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Madureira ofuscou Pelé com um golaço na Vila

Aos 16 minutos do segundo tempo, Zé Roberto passou a bola para Madureira na meia-esquerda, fora da área. Madureira pegou a bola, driblou Carlos Alberto, Clodoaldo, Ramos Delgado e o goleiro Cláudio. Depois, chutou forte entre Joel e Rildo, que estavam defendendo o gol. Rildo ainda voou no ângulo para tentar pegar a bola com as mãos, como um goleiro. Não deu certo. O petardo entrou na gaveta. A torcida explodiu. E não era uma torcida qualquer. Eram 24.300 pessoas, até hoje recorde na Vila Capanema, para assistir Atlético 3 x 2 Santos. Gol de placa!

Esta cena aconteceu na tarde de um domingo em Curitiba, dia 8 de setembro de 1968. O Atlético disputava o torneio Roberto Gomes Pedrosa, embrião do atual Campeonato Brasileiro, com um timaço. Só cobra. Nível Seleção. Djalma Santos, Bellini, Zé Roberto, Gildo e outros. Jogadores do Coritiba e Ferroviário reforçavam o Rubro-Negro – único representante paranaense na disputa. Mas quem fez o mais belo gol da tarde, considerado um dos mais belos já vistos em estádios do Estado, foi Madureira.

A Tribuna deu no dia seguinte: “Maior do mundo caiu nos pés do Atlético”. Sobre o terceiro gol, o comentário foi este: “Madureira fez um gol que deu vontade de chorar”. Só o gol naquela partida seria suficiente para colocar Madureira entre os grandes craques do futebol paranaense. Morando hoje em Cabo Frio. e trabalhando no Rio de Janeiro, ele confessa: “Minha chegada no Ferroviário foi bombástica. Logo que estreei fiz três gols. Neste período, o Ferroviário tinha um time forte e era gostoso jogar contra o Atlético e o Coritiba, pois era uma guerra”, recorda.

No entanto, ele reconhece: “A verdade é que a partida mais marcante de minha carreira foi aquela de setembro de 1968, contra o Santos, com a camisa do Atlético. Até hoje falam daquele gol”. Embora grande ídolo até hoje dos velhos torcedores do Boca Negra, Madureira não foi campeão pelo time de Vila Capanema. Ele foi bicampeão por Grêmio de Porto Alegre, campeão pelo Metropol-SC e campeão brasileiro de 1969, pelo Palmeiras.

O garoto do Arsenal

Carlos Alberto Ferreira nasceu no dia 28 de agosto de 1942, no Rio de Janeiro. Ganhou o nome de Madureira por causa de uma confusão antes de um jogo, ainda quando era um pré-adolescente. “Quando eu era moleque, eu e meus amigos organizamos um time para disputar um campeonato de várzea. A gente combinou de comprar um jogo de camisas do Fluminense. Aí eu fui à loja, mas o vendedor pegou as camisas do Madureira, embrulhou e eu não conferi. Quando cheguei na hora do jogo com as camisas, o pessoal percebeu que eu comprei errado. Mas aí já era tarde. Aí tivemos que jogar com as camisas do Madureira. Depois do jogo, eu fiquei com apelido de Madureira pro resto da vida”, conta.

O nome do primeiro time ele não esquece. Foi ainda no tempo de pré-adolescente. “Comecei jogando no time do meu bairro chamado Arsenal, aqui no Rio de Janeiro. Sempre joguei no ataque”, diz. Como o garoto apresentava um bom futebol, ele foi parar no América-RJ. “Fui jogar no juvenil do América porque meu irmão mais velho, o Sérgio Murilo, jogava lá e isso facilitou as coisas”, diz. Madureira começou a carreira no América-RJ em 1961. No ano seguinte, em 1962, estava no Clube Atlético Operário de Joinville, em Santa Catarina, um time que chegou a ser campeão do Estado em 1956. “Eu fui parar em Santa Catarina. Não fiquei no Rio de Janeiro porque eu tinha um amigo, na realidade meu vizinho, chamado Nilzo, que tinha muita moral em Santa Catarina. Ele cismou que eu tinha de ir para lá e acabei indo”, diz.

Depois do Operário era para Madureira ir para o Metropol de Criciúma. “O que aconteceu foi o seguinte: o Metropol estava excursionando pela Europa e eu fiquei treinando em Criciúma. Como tinha muito olheiro do Grêmio por ali, acabei chamando atenção e assinando com o tricolor gaúcho. Fu,i bicampeão e vice-brasileiro em 1963”, recorda.

Mas o Metropol não desistiu de Madureira. Em 1964, o time catarinense tirou o atacante do Grêmio. “Na época ele comprou o meu passe junto ao Grêmio por um valor muito alto. Além disso, estava surgindo no Grêmio o Alcindo Bugre, que jogava muito. Eu achei que seria um bom negócio ir para o Metropol”, afirma. Naqueles anos 1960, o Metropol era não apenas o melhor time catarinense, mas era também um dos melhores times da região Sul do Brasil. Madureira foi campeão no Metropol em 1967.

Foi então que ele veio para o Ferroviário, onde jogou em 1968 e 1969, quando foi para o Palmeiras. Em 1970, jogou na Portuguesa e voltou para o Ferroviário, onde jogou até 1971. Atuou também no Pinheiros, em 1972, e teve duas passagens pelo Atlético: uma em 1968, pelo Roberto Gomes Pedrosa, e outra em 1973. Seu último clube foi o XV de Novembro de 1974 a 1975, onde encerrou a carreira, porque confessou que já estava de “saco cheio” e das improvisações dos dirigentes de clubes de futebol.

Primeiro gol

Madureira também fez outro gol histórico no futebol paranaense. Ele foi autor do primeiro gol de um novo clube que surgiu no dia 12 de agosto de 1971: o Esporte Clube Pinheiros, resultado da mudança de nome do Esporte Clube Água Verde. O primeiro jogo oficial do novo clube aconteceu no dia 14 de novembro de 1971, no Campeonato Paranaense de 1972. A partida foi contra o Iguaçu de União da Vitória, na cidade do interior. Aos cinco minutos do 1.º tempo, Madureira abriu o placar. O jogo terminou 2 x 2.

Ida para o Palmeiras

“Eu fui para o Palmeiras porque o Ferroviário não admitia que eu fosse para o Coritiba, que era rival. Fiquei um ano no Parque Antártica e no final foi bom, por que fui campeão brasileiro. O problema é que o treinador, que era o Rubens Minelli, não tinha participado da minha transferência e ficou na bronca. Acontece que ele tinha um afilhado para a minha posição, um cara chamado Cardoso. Foi numa partida contra o Coritiba, entrei no segundo tempo e peguei duas vezes na bola. Mesmo assim, consegui fazer o gol da vitória para o Palmeiras. Todo mundo queria minha contratação, menos o Minelli”.

Carinho pelo Coxa

Embora seja um ídolo de Ferroviário e Atlético, até do Pinheiros, Madureira também tem carinho pelo Coritiba. Pelo interesse que o time do Alto da Glória sempre manifestou pelo seu futebol: “O Coritiba tentou me contratar durante anos, de 1968 a 1974. Mas o Ferroviário, e depois o Atlético, sempre dificultaram as coisas. Ora me emprestando para outro time, ora estipulando um valor estratosférico pelo passe. Mas ficou esta admiração e respeito pelo clube. Em 2001, estive em Curitiba e ganhei uma camisa de presente do Coxa.”