Governo define Palácio do Itamaraty para receber chefes de Estado no Rio-2016

A recepção que o governo brasileiro oferecerá aos 45 líderes de países que virão ao Rio para a abertura da Olimpíada, daqui a 10 dias, será mesmo no Palácio do Itamaraty, no centro, a despeito de sua vulnerabilidade – o prédio fica a 600 metros do Morro da Providência, dominado por traficantes de drogas, e é próximo a bocas de fumo e a pontos de consumo de crack – e do posicionamento contrário do ministro da Defesa, Raul Jungmann. A decisão foi do ministro das Relações Exteriores, José Serra, que visitou o palácio no último sábado.

A festa, um coquetel em pé para 1.500 pessoas, para o qual são esperados também 55 ministros de esportes, todos com direito a um acompanhante, terá curta duração: das 17 horas às 18 horas. Deverá custar em torno de R$ 500 mil, segundo informou Serra.

Finda a recepção, o grupo seguirá de ônibus para o estádio do Maracanã, para assistir à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. A previsão é que a festa comece às 20 horas e termine às 23h30. Estão confirmadas as presenças dos presidentes da França, François Hollande, de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e da Argentina, Mauricio Macri, entre outros.

Tombado, o prédio do Itamaraty fica na avenida Marechal Floriano, paralela à avenida Presidente Vargas, uma das principais vias do centro e ligação com a zona norte. A construção foi erguida por um rico comerciante, o conde de Itamaraty, em 1854. Em 1889, foi comprada pelo governo republicano para ser sua sede.

O palacete neoclássico de cor rosa clara tornou-se a casa do MRE em 1899 e ficou tão ligado a essa função que Itamaraty, que significa “pedra rosa” na língua indígena tupi, virou o segundo nome do ministério. Só em 1970 a pasta se mudou para Brasília. Hoje, o escritório no Rio abriga o Museu Histórico e Diplomático, arquivos e guarda de livros.

Os fundos do terreno, onde fica o prédio da Biblioteca do Itamaraty, aberta em 1930, dão para a Gamboa, região histórica e degradada, onde as lojas de comércio popular são ladeadas por pontos de venda de entorpecentes e locais usados por usuários de crack, que consomem a droga à luz do dia. Até na entrada principal há problemas. No início da tarde desta segunda-feira, junto à fachada, havia mendigos e camelôs.

A fachada envelhecida do palácio causa má impressão, mas por dentro os ambientes são ricamente decorados. Conforme revelou Serra, a festa será na sala de leitura da biblioteca e no imponente salão nobre. Ao ar livre, o jardim, delimitado por palmeiras imperiais, poderá ser usado pelo presidente em exercício, Michel Temer, para os cumprimentos aos líderes. Ele estará acompanhado da mulher, Marcela. A utilização do jardim vai depender do tempo. O espaço aéreo deverá ser fechado para evitar qualquer tipo de ameaça.

No último sábado, instado pela imprensa a falar sobre o esquema de segurança dos chefes de Estado e de governo, Serra admitiu que “a segurança aperta” em função dos recentes atentados terroristas pelo mundo, mas não entrou em detalhes.

A Providência é uma favela habitada por traficantes de drogas e que, a despeito da presença de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) há seis anos, ainda vive rotina de tiroteios, dos quais participam bandidos vinculados à facção criminosa Comando Vermelho (CV). O morro é considerado a primeira favela do Rio. Passou a ser ocupado depois da Guerra de Canudos (1896-1897), por ex-combatentes e ex-escravos.

Serão realizadas no Palácio do Itamaraty quatro recepções – a de abertura, a de encerramento da Olimpíada e duas para a Paralimpíada. A segurança será feita pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, responsável pela área de inteligência do governo, acionado pela presença do presidente em exercício; pela Polícia Federal, à qual cabe a guarda dos líderes estrangeiros; e pelo Comando Militar do Leste (CML), representação do Exército no Estado, que ocupa prédio vizinho ao Itamaraty.

O Palácio Duque de Caxias, prédio do Exército, inclusive, foi cogitado pelo ministro da Defesa para a realização das festas. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo na semana passada, ele disse: “Acho que existem outros locais que contribuem melhor para a segurança dos mandatários. Mas se houver determinação de realizar o encontro ali, vamos garantir todas as condições de segurança para que os chefes de Estado cheguem ao palácio, sejam recebidos e transitem sem qualquer problema”.

O Itamaraty fica a 4,9 quilômetros do Maracanã. Os ônibus com os líderes e ministros seguirão pela Presidente Vargas, em trajeto que deverá durar pouco menos de 15 minutos. Ao fim da cerimônia no estádio, o grupo deverá retornar ao Itamaraty, para de lá partir para os hotéis. O Exército já fez testes de segurança simulando estes deslocamentos, considerados satisfatórios.

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