Treze horas de drama

Velho atacante sofreu o maior susto de sua vida em 2013

Era manhã de domingo. O técnico José Roberto Marques acompanhava o jogo no estádio municipal de Serra Negra entre veteranos locais e um adversário da região. Aquele campo de futebol de Serra Negra teve dias de glória no passado: inaugurado em abril de 1962, foi local de treino da Seleção Brasileira antes das Copas do Mundo de 1962 e 1966. O jogo daquele domingo terminou e José Roberto sentiu algo estranho enquanto conversava com os amigos: “Eu olhei e não enxergava quatro metros adiante. Além de não enxergar, eu não sentia nada. Quero dizer, não sentia dor. Apenas pequena vertigem”. Ele foi para casa. “À tarde tinha jogo Santos e Corinthians na televisão e eu queria ver”, disse ele. Ele foi ver o jogo e perdeu os sentidos. “Eu fiquei treze horas desacordado, com a TV ligada. A sorte foi um amigo passar em casa, ver o barulho de televisão e me encontrar desmaiado”, disse ele.

Arquivo
Zé Roberto em uma das jornadas de gala pelo Coritiba nos anos 1970.

Foi assim que aconteceu o acidente vascular cerebral (AVC) em José Roberto Marques, o Zé Roberto. Ele diz que foi domingo, mas não recorda com exatidão a data. Se realmente foi um domingo e durante jogo entre os dois times, ele sofreu AVC na tarde de 27 de outubro de 2013, enquanto na televisão as duas tradicionais equipes alvinegras comemoravam os 100 anos do clássico entre elas. Santos e Corinthians jogaram na Fonte Luminosa, em Araraquara, partida válida pela 31ª rodada do Brasileiro. Zé Roberto ainda tem dificuldades de lembrar com exatidão do episódio. Às vezes ele cita que foi há alguns meses. Depois diz que foi no fim do ano passado e chegou a citar o mês de agosto. No entanto, o jogo entre Santos e Corinthians em agosto foi disputado numa quarta-feira. De qualquer forma, os dois jogos terminaram empatados em um gol e durante um deles Zé Roberto quase morreu.

Agora, de uma coisa ele não esquece: levou um grande susto e se salvou por pouco. Palavras da médica que o atendeu. Depois que seu amigo o encontrou, ele foi transportado para o Hospital Ouro Verde, em Campinas, distante 75 quilômetros a sudeste de Serra Negra. “Eu perdi os sentidos e quando acordei muitas horas depois estava no hospital. O meu lado esquerdo estava paralisado. Fiquei sabendo que tive AVC. A médica disse que pelo tempo que fiquei desacordado e sem atendimento, aquela sequela (o lado esquerdo paralisado) era uma mixaria”, conta Zé Roberto, com expressão de susto no rosto, apesar de o episódio ter ocorrido há vários meses. “Fiquei três dias internado. Hoje estou levando uma vida normal. Faço caminhada todos os dias, como de tudo, graças a Deus”, diz ele. Ele movimenta o braço esquerdo com dificuldade, o que não é quase nada perto do que poderiam ter sido, lesões sérias e irreversíveis de caráter permanente.

E, assim, depois de alguns meses em recuperação, ele voltou à sua rotina. Continua no comando do time de veteranos da cidade, está aposentado e sempre que é possível, faz visita aos amigos do Paraná. Entre eles, Tião Abatiá, que mora em Ribeirão do Pinhal, no Norte do Estado. “Eu vou muito para a casa do Tião. Ele e a Iris são muito amigos meus. O Cláudio Marques e o Aladim também. Tenho contato com eles. Sempre que tenho uma folga aqui, eu procuro fazer uma visita aos amigos”, diz ele, que é divorciado e mora só em Serra Negra. Mas é querido na cidade. Na segunda semana de agosto, Zé Roberto foi convidado a ir a Câmara Municipal para ser informado de que os vereadores querem conceder a ele o título de Cidadão Serrano Honorário.

Cadê o dinheiro?

“Até hoje eu não sei por quanto eu fui vendido do Coritiba para o Corinthians. Eu não recebi até hoje os meus 15%. Acho que eu só vou saber o que aconteceu, quando eu for para o céu. Aí eu vou poder conversar com quem está lá”.

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