De mudança, Diego Tardelli garante que não vai ficar escondido na China

O atacante Diego Tardelli sabe bem o que significa “não deixar uma oportunidade passar”. Ídolo da torcida do Atlético Mineiro e com espaço cada vez maior na seleção brasileira, ele resolveu correr o risco de perder tudo isso em nome da independência financeira. Com 29 anos, percebeu que essa seria a última chance de fazer um contrato pomposo, que lhe permitisse ter uma aposentadoria sem preocupações. Por isso, decidiu jogar no Shandong Luneng, da China, ao lado do técnico e amigo Cuca.

Em entrevista exclusiva, pouco antes de se aventurar em terras chinesas (sua viagem está marcada para esta quinta-feira), o atacante falou sobre suas expectativas, revelou ter conversado com pessoas da CBF para saber se deixaria de ser observado e admitiu que está deixando o Brasil pela questão financeira.

Agência Estado – Seu acerto com o Shandong Luneng pegou muita gente de surpresa. Vai para a China ficar um pouco e voltar ou quer ficar mais tempo por lá?

Diego Tardelli – Eu pretendo cumprir meu contrato de quatro anos. Falei com os brasileiros que jogam lá (Vagner Love, Aloisio e Júnior Urso) e eles falaram que dá para aguentar todo o tempo. Além da questão financeira, que foi muito importante, eu também quero fazer uma boa temporada para construir uma história na China e também me manter na seleção brasileira.

AE – O que conhece do clube e da cidade de Jinan (onde fica o Shandong Luneng)?

Diego Tardelli – Estou bem preparado. Sei que a cidade não é muito grande e não tem muito o que fazer, mas vou com minha família e isso ajuda. Quando estivermos meio cansados da cidade, dá para visitar outros lugares próximos. Vou tentar me adaptar o mais rápido possível à cultura, ao clima e à comida deles. Vamos nos virar do jeito que dá. Vale a pena tudo isso.

AE – Como você está deixando o Atlético Mineiro. Faltou algo?

Diego Tardelli – Saio feliz, de cabeça erguida e pela porta da frente. Enquanto estive no Atlético, honrei muito a camisa. De todas as formas, dentro e fora de campo. Hoje eu sou uma referência e um ídolo no clube. Acredito que deixei o meu nome na história do Atlético e saio bastante contente por tudo isso. Mas bate uma certa tristeza por deixar o carinho da torcida.

AE – Pensou em recusar a oferta?

Diego Tardelli – Acho que chegou o momento que eu precisava pensar um pouco mais em mim e escolher o que era melhor para minha carreira e para minha família. Tem horas que você precisa pensar mais em si mesmo.

AE – Quando diz pensar mais em você, podemos entender que se refere à questão financeira?

Diego Tardelli – Com certeza. Nos últimos dois anos, o futebol brasileiro passou por muitas dificuldades financeiras, e não poderia deixar essa oportunidade escapar. Quis garantir e fazer o meu pé-de-meia porque a carreira de jogador de futebol é curta e talvez eu não tivesse outra oportunidade como essa (Tardelli não revela os valores, mas deverá ganhar cerca de R$ 1 milhão por mês).

AE – O Atlético teve alguns problemas financeiros. Ficou alguma dívida com você?

Diego Tardelli – Nada. Eu abri mão do que eles me deviam para poder sair. O Atlético estava com problema financeiro, então conversei com o presidente e entramos em um acordo.

AE – E com o Dunga (técnico da seleção brasileira)? Falou com ele antes de aceitar a proposta?

Diego Tardelli – Com o Dunga, não, mas falei com o pessoal da CBF. Depois, vi uma entrevista do Gilmar Rinaldi (coordenador-geral de Seleções) falando que ninguém fica escondido, pois hoje eles conseguem acompanhar atletas em todas as partes do mundo. O futebol chinês vem crescendo muito nos últimos anos. O bom é que o pessoal da CBF me passou muita tranquilidade, talvez por isso tenha aceitado sem essa preocupação de perder espaço.

AE – Então é um erro falar que você está abrindo mão da seleção brasileira em troca da independência financeira?

Diego Tardelli – Claro. Justo agora que eu tenho oportunidade de me firmar na seleção eu vou me esconder? Não queria ser esquecido, por isso liguei e perguntei se essa transferência iria me atrapalhar. Eles falaram que as viagens podem ser um problema, por causa do fuso horário. Isso é o de menos.

AE – Quem falou isso? E dá para acreditar nessa promessa?

Diego Tardelli – Prefiro não falar. Bom, espero que o que me foi falado não seja da boca para fora, né? Só que eu também preciso ter consciência que terei de fazer a minha parte por lá. Se eu não jogar bem, não serei convocado. Algo que pode me ajudar é a chegada do Carlinhos Neves ao clube (o preparador físico também deixou o Atlético e foi para o clube chinês). Foi nas mãos dele que vivi meus melhores momentos fisicamente. Se Deus quiser, eu estarei na Copa em 2018. Estou bastante empolgado e confiante na convocação. O primeiro passo é ser chamado para a Copa América e as Eliminatórias.

AE – Como vê a disputa por uma vaga no ataque? Tem muitos concorrentes ou a briga está mais tranquila do que o esperado?

Diego Tardelli – O futebol da seleção mudou um pouco com a chegada do Dunga e se tornou mais favorável para mim, pelas minhas características. Não sou referência, como o Fred, por exemplo. Sou um jogador que se movimenta bastante e o Dunga gosta disso, pois foge do tradicional camisa 9. E tem grandes jogadores que estão na seleção e disputam a vaga comigo. O Robinho é um grande concorrente. O Luiz Adriano também está muito bem. Mas estou na briga e vou lutar para conseguir o meu espaço.

AE – Ainda pensa em jogar no futebol europeu?

Diego Tardelli – Enquanto eu estiver em atividade, se aparecer uma proposta, posso jogar sim. A seleção brasileira abre as portas e, por isso, é importante continuar jogando nela.

AE – Você trabalhou com o Cuca no São Paulo, Flamengo, Atlético Mineiro e agora ele te levou para o Shandong Luneng. É diferente trabalhar com ele?

Diego Tardelli – Tive três estágios com ele. No São Paulo, era jovem, faltou amadurecimento e acabei até sendo afastado. No Flamengo, ficamos pouco tempo juntos e voltei a trabalhar com ele no Atlético. Nesse ponto, eu estava mais maduro e as coisas deram certo. Conversamos um dia e nos acertamos, tanto que tivemos sucesso na Libertadores de 2013. Ele sempre me deixou à vontade. Acho que nosso trabalho é bem feito, por isso ele gosta tanto de mim.

AE – Você diz que faltou amadurecimento. Talvez se tivesse sido mais regrado, teria uma carreira diferente?

Diego Tardelli – Não sei, mas está tudo dentro da normalidade. Com 17 ou 18 anos, as coisas aconteceram na hora que tinha de acontecer. Foi tudo muito rápido. Foi bom, serviu de lição para mim, até que resolvi jogar bola. Aproveitei bem a adolescência. Normal, não me arrependo.

AE – Por que tantos brasileiros em alta indo para mercados alternativos como a China?

Diego Tardelli – Parece que o futebol europeu não está mais acreditando nos brasileiros. Não sei, talvez pela Copa que fizemos. Eu mesmo esperava por uma boa proposta da Europa e ela não veio. Estão apostando em jovens promessas ou jogadores de outros países.

AE – Do que vai sentir falta?

Diego Tardelli – Da torcida, do estádio sempre cheio, da rivalidade, do equilíbrio do Campeonato Brasileiro e da torcida do Atlético. E tem também a comida brasileira. Na verdade, isso é o que eu vou mais sentir falta. Por isso estou levando uma cozinheira mineira que trabalha para mim. A Bia vai ter de cozinhar para a gente.

AE – Não vai nem experimentar grilos, gafanhotos e outras comidas exóticas?

Diego Tardelli – Isso não vai me pegar, não. No meio do ano eu fiquei uns dias lá, com o Atlético, já fui com a seleção e deu para ter uma ideia. Estou fora (risos). Por isso estou levando a Bia. Ela vai fazer arroz e feijão todo dia e vai ser o “cara” lá em casa.

AE – O Ricardo Goulart está indo para o Guangzhou Evergrande, também da China. Continuará a rivalidade?

Diego Tardelli – Começa uma nova rivalidade, mas tudo na amizade, como era aqui. Já brinquei com ele uma vez e não sei se ele gostou, mas é um cara que tenho uma grande amizade e será legal enfrentá-lo novamente.

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