Lenda Viva

Zagueiro do Coritiba, Nico não tinha medo de cara feia

O zagueiro Nico ficou com a vaga de Fedato no Coritiba e na Seleção Paranaense depois que este pendurou as chuteiras no final dos anos 1950. Não era tarefa para qualquer um. E Nico não era qualquer um. Ele foi o último capitão do selecionado estadual (1962 e 1963) antes da extinção do Campeonato Brasileiro de Seleções, e se tornou conhecido por três características: era forte como touro, era leal como um cavalheiro e era uma parede na defesa. Tão eficiente quanto o muro de Berlim. Conhecido nos meios futebolísticos por Italiano, e chamado de Patrão pelos companheiros, Nico era tão robusto e forte que tinha o hábito de matar porcos com um soco na testa. E isto não é piada e nem lenda. Nico tinha um matadouro em Santa Felicidade, onde trabalhava antes de ir treinar. Quando entrava em campo para treinar, tinha acabado de matar uns dez porcos.

Claro que não era todo dia que ele matava porcos com socos na testa. Apenas nos dias de chuva, quando os bichos se escondiam. Então ele resolvia a parada no braço. Este caso serve para demonstrar uma coisa: Nico era muito forte. “Minha mão parecia uma pá. Às vezes chovia e os porcos ficavam escondidos no mangueirão e não queriam sair. Como precisava trabalhar, ficava de tocaia. Quando um porco aparecia, dava um tapa na testa e ele caia duro. Era só arrastar o bicho para ser sangrado”, diz.

Quem ouve a história pode pensar que Nico era um carniceiro na defesa. Nada. Ele não era técnico como Fedato, mas tinha outras virtudes que foram muito úteis. Uma delas era a velocidade com a qual se antecipava aos atacantes. Os narradores esportivos da época diziam que Nico tinha um arranque de Fórmula1. Não bastasse esta qualidade, era raçudo e valente. Com todo este elenco de virtudes, impunha respeito na área. No entanto, era leal: nunca mandou um adversário para fora do campo, por pancada.

Era um zagueiro que se tornou uma referência para os companheiros e que atraiu o respeito dos adversários. Ele mesmo confessa: “Eu jogava limpo, mas pegava pesado. Para o atacante era como bater numa parede. Mas nunca fui expulso. Tanto que ganhei o Belfort Duarte”, diz. Este prêmio foi criado em 16 de agosto de 1945 pelo extinto Conselho Nacional de Desportos e instituído em 1.º de janeiro de 1946, destinado a jogadores de futebol, amadores ou profissionais, que tivessem em suas respectivas carreiras pelo menos duzentos jogos oficiais sem sofrer expulsões ao longo de no mínimo dez anos. Esses jogadores recebiam diploma, medalha e carteira com direito a entrada gratuita em qualquer estádio de futebol no Brasil.

Nenhum gol

“Eu nunca marquei um gol por uma razão muito simples: naquele tempo, o zagueiro não podia passar do meio-campo. Era tudo muito organizado. Hoje é uma bagunça. Por isso que faz tempo que não vou ao campo ver um jogo”.

Partida inesquecível

“Na realidade foram três, em 1959, pela II Taça Brasil, contra o Grêmio de Porto Alegre. Primeiro enfrentamos o Paula Ramos, campeão catarinense. Empatamos em Florianópolis por 1 x 1 e aqui goleamos por 5 x 0. Aí foi a vez do Grêmio. Empatamos aqui por 1 x 1 e em Porto Alegre empatamos por 3 x 3. Joguei muito. Eu me lembro que sai carregado e que a minha cabeça ficou deste tamanho, inchada de tanta bola que tirei. Aí fomos para uma terceira partida. Novo empate por 1 x 1. Aí teve a prorrogação. Novo empate, agora sem gol. Como o regulamento não previa decisão nos pênaltis, a decisão foi no cara ou coroa. Pode uma coisa desta? O Grêmio ganhou na moeda. O nosso time saiu da competição sem perder”.