O Coxa não se emenda

“Juangate” reprisa crises parecidas nos últimos anos

Fugindo totalmente ao ditado, o Coritiba vem insistindo em erros nos últimos cinco anos. O mais evidente deles, que ficou escancarado após a derrota da segunda-feira para o Atlético-MG, é o péssimo ambiente interno. Se havia a impressão que pelo menos entre jogadores e comissão técnica havia uma boa relação, a explosão de Juan com o técnico Pachequinho e as críticas de Kléber em entrevista a Galvão Bueno, no canal SporTV, deixou evidente que há também problemas na estrutura do futebol. Estas crises se repetem, com outros personagens e outros motivos, mas sempre com o mesmo desfecho – rendimento em campo nitidamente afetado.

O “Juangate” começou ainda no jogo com o Botafogo, quando o meia reclamou de ser substituído. Mas a reação destemperada do meia quando foi trocado por Bernardo na etapa final da partida contra o Galo explodiu um problema surpreendente, principalmente depois das manifestações públicas de apoio dos jogadores em defesa da efetivação de Pachequinho como treinador. Os xingamentos de Juan, parcialmente captados pelas câmeras da TV e testemunhados pelos repórteres, foram o estopim de uma conversa tensa no vestiário do estádio Independência, uma discussão que chegou a ser ouvida fora do local.

Na entrevista coletiva, Pachequinho disse que o assunto ficava na mão da diretoria, e o gerente Alex Brasil garantiu que alguma medida seria tomada. O dia passou e a expectativa é que o resultado da crise seja conhecido hoje, na janela de imprensa. A diretoria tenta encontrar uma solução diplomática que mostre a Juan que ele não poderá repetir o que fez, mas sem perder o jogador, que é o principal meio-campista da equipe na temporada – e fazer tudo isso sem tirar a autoridade de Pacheco, já minada com a falta de definição sobre seu futuro.

O interino acabou sendo criticado também por Kléber. Sem falar o nome de Pachequinho, o Gladiador afirmou no programa Bem, Amigos, que falta uma identidade ao Coxa. “A gente muda jogadores todos os jogos, a gente muda o sistema. Contra o Botafogo jogamos com três atacantes, hoje (segunda) jogamos com três volantes. Precisamos logo ter uma cara neste campeonato, porque temos condições de sair desta situação ruim”, disse o atacante.

As declarações desencontradas e os problemas de relacionamento são versões novas de crises anteriores. Em 2012, a diretoria garantira o cargo de Marcelo Oliveira, que acabou demitido após uma derrota para a Portuguesa, e teve que se virar para deixar o hotel onde o Coritiba estava concentrado. No ano seguinte, os salários atrasados começaram a minar o ambiente entre jogadores e diretoria, situação ampliada pelas diferenças entre o então presidente Vílson Ribeiro de Andrade e o meia Alex, principal ídolo do clube.

A cisão dos dois aumentou em 2014, quando houve ameaça de greve e os dois mal se falavam. Tanto que Alex resolveu apoiar a chapa de oposição na eleição do final daquele ano, e foi decisivo para a vitória de Rogério Portugal Bacellar. Eleito com a promessa de profissionalizar e modernizar a administração alviverde, o cartola viu seu G5 ser quase todo trocado, dirigentes e funcionários serem afastados e a chamada “crise do WhatsApp” no ano passado mostrou que havia até críticas pessoais e preconceituosas entre as pessoas que comandavam o Coritiba.

Neste ano, os jogadores ameaçaram não entrar em campo contra o Rio Branco por conta dos atrasos. As dificuldades financeiras se somaram aos erros de avaliação, fazendo com que apenas na 15ª rodada do Brasileirão o Coxa tivesse um grupo mais fortalecido – mas evidentemente pressionado e abalado pelos problemas. O “Juangate” só agrava a situação – e é mais um capítulo de uma história que se repete ano a ano, inclu,sive com a mesma luta para escapar do rebaixamento, uma ameaça sempre rondando o Alto da Glória.

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