Dirceu começou cedo no futebol, mas morreu prematuramente

O paranaense Dirceu José Guimarães, nascido em Curitiba no dia 15 de junho de 1952, foi prematuro no futebol: a sua estreia como profissional foi no dia 13 de abril de 1970 com apenas 17 anos. E numa partida internacional. Ele entrou durante a partida com a camisa do Coritiba contra o CSKA da Bulgária, que três dias antes enfrentara o Grêmio Esportivo Maringá, no Norte do Paraná. A partida terminou empatada sem gols. Ela teve esta simbologia: apresentou para o mundo aquele que viria a ser um dos jogadores mais versáteis, técnicos e esforçados do futebol brasileiro nos anos 70 e 80. Um jogador que veio a fazer carreira internacional com a camisa da seleção brasileira, de equipes do Rio ou da Espanha, Itália e México.

Dirceu não era alto. Tinha 1m72. Mas tinha quatro características que encantavam os técnicos, incluindo o primeiro que teve como profissional, Aymoré Moreira, que comandou a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1962, no bicampeonato no Chile. Dirceu tinha chute forte, driblava bem, era habilidoso e tinha passe preciso. Além disso, era disciplinado taticamente. E não bastasse, ele tinha fôlego de gato. Corria o tempo todo e o campo inteiro. Como a função original era ponta-esquerda, com a grande resistência que tinha, ele recuava para compor o meio-campo, num quadrado – vindo a ser considerado também como um armador no meio de campo. Foi um dos primeiros jogadores brasileiros a praticar um futebol moderno.

O técnico Zagallo quando o viu jogar gostou porque era o estilo de futebol que o próprio Zagallo praticava. O técnico acabou emprestando a Dirceu o apelido que tinha: Formiguinha. Para ter ideia da resistência de Dirceu, ainda no Coritiba, ele chamava atenção pelo desempenho no Teste de Cooper, novidade introduzida no preparo físico dos jogadores no começo dos anos 70. Dirceu era o melhor de todos. Com estas virtudes, ele ficou pouco tempo no Coritiba, duas temporadas, 1971 e 1972. No começo de 1973 já estava indo para o Botafogo do Rio de Janeiro, onde ficou três anos, disputou 52 partidas e fez nove gols.

Em seguida foi para o Fluminense, onde ficou uma temporada (1976), disputou 22 partidas e fez dois gols. No time das Laranjeiras, ele veio a compor um dos melhores quadros do tricolor com Carlos Alberto Torres, Paulo César Caju, Edinho, Rodrigues Neto, Gil e Rivellino. Foi campeão carioca e levou o Flu às semifinais do Campeonato Brasileiro de 1976, quando o tricolor foi derrotado pelo Corinthians nos pênaltis, na partida que ficou conhecida como a invasão corintiana do Maracanã. No ano seguinte, estava no Vasco, onde ficou uma temporada e meia (1977 e 1978), disputou 25 partidas e fez dois gols. Em 1978 ele foi para o América do México onde ficou uma temporada.

Em 1979, Dirceu vai para o futebol europeu. Ele ficou três temporadas, até 1982, no Atlético de Madri, clube por onde fez o maior número de partidas (84) e também o maior número de gols (18). De 1982 a 1987, ele passou por vários clubes italianos: Hellas Verona, Napoli, Ascoli, Como e Avelino. Em 1988, retornou para o Vasco da Gama e sua carreira começou a entrar em declínio. Mas como tinha fôlego de gato, ele foi jogando bola até 1995, quando encerrou a carreira no Atlético Yucatán, do México, e voltou a morar no Brasil – no Rio de Janeiro.

Nesse meio tempo ele ainda jogou futebol de salão nos clubes italianos Harvey Bologna e no Giampaoli Ancona. É possível dizer que Dirceu jogou futebol até morrer. Porque era o que estava fazendo minutos de morrer na madrugada de 15 de setembro de 1995, num acidente de automóvel no Rio de Janeiro – seu Puma preto bateu num Monza em um dos cruzamentos da Avenida das Américas, na Barra da Tijuca. Ele morreu em decorrência de fratura no crânio. Junto com ele morreu seu amigo italiano Pasquale Lazio. Dirceu retornava de uma partida de futebol com os amigos na Barra da Tijuca, partidas que fazia para não perder a forma. Estava com 43 anos. E pelo vigor físico e idade, pode-se dizer que até a sua morte foi prematura.

Capitão do Boa Vi,sta

A seleção brasileira em várias ocasiões foi o ponto alto da carreira do garoto de um time do bairro Boa Vista, que encantava a região por praticar um futebol de qualidade, chegando a vencer equipes adultas. Dirceu era o capitão do time.

‘Fica frio, guri!’

A crença brasileira de que a Argentina não conseguiria fazer o resultado de 4×0 que a levaria às finais da Copa de 1978 era tanta que depois do jogo em que o Brasil venceu a Polônia por 3×1, o técnico Cláudio Coutinho disse para o goleiro Leão: ‘Boa, garoto, 3×1 foi o suficiente. A Argentina não faz quatro gols no Peru. O Peru não tomou quatro de ninguém na Copa e não toma hoje’. O Peru tomou seis. E nunca mais assustou ninguém numa Copa do Mundo. Aquele resultado em 1978 foi estranho.
E desmoralizante.

Nome de estádio

Com quase 40 anos, entre 1989 e 1991, Dirceu vive um momento emocionante no modesto time do Ebolitana, pelo qual fez 39 partidas e 14 gols. O time da cidade de Eboli, província italiana de Salerno, disputava a Série D do Campeonato Italiano. Com o ex-companheiro de Fluminense, Rubens Galaxe, no comando do time, Dirceu dá novo ânimo para a equipe. A fanática torcida começa a sonhar com o acesso para a Série C, que acabou não acontecendo. O empenho de Dirceu foi tão grande que o jogador acabou recompensado com uma tocante homenagem: o clube italiano batizou a sua praça esportiva com o nome de Stadio Comunale Dirceu José Guimarães.

Voltar ao topo