Lição lá de cima

Copa Nordeste pode servir de modelo a ser seguido no sul

Estaduais fracos tecnicamente, com muitos jogos, mas pouco atrativos para os torcedores. São afirmações sempre repetidas pelos defensores da volta dos torneios regionais, extintos em 2002. Este ano, no entanto, um componente novo surgiu para reforçar a tese de quem acha que é hora de mexer no calendário do futebol brasileiro. É a Copa do Nordeste. O torneio, que reuniu algumas das principais equipes de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe, atraiu mais público que muitos jogos da Série A do Campeonato Brasileiro de 2012 e da maioria das partidas dos Estaduais.

Com média de 8.910 pagantes por partida, a Copa do Nordeste, que termina neste final de semana, bate de longe as outras competições, mesmo com a final disputada por um time da Série B, o ASA-AL, e outro da Série C, a Campinense-PB. Para se ter uma ideia, os dois Estaduais com maiores médias de público são o Paraense, com 6.108, e o Paulista, com 6.054. No caso do campeonato da região norte, foram as finais do primeiro turno, entre Paysandu e Remo – os dois principais clubes do Estado – que fizeram com que a média disparasse. Já em São Paulo, nem mesmo os times grandes, que contam com nomes como Neymar, Pato e Ganso, são suficientes para que os torcedores se animem para ir aos estádios.

No Campeonato Paranaense, a situação é ainda pior. Com uma média de apenas 2.762 torcedores por jogo, o torneio tem apenas a oitava melhor média de todos os estaduais do Brasil (sem contar a Copa do Nordeste). Fica atrás, inclusive, do Catarinense, mas à frente do Gaúcho. Presidente do atual tricampeão paranaense, e com a melhor média de público do Estadual, com 10.745 torcedores por jogo, o presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, já manifestou o interesse da volta da Copa Sul – competição disputada em 1999, que teve média de público de 8.334 e antecedeu a Sul-Minas, ocorrida em 2000 e 2002 – e até conversou, informalmente, com dirigentes de outros clubes. Porém, ele não vê com otimismo um possível retorno do torneio. “Depende muito mais das federações e da CBF. Os clubes não têm muito poder para definir isto. É uma tentativa, mas é muito complicado, tem muita coisa para se resolver, como viabilização de datas. Os campeonatos já têm suas fórmulas definidas e são dois anos para que se possa mudar o regulamento”, afirmou Vilson Ribeiro, acreditando ser praticamente impossível a viabilização da Copa Sul em 2014.

Catarinenses e gaúchos

Recentemente, o presidente do Paraná Clube, Rubens Bohlen, também declarou que gostaria de disputar novamente a Copa Sul. Mas o desejo pela volta do torneio regional parece não atravessar as fronteiras do Estado. Para o diretor executivo do Criciúma, Cícero Souza, que em 2012 trabalhou no Sport e ajudou na viabilização da Copa do Nordeste, dificilmente uma competição interestadual seria tão bem aceita por aqui como foi lá. “Ajudei muito lá. É um fenômeno local. Só que nas outras regiões não vejo que teria uma valorização local como tem lá. Além disso, a criação de um novo torneio complicaria ainda mais o nosso calendário, que já é extremamente apertado”, declarou o dirigente.

Campeão do primeiro turno do campeonato gaúcho, o Internacional até vê o retorno da Copa Sul como positivo, desde que não aumente o número de jogos dos clubes na temporada. “Eu acredito que os estaduais são muito longos e prejudiciais aos clubes. A Copa Sul, se voltar, não pode prejudicar o futebol, e sim melhorar a qualidade. Acredito que possa melhorar a média de público, mas desde que não seja acumulado com os estaduais”, disse o vice-presidente de futebol do Colorado, Marcelo Medeiros.