Lenda Viva

Raçudo, Sérgio Ramirez foi um gringo muito atrevido

Tudo bem. Ele não foi um Alcides Ghiggia, não era um Pedro Rocha e nem foi um Pablo Forlán. Mas quando se fala em confrontos entre Brasil e Uruguai ninguém se esquece de Sérgio Ramirez, lateral-direito que pertencia ao Huracan Buceo de Montevidéu e que deu o maior carreirão num jogador brasileiro em pleno Maracanã. Não foi tão humilhante quanto a derrota na Copa do Mundo em 1950, mas foi também inesquecível. Um episódio visto por milhares de torcedores no local da partida e por milhões pela televisão. O Brasil ganhou por 2 x 1, foi campeão de uma Taça do Atlântico (que reunia ainda Argentina e Paraguai, competição que depois daquele jogo desapareceu e ninguém sentiu saudades), mas o que ficou daquele dia para a história foi a cena do gringo abusado correndo atrás do atacante brasileiro, que disparou igual a um foguete para o vestiário, reação que deixou perplexa toda a torcida nacional.

Rivellino escapou de levar uns sopapos, escorregou na entrada do túnel e caiu de bunda no chão. Ralou-se todo. Ramirez ficou para trás e levou pancada de quem estava no banco brasileiro, incluindo massagista, policiais e até repórteres. Ele ficou cheio de hematomas e no hotel foi direto para o chuveiro. Quando a água quente caiu nas costas foi terrível: “Eu vi estrelas. Parecia que estava levando um choque”, recorda. Sem contar que antes do banho, ele ficou três horas na delegacia de polícia, para explicar a confusão no Maracanã. O consolo era que com os uruguaios (Revetria também foi para a delegacia) estava João Saldanha contando histórias da rivalidade entre as seleções dos dois países. Aquele episódio foi mais um numa longa tradição de muita rivalidade.

O mais fantástico neste episódio é que em vez de transformar Ramirez em vilão, num sujeito odiado pelos brasileiros, aconteceu o contrário. O uruguaio deu a volta por cima, um ano depois ele deixou o Huracan Buceo e era contratado pelo Flamengo, fez as pazes com Rivellino, foi campeão no Flamengo e depois passou por clubes diversos como o Independiente, da Argentina, (1979) e uma série de outros brasileiros como o Sport (1980), Ferroviário do Ceará (1981), foi campeão da Taça de Prata pelo bom time do Campo Grande do Rio de Janeiro, quando Vanderlei Luxemburgo começava a carreira de treinador (1982) e em 1983 veio para o Pinheiros de Curitiba, onde foi campeão no mesmo ano e onde ficou até encerrar a carreira de jogador em 1985, com apenas 33 anos.

E foi em Curitiba que Ramirez fixou residência e começou nos juniores do Pinheiros a sua segunda carreira no futebol, a de técnico, que desempenha até hoje. Como técnico, ele passou depois por uma série de clubes como Colorado, Iguaçu, Grêmio Maringá, Cascavel, Paraná, Coritiba, Atlético, Marcílio Dias, Criciúma, Santo André, Santa Cruz, Paysandu, Ceará, Inter de Limeira, Avaí e Joinville, entre outros. Atualmente ele é coordenador técnico do Joinville, na quarta passagem pelo clube catarinense. Um de seus hábitos folclóricos, como técnico, é o uso de um cone para falar com jogadores. “Quando tem muito público, o jogador não consegue ouvir a gente. Em alguns lugares eles não deixam, mas em outros passa sem perceber”, diz ele, que sabe que o recurso não é permitido pelas normas desportivas.

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