Caixa 2 do apito

Comissão de arbitragem não presta contas do que fatura

Em cada um dos borderôs das partidas do 1.º turno do Campeonato Paranaense, a taxa está lá embaixo bem destacada: 2% para a comissão de arbitragem da Federação Paranaense de Futebol (FPF). O dinheiro vem da renda bruta e em 66 partidas do 1.º turno rendeu R$ 72.873,36. Mas para onde vai essa grana? Oficialmente, através de sua assessoria de imprensa, a FPF afirma que os recursos oriundos dos descontos servem para que seja feito um caixa para a comissão de arbitragem. Foi informado também que o dinheiro banca a infraestrutura dessa comissão, como os observadores dos jogos, a pré-temporada realizada pelos árbitros e a remuneração dos membros da comissão, que é presidida pelo ex-árbitro Afonso Vítor de Oliveira.

Além desses recursos, o grupo tem mais uma fonte de renda. Todos os árbitros filiados à entidade precisam pagar a taxa anual de R$ 125 para poder apitar nas competições organizadas pela FPF. A contrapartida, porém, é invisível. Recentemente, nenhum dos 178 novos árbitros formados conseguiu se destacar e, consequentemente, atuar nas principais competições do futebol brasileiro. Pior: nas quatro temporadas passadas, nenhum profissional de arbitragem do Paraná preencheu os requisitos necessários para a pré-seleção de aspirante a Fifa. Portanto, mesmo com o montante de dinheiro adquirido das rendas dos jogos, a preparação para o surgimento de novos árbitros é insuficiente para formar profissionais de destaque.

Frise-se que esta cobrança de 2% da receita bruta dos jogos é exclusiva da Federação Paranaense de Futebol, ou seja, nenhuma outra federação no país cobra algo semelhante. A prática foi instituída no futebol paranaense depois que foi revelado o caso dos bruxos, em 2005, o qual trouxe à tona um esquema de corrupção na arbitragem do Estado. A alegação era que a arbitragem estadual precisava ser moralizada e que esses recursos seriam usados para a comissão fiscalizar todas as partidas do Campeonato Paranaense. No entanto, o chefe da arbitragem, Afonso Vítor de Oliveira, não sai de Londrina e os observadores são, geralmente, pessoas que moram nas cidades onde as partidas acontecem.

Neste ritmo, estima-se que o lucro anual da comissão de arbitragem chegue a R$ 160 mil. Somado aos oito anos em que a entidade recolhe essa taxa das partidas disputadas no Campeonato Paranaense, a arrecadação da entidade chega a quase R$ 1 milhão. Por outro lado, dos 12 clubes participantes do Campeonato Paranaense, somente quatro lucraram mais em bilheteria que a comissão de arbitragem no 1.º turno. São os casos de Londrina, Paraná Clube, Coritiba e Operário, que conseguiram ter um saldo positivo para abertura dos seus estádios neste Estadual. A situação não se repete com os outros times. Pior: Cianorte e Atlético, com os jogos disputados como mandantes, tiveram arrecadação negativa.