Após vencer doença, recordista dos 110m com barreiras luta por vaga olímpica

Os obstáculos impostos pela vida a Aries Merritt neste ciclo olímpico têm exigido do norte-americano muito mais perseverança do que as acirradas disputas dos 110 metros com barreiras nas pistas de atletismo. “Eu apenas preciso confiar no plano e ser paciente”, comentou ao jornal O Estado de S. Paulo. No dia 8 de julho, o recordista mundial disputará a seletiva dos Estados Unidos por uma vaga nos Jogos do Rio.

A competição também ajudará Aries a mostrar aos adversários sua atual condição física. Depois de se consagrar com a medalha de ouro na Olimpíada de Londres – a primeira dourada dos Estados Unidos nos 110m com barreiras desde Atlanta-1996 – e um mês depois se tornar o homem mais rápido do mundo na prova, com o tempo 12s80, recorde mundial estabelecido na etapa de Bruxelas da Diamond League, o velocista viu o seu futuro ameaçado.

Fadiga, falta de ar e dificuldade na recuperação sentidas no Mundial de Moscou, em 2013, evidenciaram um problema de saúde. “Os médicos me disseram que minha carreira estava acabada. Eu tinha um sentimento de que nunca poderia correr novamente em alto nível.”

Aries foi diagnosticado com uma rara doença renal, que atinge predominantemente afro-americanos. Além disso, seus rins foram atacados pelo parvovírus B16, responsável por um estrago em seu corpo e também em sua medula óssea.

O norte-americano ficou internado em Phoenix, no Arizona, durante meses. Quando chegou ao hospital, sua função renal era de apenas 15%. Na tentativa de eliminar o parvovírus, os médicos aplicaram imunoglobulina intravenosa (IVIG). No entanto, o tratamento teve de ser interrompido em decorrência da destruição dos glóbulos vermelhos do sangue.

A perspectiva de voltar ao esporte parecia distante, deixando o atleta devastado. “Aquele período da minha vida foi muito depressivo. Tive de superar isso física e mentalmente. Me sentia muito deprimido, mas, quando olhei todas as pessoas que estavam torcendo por mim, tive força para reagir.”

Aries se restabeleceu gradualmente e retornou às pistas, ainda muito além de sua capacidade. No Mundial de Pequim, em 2015, o americano cravou 13s04 e surpreendeu o mundo com a medalha de bronze nos 110 metros com barreiras. Quatro dias depois, era submetido a uma delicada cirurgia para um transplante de rim, doado pela irmã LaToya Hubbard.

Em seu primeiro dia de atividade depois de aproximadamente dois meses de repouso e cuidados com alimentação e hidratação, surgiu um hematoma e a necessidade de uma nova operação. Aries só voltou a ter contato com as barreiras em dezembro do ano passado e, desde então, trabalha para ter a chance de conquistar o bicampeonato olímpico. “Minha preparação tem sido mais lenta do que o normal devido ao transplante de rim. Os médicos me disseram que seria muito desafiador.” E acrescenta: “As coisas parecem estarem indo bem”.

Ele sabe que tem uma difícil missão pela frente, mas promete fazer “o melhor” para defender o título de campeão olímpico. “Atualmente, do ponto de vista de desempenho, não sou o favorito. Presumindo que farei parte da equipe dos Estados Unidos, posso ter uma chance sólida se estiver em melhor condição física”, afirma.

Aries possui o sétimo tempo da temporada (13s24) e aparece atrás dos compatriotas David Oliver – segundo lugar, com 13s09 – e Ronnie Ash – quinto colocado, com 13s18. O jamaicano Omar McLeod cravou a melhor marca do ano: 12s98.

A seletiva promete ser competitiva. E correr abaixo dos 12s80 nos 110 metros com barreiras ainda está longe do planejamento do atleta. “Agora eu só preciso focar na execução e não em recordes”, enfatiza.

Para ele, a fórmula que pode colocá-lo nos Jogos Olímpicos é o esforço. “Se você não trabalha duro com o talento que lhe foi dado, você nunca vai brilhar”, diz. Em caso de vitória, a irmã LaToya já pode aguardar a homenagem. “Com certeza ela vai ter um monte de crédito.”

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