Que vaca, seu Ênio

Editor conta a emoção em fazer a capa do título alviverde

Estava na capa do jornal O Estado do Paraná no dia seguinte: “PMDB pode ficar sem candidato”, “Os previdenciários suspendem a greve”… Mas vamos ao que nos interessa. Só sei que naquele dia, Luiz Augusto Xavier, meu editor de esportes, viajou para narrar a decisão do Campeonato Brasileiro e a ‘bomba’ de fechar o esporte sobrou pra mim. Eu só tinha 9 anos de casa, mas era metido a quase dormir na redação. Talvez por isso eu dure até hoje, passados 38 anos. Primeiro no GPP, agora no GRPCOM.

Me perdoe o leitor, mas hoje o desgraçado do alemão – o Alzheimer – me pegou. Pega até a geração mais nova. Não há coco que aguente pra lembrar de tudo. Só sei que tive dor de estômago. De nervosismo. Primeiro, porque o Coritiba enfrentaria o resto do Brasil, principalmente a CBF. Nós éramos os fora do eixo. Só a dupla Gre-Nal havia desbancado os “grandes”.

E, segundo, porque o jornal tinha horário. Tem até hoje. Via lance a lance e corria no departamento de fotografia pra ver se já havia entrado telefoto. Sim telefoto (foto por telefone). Cada um das quatro cores levava sete minutos e meio pra entrar.

Ênio Andrade tirou o máximo dos jogadores do Coxa.

A cada minuto do jogo, passava a mão nas laudas (sim, lauda de 30 linhas) pra ver se o material “frio” ainda estava valendo. Material “frio”, de “gaveta”, é tudo o que é produzido durante a semana, à tarde. É o “adianto”. Todo jornalista sabe como é isso.

O Paraná inteiro torcia pelo Coxa, e eu e o jornal não seríamos diferentes. Imagina a explosão quando Índio fez 1×0. Separei todas as matérias, mandei compor algumas e segurei as outras. Imagina a brochada quando Lulinha fez 1×1. Imagina, então, cada minuto da prorrogação, com mais um empate. Imagina, então, meu estômago quando as cobranças terminaram em 5×5. Já não era mais dia 31 de julho. Era madrugada do dia 1º de Agosto.

Só guardo na memória uma frase, dita pelo treinador Ênio Andrade, ao comemorar o título, depois de 120 minutos e os pênaltis: “Se o Coritiba fosse uma vaca, não teria mais uma gota de leite pra tirar”. Pode conferir, está nos anais. E está nos anais, também, o poster do Coxa campeão, no alto da capa do jornal.

Presente

No encarte que está na edição de hoje da Tribuna o torcedor coxa (ou o amante do futebol) terá as reproduções das páginas originais dos dias 31 de julho, 1º e 2 de agosto de 1985. Foram seis páginas – e mais o pôster – escolhidos pela equipe do jornal como as que representaram a nossa cobertura naquele tempo. É um presente pros heróis do primeiro título nacional do futebol paranaense, pra quem leu a Tribuna naqueles dias e não pôde guardar as manchetes históricas, pra quem guardou mas viu o tempo agir nos originais e pra quem não era nascido e agora poderá ter esse acervo pra sempre. Além disso, a equipe de hoje apresenta essas páginas como uma homenagem aos colegas que participaram dessa cobertura.