Menor assume culpa por disparo diante de boliviano

O depoimento de quase três horas que o adolescente de 17 anos que confessou ser o autor do disparo do sinalizador que matou Kevin Beltrán Espada, de 14 anos, deu nesta quarta-feira ao promotor boliviano Alfredo Canaviri Santos no Consulado da Bolívia, na Avenida Paulista, pode ser decisivo para que os 12 corintianos presos em Oruro desde o dia 20 de fevereiro consigam ao menos a liberdade provisória enquanto durarem as investigações.

Detalhes do conteúdo do depoimento não estão disponíveis porque o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a divulgação de imagens, nomes, depoimentos e provas contra menores de 18 anos. Mas quem o acompanhou disse que o promotor saiu satisfeito. “Ele respondeu a todas as perguntas sem dificuldades. Foi bastante esclarecedor, transmitindo confiança para as autoridades bolivianas. Acredito que eles tenham ficado satisfeitos”, disse o advogado Ricardo Cabral, que representa o autor do disparo.

O menor foi assistido por três advogados. Estiveram presentes um promotor da Vara da Infância e da Juventude e um representante da Polícia Federal. O deputado estadual Fernando Capez (PSDB) também acompanhou o depoimento e disse que o menor foi convincente. “Foi um depoimento coerente, com começo, meio e fim. O menor não caiu em contradição em nenhum momento e deixou muito claro que se tratou de um acidente.”

O adolescente afirmou que não sabia que o artefato comprado de um ambulante na região da Rua 25 de Março era explosivo. “Ele sequer tinha conhecimento de que aquele detonador era um sinalizador que iria disparar algum tipo de artefato. Para ele, era apenas um luminoso e ele se atrapalhou na hora de acender”, disse Capez. Embora o menor tenha confirmado que disparou o sinalizador, as perícias ainda não confirmaram que foi esse artefato que matou Kevin, que estava a cerca de 100 metros de distância da torcida do Corinthians no estádio Jesús Bermudez.

A vinda do promotor ao Brasil foi definida depois que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se reuniu com autoridades bolivianas em Sucre e questionou a situação dos 12 corintianos presos. Como o depoimento foi dado no Consulado da Bolívia, na prática ele foi prestado em território boliviano. É como se o menor tivesse ido ao país vizinho para prestar esclarecimentos.

A expectativa é de que o depoimento contribua para que os torcedores sejam soltos até o fim das investigações. A defesa espera que cinco deles sejam liberados já nos próximos dias sob a alegação de que não estavam dentro do estádio no momento do disparo do sinalizador, logo após o gol de Guerrero, aos cinco minutos do primeiro tempo. São eles: Tadeu Macedo Andrade, Rafael Machado Castilho Araújo, Tiago Aurélio dos Santos Ferreira, Reginaldo Coelho e Marco Aurélio Nefeire.

A torcida uniformizada Gaviões da Fiel já alugou um imóvel em Cochabamba, distante 230 km de Oruro, para que os corintianos acompanhem o processo em liberdade. “Não é possível fazer nenhuma previsão. Temos de aguardar as investigações bolivianas, mas temos boas expectativas”, disse Ricardo Cabral.

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