Um lance eterno

Final de 1960 foi marcada pelo encontro de Lezcano e Bequinha

O primeiro jogo entre Mandaguari e Coritiba foi disputado no estádio Belfort Duarte no dia 2 de abril de 1961. O atacante Oda disse na véspera: “É temeroso fazer qualquer prognóstico a respeito da contenda”. A Tribuna deu de manchete: “Amanhã a primeira batalha pela hegemonia do futebol paranaense”. No dia da partida, o atacante Felix Lezcano era o mais reservado no vestiário do Mandaguari. Ele ficou sentado no assoalho em silêncio a maior parte do tempo. Em campo o paraguaio foi surpreendido pela marcação implacável do zagueiro Nico, que não deu um minuto de folga para o habilidoso dianteiro do Leão do Norte. O Coxa venceu o primeiro jogo no Belfort Duarte por 2×0, gols de Duílio, e deu passo importante para garantir o título estadual da temporada.

O resultado adverso, no entanto, não assustou os jogadores do Mandaguari que acreditavam poder revertê-lo no segundo jogo. Eles acreditavam ser possível até golear o Coxa em Mandaguari. Afinal, tinham perdido para o Comercial na decisão do título da região e ensacaram o adversário nos dois jogos de volta. Oda, que tinha jogado com a camisa do adversário antes de ser contratado pelo Coxa, mais uma vez advertiu os colegas: “Jogar em Mandaguari é fogo”, disse. O segundo jogo foi disputado no dia 9. Mas as coisas não davam certo para o Mandaguari, que dominava a partida, mas não transformava superioridade em gol. O Coritiba não apenas segurava o adversário como conseguiu surpreendê-lo com um gol de Miltinho logo no começo da partida, complicando ainda mais a situação do Leão do Norte. Os jogadores do Mandaguari vieram para o segundo tempo com os nervos à flor da pele. O time não estava tranquilo e agora brigava contra o relógio.

Edilson Pereira

Foi então que aconteceu a jogada que ficou mais falada que o próprio título e que envolveu a decisão numa atmosfera de tensão e revolta por parte dos jogadores e torcedores coritibanos. A jogada começou quando o ponteiro Ivo lançou da direita, entre Nico e Carazzai, para Felix Lezcano, que não conseguiu controlar e a bola sobrou para Bequinha que de pé esquerdo cutucou para fora. Lezcano foi forte para recuperar a bola e acertou o pé do adversário que caiu e berrou de dor. O diálogo que seguiu ao lance foi relatado pelos jornais no dia seguinte. Bequinha disse: “Felix, veja o que você fez? Você me quebrou a perna!”. Lescano respondeu: “Bequinha, eu sinto mais esta contusão que você!”. Felix Lezcano começou a chorar. Bequinha fraturou o terço interior da tíbia e o perônio.

Jogadores do Coxa caíram em prantos. A decisão virou comoção. Bequinha foi levado para o quarto 14 da Santa Casa de Mandaguari, onde ele passou por uma cirurgia. Naquele tempo não tinha os recursos de hoje da medicina. Perna quebrada era fim de carreira. E isto doía tanto quanto a pancada, embora Bequinha já fosse veterano. No entanto, contrariando os prognósticos da época, Bequinha se recuperou e ainda voltou a jogar futebol, auxiliado, ironicamente, por outro adversário, o técnico Zinder Lins, atleticano notório, que o ajudou com exercícios diários.

Depois do lance entre Lezcano e Bequinha, o segundo jogo pela decisão do título de 1960 continuou. E quando tudo parecia encaminhar para a conquista do título pelo Coxa, Castro chutou para o fundo das redes de Hamilton e arrancou o empate, forçando o terceiro jogo que seria disputado de novo em Curitiba, mas desta vez na Vila Capanema. No entanto, o incidente entre Lezcano e Bequinha deu a esta terceira partida uma atmosfera pesada de vingança.

O técnico Alemãozinho, do Mandaguari, achou injusta a terceira partida ser disputada em Curitiba. Ele a queria em cidade neutra, como Londrina. Achava que em Curitiba, al&,eacute;m de nova viagem desgastante, iria encontrar um ambiente hostil depois do que ocorreu a Bequinha. Alemãozinho estava certo. O Mandaguari sucumbiu. O Coxa ganhou com facilidade na noite de 12 de abril de 1961, gols de Oda, que ironicamente saiu das fileiras do adversário, aos 32 e 43 do primeiro tempo. Miltinho e Duílio ampliaram aos 2 e 27 do segundo tempo. O Coritiba comemorou. Mas ficou oito anos na fila depois daquele dia. E o Mandaguari, apesar de continuar sendo por mais alguns anos um time aguerrido, nunca mais chegou entre os primeiros.

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