Lendas vivas

Marquinhos, o salvador da pátria do time do Pinheiros

Apenas 325 pagantes compareceram naquela quarta-feira à tarde na Vila Olímpica, dia 24 de outubro de 1984, para testemunhar o jogo entre Pinheiros e Matsubara, válido pelo terceiro turno do Campeonato Paranaense. O jogo estava duro dentro de campo para quem jogava e para quem via na arquibancada – duro de ver. O Pinheiros era superior, mas não traduzia superioridade em gol. O técnico Borba Filho tentava tudo na beira do campo. Por volta dos 25 minutos do segundo tempo, ele tirou o ponta-direita Camargo, que começou bem e caiu de rendimento, para colocar o ponta-esquerda Marquinhos na ponta-direita. Camargo saiu bravo, gesticulando contra o técnico. Aos 44 minutos, os poucos torcedores começaram a ir embora e o juiz Ivo Antônio Rodrigues olhava o relógio, doidinho para apitar o fim da partida.

Foi aí que Marinho trabalhou a bola com Ferreira no meio campo e lançou para Marquinhos na ponta-direita. Como ele era canhoto, ele cortou para o meio e arriscou uma bomba com a esquerda, que foi parar no fundo das redes do goleiro Haroldo. Ninguém mais acreditava na vitória, nem os poucos torcedores. Por isso o gol foi muito comemorado. “Fiz o gol que mudou a minha vida e também a vida do Pinheiros no campeonato. Porque o time entrou no campeonato para cumprir tabela, se falava muito no Seleboca, no Atlético e no Coritiba, mas no final, quando eles perceberam, a faixa de campeão estava em nosso peito”, diz Marquinhos. No dia seguinte, a Tribuna do Paraná deu de manchete em sua página esportiva: “Marquinhos salva a pátria!”.

O curioso é que antes do jogo, Marquinhos até pensou em parar com o futebol profissional e arrumar emprego regular. “Eu estudava Economia. Aliás, eu acabei me formando em Economia, e pensei em largar o futebol porque não tinha chances. Fiz dois jogos como profissional e depois voltei para a estaca zero”, conta ele. Então ele foi fazer um teste no Bamerindus. “Eles me pediram para fazer teste de datilografia”, conta ele, que acrescenta ser detentor do famoso “Diploma de Datilógrafo”, como muitos jovens daquele tempo. Marquinhos fez o teste de datilografia. “A exigência eram 130 toques por minuto e eu fiz 126 toques por minuto. O cara falou para eu treinar mais um pouco, que a vaga já era minha. Eu devia voltar em quinze dias para assumir o emprego”, diz ele.

Nesta altura do campeonato, ele treinava mais datilografia que futebol. Antes de vencer o prazo para voltar ao Bamerindus, surgiu a oportunidade para ser relacionado para o jogo contra o Matsubara. E, surpresa, ele foi para o jogo. Foi e marcou o gol. “Aí o Carlinhos, que era ponta-esquerda, sofreu um acidente de automóvel no centro da cidade, perto da Rua Marechal Deodoro e ficou muito mal. E foi assim que eu virei titular”, diz ele. “Até ali, era tudo incerto, às vezes eu treinava no time principal, às vezes jogava pelo juvenil, às vezes era relacionado. Mas, depois desta partida e deste gol, eu garanti lugar no time principal e no final do ano nós fomos campeões”, conta Marquinhos. No final do ano, na foto do time campeão, Marquinho estava lá na ponta-esquerda, entre os titulares e campeões de 1984.

Foi o primeiro título do Pinheiros que nos anos 80 esteve sempre entre os primeiros do futebol paranaense, com dois títulos e três vice-campeonatos. O título de 1984 teve um gostinho ainda maior, porque o grande bicho-papão para a temporada seria o Colorado, que contratou um monte de jogadores famosos que justificaram o apelido de Seleboca. No segundo título do Pinheiros, Marquinhos também estava na foto. “Em 1987, o Pinheiros tinha um time arrumadinho, mais experiente. E Marinho comandava em campo. Serginho estava com a gente”, diz ele. Mas aquele título foi conquistado de uma forma que até hoje ninguém esquece. O leitor pode conferir na próxima matéria: “Deu a louca no mundo!”.

O salvador da pátria

Naquele dia Marquinhos garantiu lugar entre os titulares, foi campeão e fez parte do melhor momento do Pinheiros

Lembrança

“Até ali, era tudo incerto, às vezes eu treinava no time princip,al, às vezes jogava pelo juvenil, às vezes era relacionado. Mas depois desta partida e deste gol, eu garanti lugar no time principal e no final do ano fomos campeões”.

Paraná Online no Google Plus

Paraná Online no Facebook