudando religião em uma universidade particular. Líderes religiosos na Paraíba dizem que Andrade teria retornado ao Brasil com um discurso radical, que se intensificou ao longo dos anos, motivo pelo qual teria sido banido de uma mussalas (sala de oração para muçulmanos) que funciona dentro de uma academia de boxe na periferia de João Pessoa, a Associação Beneficente Esportiva Muçulmana Mesquita’a Brothers, do ex-lutador e treinador de boxe Muhammad Al Mesquita, onde Andrade treinou durante oito anos.

Segundo Mesquita, responsável pela conversão de Andrade para o Islã, ele “era um menino muito bom”, mas teria se radicalizado por intermédio de pessoas na internet. Vanessa nega. “A versão que conheço da história sobre a expulsão dele da mussala é muito diferente”. Ela, porém, não quis dar mais detalhes sobre o caso. “Não tenho provas então prefiro não falar”, disse.

Sobre relatos de pessoas da comunidade muçulmana na Paraíba de que Andrade teria se radicalizado, adicionou: “Eles não conviviam com Antônio para ter a certeza que eu tenho de sua inocência. Ele é uma boa pessoa, um ótimo marido e pai. Ficamos totalmente surpresos com a prisão. Realmente não esperava por algo assim. Na verdade até agora tem momentos em que não consigo acreditar que isso aconteceu de tão surreal que é a possibilidade de ele estar envolvido com terrorismo.”

Vanessa e Andrade se conheceram pela internet. Pouco depois, ela adotou o Islã. Eles se casaram há dois anos em Guarulhos, onde Andrade morava na época. Segundo Vanessa, ela e o marido trabalhavam de casa, em João Pessoa, com publicidade via internet e criação de logotipos para empresas, e passavam o dia juntos.

Vanessa conta que os policiais federais chegaram em sua casa por volta das 5 horas. “Estávamos dormindo quando o interfone tocou e começaram gritar e bater no portão. Assim que entraram e se depararam com um ambiente familiar tranquilo, se acalmaram e explicaram a situação. Fizeram a revista pela casa e levaram ele”, relata.

“Nossa maior preocupação é saber como ele está, pois ainda não falamos com ele depois da prisão. O advogado também não conseguiu falar com ele ainda. Estamos tristes e preocupados. Os pais dele já são pessoas idosas. Mas estamos tranquilos porque sabemos da inocência dele é se Deus quiser, tudo vai se esclarecer.”

Voltar ao topo