Moradores lutam pra não deixar casas ao lado da Arena

Heróis da resistência na luta contra as desapropriações dos terrenos em torno da Arena da Baixada, que precisa ser concluída até o final deste ano para receber a Copa do Mundo de 2014, os quatro moradores que ainda mantêm suas casas intactas ao lado do estádio atleticano prometem ir às últimas consequências para permanecer em seus imóveis. A força deles no embate contra o Atlético se tornou ainda mais forte depois que um dos proprietários teve sua doença potencializada pelo risco de perder sua residência e morreu de câncer em 2012.

O economista Mário Beatriz Júnior, 57 anos, filho da vítima do “legado da Copa”, contou que o seu pai, que faleceu em julho do ano passado aos 82 anos, ficou muito abatido depois que saiu o decreto da Prefeitura de Curitiba, que obrigava os moradores a deixarem suas propriedades. “Ele não queria sair e não se conformava com toda essa situação. O problema o abateu muito para lutar contra o câncer”, lamentou.

Segundo Mário, não há qualquer possibilidade de um acordo com o Atlético para que sua família deixe o local, independentemente do valor. “Não tem acordo. Todos esses moradores, sem exceção, têm suas histórias aqui e agora querem mudar a vida das pessoas por causa da Copa do Mundo”, criticou.

O economista disse ainda que está tramitando na Justiça uma ação para que sua família não cumpra o decreto para deixar a residência, que fica na Rua Buenos Aires, e é a mais próxima da entrada da Arena da Baixada. Mário confirmou que a família promete levar o caso até a última instância, se for preciso. “Temos que aguardar. Quando sair, e caso a gente não ganhe, vamos levar o caso para Brasília”, avisou.

Mário informou que, na semana passada, um advogado do Atlético esteve na residência conversando com a sua mãe para tentar viabilizar um acordo. “Enquanto pudermos vamos lutar até o fim. Minha mãe mora aqui desde que nasceu, e tudo que ela viveu aconteceu nesse bairro e nessa casa”, apontou, preferindo preservar o nome da proprietária. Além desta residência, outras três moradias seguem intactas. Destas, são mais duas na Rua Buenos Aires e outra na Rua Brasílio Itiberê.

Este é mais um entrave que o Atlético enfrenta para viabilizar a realização da Copa do Mundo na Arena da Baixada. Antes, a CAP S/A – empresa criada para gerencia as obras no estádio atleticano -, teve muitas dificuldades para conseguir a liberação dos recursos oriundos do financiamento realizado junto ao BNDES. A primeira parcela de R$ 26,2 milhões, correspondente a 20% do montante de R$ 131,1 milhões, foi liberado no início de janeiro. A força tarefa agora é para que as parcelas seguintes engordem os cofres atleticanos para que as obras, finalmente, possam prosseguir normalmente até o final deste ano, prazo máximo para a entrega do Joaquim Américo. Ontem, com ar de preocupado, o gestor da CAP S/A, Mário Celso Petraglia, esteve na obra, mas não quis atender o Paraná Online.

Mixaria

O economista Mário Beatriz Júnior informou que o valor de R$ 600 mil oferecido para a sua família deixar a residência ao lado da Arena da Baixada é irrisório. Além do bairro Água Verde ser considerado hoje uma das áreas mais valorizadas de Curitiba – o mercado imobiliário estima em R$ 5.700,00 o metro quadrado -, o morador alertou que com o valor oferecido outro imóvel dificilmente poderá ser adquirido na localidade. “A região tem imóveis muito valorizados. Eles ofereceram apenas o valor venal. O mínimo que eles teriam que propor era um valor maior. Nem isso eles fizeram e não haverá acordo nenhum”, avisou. Residências com amplos terrenos, como é a da mãe do economista, têm sido vendidas no Água Verde por cerca de R$ 2 milhões.