Você se lembra do Gralak, o becão matador?

Vinte e duas mil pessoas estavam no estádio do Morumbi no dia 11 de agosto de 1994 para conferir a decisão do título da Copa Bandeirantes entre Sport Club Corinthians Paulista e Santos Futebol Clube. Era uma competição promovida pela Federação Paulista de Futebol que dava ao vencedor o direito a uma vaga para disputar a Copa do Brasil de 1995. Embora o Timão tivesse vencido o primeiro jogo por 6 a 3, estava perdendo a partida por 1 a 0, gol marcado por Demétrius aos 8 minutos do primeiro tempo. Aos 21 minutos o zagueiro Gralak meteu uma patada na direção do gol santista, a bola entrou e ele empatou o jogo. Depois, o zagueiro ainda seria expulso, mas o gol que marcou garantiu o título da competição para o Corinthians, que ganhou um refresco das cobranças frequentes da torcida.

Aquele também foi o último título conquistado por aquele beque vigoroso, que chutava forte e fazia cruzamentos para área com precisão e fora revelado pelo Paraná Clube, de Curitiba. Apesar de ter conquistado o título, de ter marcado gols contra o Novohorizontino e Araçatuba pelo Campeonato Paulista e de o time ter chegado à final do campeonato contra o Palmeiras, Gralak acabou não ficando no Parque São Jorge. O xerife voltaria para Curitiba, desta vez para o Alto da Glória, para vestir a camisa do Coxa, rival do Paraná Clube. Mas ele tem boas recordações dos tempos de Corinthians. Ele fazia a alegria da torcida pelo chute que era um verdadeiro canhão, desviando, por vezes, as críticas em relação às suas atuações.

Um gol, contra o rival São Paulo, ele sempre recorda. O Corinthians fez uma excursão rápida pelo Japão, onde disputou dois amistosos: venceu o AS Flugels por 2 a 0, em Okinawa, e bateu o Hiratsuka Bellmare, em Tóquio, por 7 a 4. ‘Ficamos duas semanas no Japão e, quando voltamos, pegamos o São Paulo pelo Paulistão. Fomos direto do aeroporto para o Parque São Jorge e nos concentramos. A imprensa dizia que eles ganhariam fácil. Saímos perdendo por 2 a 0, mas fui feliz e fiz o primeiro gol. Depois, o Tupãzinho empatou. Recebemos um bicho bom daquela vez’, contou ele mais tarde. O mais irônico da passagem de Gralak pelo Corinthians foi que o título da Copa Bandeirantes que ele ajudou a conquistar com o seu gol e que garantiu presença na Copa do Brasil do ano seguinte, foi um verdadeiro passaporte para novos tempos no Parque São Jorge.

O Timão ganhou a Copa do Brasil e disputaria a Copa Libertadores de 1996, após cinco anos ausente. O furacão que passou pelo Parque São Jorge e que motivou a saída do zagueiro foi a final contra o Palmeiras, vencida pelo adversário com uma equipe fortalecida pelo dinheiro da Parmalat que contratava todo jogador de nível de Seleção e colocava no Parque Antártica. Para o ano seguinte, o Corinthians contratou o técnico Mário Sérgio para o comando da equipe no lugar de Jair Pereira e ele mudou tudo. ‘Perdemos a final para o Palmeiras e tudo mudou’, diz Gralak. Mais uma ironia na carreira do zagueiro. Ele foi contratado no começo de 1994 junto ao Paraná Clube justamente a pedido de Mário Sérgio, que era então o técnico corintiano.

No entanto, em sua volta ao comando da equipe, Mário Sérgio “nem me relacionou para alguns jogos”. Aí veio o convite do Coritiba. Gralak aceitou e teve dois anos bons no Coxa. Conquistou o acesso para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, em 1995, como vice-campeão. O título foi conquistado pelo Atlético Paranaense.

Ele caiu fora antes do terremoto

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Depois do Corinthians, Gralak voltou a Curitiba, para jogar no Coxa. Gralak jogou dois anos no Coritiba, 95 e 96 e depois foi para o Bordeaux, da França, onde ficou duas temporadas. Do time francês ele foi para o Istanbulspor, da Turquia, onde ficou dois anos. Depois d,isso, ele machucou o joelho e começou a enfrentar problemas com a diretoria do clube turco que atrasava salários e a punir jogadores. Gralak deixou Istambul uma semana antes do Sismo de Izmit, que em 19 de outubro de 1999 destruiu a parte noroeste da Turquia e deixou um saldo de 17.127 mortos, além de 43.959 feridos. Istambul, a cidade em que Gralak morava teve estragos significativos e aproximadamente mil mortos. “A casa do Taffarel que era uma casa grande e bacana ficou destruída. Ele pegou a mulher Andrea e os filhos, Catherine, 6, e Cláudio André, 4, e foram para a sede do clube, onde ficaram alojados na piscina do clube”, diz Gralak. Taffarel jogava no Galatasaray.

Quando a situação entre jogadores e diretoria no Istanbulspor se deteriorou, a diretoria do time tirou o carro de Gralak. Aquilo complicou em muito a vida do jogador. “Eu cheguei na garagem para pegar o carro e ele não estava lá. Perguntei para o porteiro e através de gestos ele disse que o pessoal do time levou o carro. Aí eu tive que andar de táxi. Mas o problema não era andar de táxi. O problema era que os curdos estavam explodindo os táxis da cidade, como forma de terrorismo, porque o governo prendeu um líder curdo que eles admiravam. E eu ficava preocupado em entrar num táxi e voar pelos ares. O risco era muito grande. Para você ter uma ideia, um dia um táxi explodiu no estacionamento do nosso clube. Andar de táxi era muito perigoso. Este negócio também contribuiu para eu ir embora da Turquia”, diz Gralak. E quando ele deixou a Turquia, soube da história do terremoto. Ele não tinha nascido para ficar no país.