Lenda Viva

Boleslau Sliviany, o Boluca, teve carreira marcada pelo 14

‘E aí meu guri?’ O velho Boluca, também conhecido pelo nome de batismo de Boleslau Sliviany, continua o mesmo aos 82 anos de idade. Em sua casa no Juvevê ele convida o repórter para uma conversa num pequeno jardim, com uma mesa de metal com tampão de vidro e quatro cadeiras. Sobre a mesa ele espalha fotos do tempo em que foi jogador de futebol, atuando pelo Juventus, depois Atlético Paranaense e finalmente pelo Palestra Itália. Uma carreira marcada pelo número 14: ele começou no profissionalismo aos 14 anos, jogou por 14 anos e marcou 14 gols. Para cada um destes números ele tem uma explicação: ‘Eu comecei muito cedo no Poty, depois fui para o Juventus porque era o time da colônia polonesa, em Curitiba. E a colônia polonesa era muito numerosa naquele tempo. Ela e a colônia italiana. E como meus pais eram imigrantes que vieram da Polônia, o mais natural seria jogar no Juventus’, diz ele.

O segundo número 14 também tem uma explicação: ‘Quando eu cheguei aos 28 anos eu tinha convite para ir jogar no Botafogo do Rio de Janeiro. Eu fiquei doido para ir, mas eu tinha me formado em Direito e passei num concurso para ser procurador da União junto ao Conselho Regional de Contabilidade. Era um bom salário e garantia para a minha vida. Meus pais disseram que a carreira de futebol tinha acabado e que era hora de eu pensar na vida. Eu não joguei mais nem em clubes amadores. Tinha sido campeão pelo Atlético Paranaense em 1958 e pendurei as chuteiras. Mas nos bastidores ainda continuei com o futebol, como assessor da Federação Paranaense de Futebol e durante 40 anos como colunista da Tribuna do Paraná’.

E quanto ao último 14, um número meio ralo de gols, ele também tem explicação: ‘Acontece que eu era meia de ligação, o que hoje é mais ou menos o volante. Eu jogava colado ao center half. E naquele tempo quem atacava, atacava; e quem defendia, defendia. As funções eram bem mais claras que hoje em dia. Por isso que eu marquei apenas 14 gols’. No entanto, o seu chute mais famoso não é nenhum destes 14 gols. O chute mais famoso de Boluca aconteceu num jogo pelo Atlético Paranaense, para onde ele foi depois de deixar o Juventus. Boluca recebeu a bola na entrada da grande área, acertou um petardo que foi se encaixar num Pinheiro que havia num bosque no estádio Joaquim Américo. O pinheiro morreu e Boluca foi acusado de assassinar a árvore com seu potente e descalibrado petardo.

‘Falaram por anos deste chute. Só pararam de falar do meu chute, quando o Atlético construiu a nova Arena, há coisa de dez anos. Às vezes eu estava ouvindo um jogo do Atlético pelo rádio e o locutor dizia: e a bola foi parar lá no esqueleto do Pinheiro que o Boluca arregaçou’, lembra ele hoje com um sorriso maroto. ‘O futebol mudou uma barbaridade, meu guri’, diz Boluca. E mudou mesmo. Poucos hoje, por exemplo, sabem onde ficava o glorioso estádio Franklin Delano Roosevelt, onde o Juventus mandava os seus jogos. Ficava na sede do União Juventus, que também não existe mais. E hoje é o Supermercados Angeloni, lá no Batel. E Boluca jogou naquele campo, naquele tempo, um outro tempo em que o futebol era romântico. Por tudo isto, Boluca é uma lenda viva, meu guri.