Ontem, hoje e Amanhã

Londrina e Maringá fazem final que pode entrar para a história

Maringá Futebol Clube e Londrina Esporte Clube decidem amanhã, às 16h, no Willie Davids, em Maringá, o Campeonato Paranaense de 2014. Fazendo uma viagem no tempo, cinquenta anos passados, o Grêmio Esportivo Maringá tinha acabado de empatar no dia 29 de março de 1964, um domingo, com o Clube Atlético Ferroviário, em plena Vila Capanema por dois gols e sagrado campeão paranaense de 1963. Sim, o título de um ano foi decidido no começo do outro porque os campeonatos estaduais eram longos – e importantes.

No caso paranaense, havia turno e returno em três regiões – sul, norte novo e norte velho. Os campeões de cada região disputavam um triangular com turno e returno e o vencedor do triangular era o campeão do estado, com direito a disputar a Taça Brasil, que era o equivalente em importância ao Campeonato Brasileiro e que indicava o representante do País para a única vaga para a Taça Libertadores. A Taça Brasil era disputada num formato mata-mata mais simplificado e rápido que a atual Copa do Brasil. Porque o grande calendário eram os campeonatos estaduais.

Há 50 anos, os grandes times da capital já tinham em suas salas de troféus muitos títulos – mas enfrentavam pela primeira vez em sua a forte concorrência dos clubes do interior, que tinham muito dinheiro, principalmente em decorrência da colonização do Norte do Paraná, ancorada numa forte produção cafeeira. Claro que os times de Ponta Grossa sempre foram fortes rivais, mas não com a intensidade que acontecia naquele final de anos 50 e começo de anos 60. Mesmo assim, aquele título decidido em Vila Capanema estava sendo comemorado pelo Boca Negra até o fim do segundo tempo, quando um cruzamento na área não foi interceptado pela defesa e o centroavante Garoto decidiu a parada. O Boca lamentou muito porque o doce estava na boca.

No ano anterior, o campeão paranaense fora o Londrina com um time formidável em cima do Coritiba. Incontestável. O Grêmio de Maringá seria bicampeão e por pouco não foi tricampeão em cima do Ferroviário que vingou-se da derrota sofrida em 1964, e reconquistou para a capital o título de 1965. A hegemonia do futebol voltava para o Sul depois de vários anos no norte do Estado. Parecia que o equilíbrio regional no futebol era uma realidade para os anos seguinte. O norte construía estádios, tinha times fortes e torcidas fanáticas. Mas isto não foi o suficiente para ditar uma nova ordem. O Coritiba renasceu e o Atlético robusteceu.

Ocorreu a predominância de Curitiba, com esta dupla e o glorioso Ferroviário se juntou ao Palestra e Britânia, dando origem ao Colorado que também não vingou e junto com o Pinheiros, deu origem ao Paraná Clube que deu uma arrancada nos anos 90 e perdeu o gás dez anos depois. O Tricolor está aí tentando sair da Série B, mas juntou muitos canecos na sua sala de troféus. No interior do estado o vazio era a cada ano uma realidade triste. O título que está sendo disputado é algo raro nas últimas décadas, depois dos anos 70, principalmente. O futebol brasileiro tem espaço mais nobre para cidades com tradição de Londrina e Maringá – afinal, sem desmerecer, Varginha que tem o Boa Esporte Clube na Série B, onde também está um time de Lucas do Rio Verde, o Luverdense, outro de Juazeiro do Norte, o Icasa, mais um de Itápolis, o Oeste, sem contar o Joinville e Chapecoense, os dois de Santa Catarina, além de Criciúma na Série A.

As duas cidades do Norte do Estado sequer estão na Série C – vão agora disputar a Série D. E já tiveram dias mais venturosos. Que para o bem do futebol paranaense, a decisão de amanhã não seja o último capítulo de uma velha história, mas o primeiro de uma nova, cheia de glórias e emoções. E, neste caso, seja sim uma partida histórica. Que vença o melhor – mas que os dois clubes e as duas cidades não se esque&ccedi,l;am de que tradição não se faz numa tarde de domingos apenas.