Lendas vivas

Ex-técnico Borba Filho fala sobre o seu jogo inesquecível

O jogo foi na tarde de 11 de novembro de 1984, no Alto da Glória, um domingo, primeira rodada do quadrangular decisivo do Campeonato Paranaense, que só reunia clubes da Capital: na preliminar, Pinheiros x Coritiba e na partida principal, Colorado x Atlético. No dia seguinte, o que mais se falava era do jogo preliminar. O Pinheiros atropelou o Coritiba. E de um jeito épico. A Tribuna registrou que a partida para a torcida Coxa foi um choque. “Na arquibancada, a galera alviverde estava apavorada vendo em campo o Pinheiros passar por cima do Coritiba, impiedosamente, com tanta facilidade, que após o terceiro gol, marcado por Valter, o técnico Borba Filho simplesmente saiu de campo e pediu para o juiz Paulo Guntowski acabar com a partida porque o Coxa estava liquidado”, resumia o jornal. O presidente do Coritiba, Evangelino Costa Neves, não gostou da cena e achou aquilo uma tremenda desfeita.

Este jogo Borba Filho define como inesquecível em sua carreira. “Foi inesquecível porque nós estávamos perdendo por 1×0 e no segundo tempo eu resolvi mexer no time. E as alterações deram certo. Aos 29 minutos, empatamos, aos 34 fizemos o segundo e depois eu chamei o Valter e ele aos 40 minutos fez o terceiro. Então eu peguei a toalha e sai de campo e fui para o túnel. Os repórteres pensaram que eu fui expulso, mas eu disse que não tinha mais nada para fazer ali, que o jogo estava decidido. Depois, o Neves me disse que eu era um FDP porque eu fiz desfeita para o torcedor do Coxa. Eu fiz isto instintivamente e estava defendendo o meu time”, conta Borba. Ele conta que os jogadores olharam para o banco e ficaram perplexos, sem saber o que estava acontecendo e querendo saber onde ele foi.

“Perto da Vila Olímpica tinha um bar chamado Bar do Buchinho, que pertencia ao cunhado e ao sogro do Luís Carlos Pinto de Abreu e era o lugar em que eu permitia que os jogadores tomassem uma cerveja, porque eu tinha controle da coisa. O bar tinha este nome porque servia buchinho com pão e vinho. Eu disse para os jogadores: eu não vou proibir vocês de vir aqui. Eu fui para lá. Quando o jogo acabou, alguns jogadores disseram que eu podia ter ido para o Bar do Buchinho. Eles foram e me encontraram lá e nós comemoramos a vitória”, conta Borba. Não apenas comemoraram a vitória, como a liderança do quadrangular porque Colorado e Atlético não saíram de um empate sem gols.

Além disso, vitória de virada de 3×1 em cima do Coritiba num quadrangular decisivo não era todo dia que acontecia. O resultado e até o gesto de Borba Filho deram tanta moral para o Pinheiros, que ele foi atropelando até o fim do torneio e acabou campeão. No entanto, aquela arrancada fulminante do Pinheiros na reta final, começou algumas rodadas antes, no turno de classificação, quando o presidente do Pinheiros, Erton Coelho Queiroz, mesmo enfrentando resistências internas, afastou o técnico Dreyer e chamou Borba Filho para comandar a caminhada rumo ao título. Um título que estava programado no início da temporada para ser do Colorado, que montou um time cheio de estrelas e foi chamado de Seleboca, mas que acabou ficando em terceiro na competição. O Coritiba venceu o primeiro turno, o Colorado venceu o segundo e o Pinheiros venceu o terceiro, garantindo-se no quadrangular final. O Atlético entrou por índice técnico. O ponto de inflexão do Pinheiros no campeonato ocorreu no dia 11 de novembro, quando foi a Bandeirante e precisava de um empate no estádio Comendador Serafim Meneguel para garantir o título do turno e vaga no quadrangular. O temor do Leão era repetir o ano anterior, quando deixou escapar o título numa cobrança de pênaltis. Mas, desta vez, não aconteceu nada disso.

O União Bandeirante saiu na frente, mas o Pinheiros empatou com belo gol de cabeça feito por Camargo. A jogada foi assim: aos 27 minutos do segundo tempo, Dionísio cruzou da esquerda, Valter pegou de primeira e deu uma bicicleta. A bola bateu no travessão e voltou para Camargo, que, de cabeça, mandou para o fundo das redes. Depois daquele jogo, Borba Filho avisou: “A meta agora é chegar ao título”. Quem ouvi,u pensou que fosse conversa de treinador para animar os boleiros. Mas quem esperou para conferir viu que não foi bem assim. Na reta final daquele ano, como diria a Tribuna em 18 de novembro: “O Leão está demais”. E estava mesmo.

Identidade

Borba Filho se chama Ronaldo Augusto Borba, nascido em Curitiba em 3 de dezembro de 1938. Morou na infância em Guarapuava, depois foi para o Rio e passou boa parte da juventude em Maringá.