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Lucas explica por que decidiu pendurar as chuteiras

Após 15 anos jogando futebol profissional, o atacante Lucas anunciou sua aposentadoria na quarta-feira passada. Com cinco meses de retorno ao futebol brasileiro, depois de uma longa temporada no Japão, o ídolo rubro-negro decidiu pendurar as chuteiras para surpresa dos atleticanos. O jogador conta que estava de “saco cheio do futebol” e não quer mais saber do esporte bretão. Ao voltar para o Atlético, esperava reencontrar a paixão pela bola, mas sem forças para reverter o desânimo – e para “não virar uma estátua” no elenco – decidiu parar.

Lucas ainda se emocionando ao falar da decisão. O atacante, que tem seu nome escrito na história do Furacão, está preparando seu último encontro com a torcida, no dia 29 de maio, às 16h, na partida contra o Grêmio, pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro. “Vou levar meus dois filhos comigo, aí fico preocupado com eles para tirar um pouco da minha atenção. Mas vai ser muito difícil”, disse Lucas na entrevista a seguir, com exclusividade para a Tribuna.

Tribuna: Que motivo o levou a largar tudo antes do fim do contrato?
Lucas – Foi uma somatória de coisas. Não existe um motivo, são várias coisas que vinham desde o ano passado, e eu já não tinha mais motivação. Imaginei que essa motivação viria por jogar no Brasil. Cheguei aqui, estava legal, feliz, mas nunca tive plenamente feliz. Já sentia até cansaço de treino. A partir do momento que você começa a reclamar muito de treino e jogos, passa a ter dificuldades e fica sem forças para superar isso. Vi que era momento de parar. Conversei com minha esposa e decidimos juntos.

Tribuna: Foi muito difícil fazer esta escolha? Já digeriu a própria decisão?
Lucas – Tem horas que ainda me emociono e sei que ainda vou chorar muito. Não fui ao treino ainda para me despedir e vai ser difícil chegar lá e saber que não vou ter isso mais. No jogo contra o Grêmio me despeço da torcida e vou levar meus dois filhos comigo. Aí fico preocupado com eles para tirar um pouco da minha atenção, mas vai ser muito difícil.

Tribuna: Como saber qual é o momento certo de parar?
Lucas – Eu não queria me desgastar, sei lá. Se permanecesse até
o final do ano eu ficaria no Atlético só como ídolo, lembrado pelo “eu sou Lucas” e pelo primeiro gol da Baixada. Não queria isso. Não vim para ficar como estátua.

Tribuna:
Por que não esperar um jogo para anunciar a saída?
Lucas – Não era justo com o Atlético parar em um jogo. Comuniquei o presidente e ele achou melhor anunciar já, para não esconder nada. Não é ninguém morrendo, é uma decisão minha, bem pensada.
Estou bem feliz.

Tribuna:
Como é parar com 32 anos, sendo que há jogadores que
 jogam por mais tempo?
Lucas – Não quero mais treinar, cansei de treinar. Não quero mais trabalhar no futebol. Apesar de achar que tenho perfil, não tenho saco para trabalhar com futebol. Sofri muito durante esses anos. Eu estou de saco cheio do futebol. Não vou dizer que nunca  vou trabalhar. De repente passam dois meses e dá vontade. Mas, por enquanto, não. Passei 15 anos no futebol, metade da minha vida. Falo 15 anos, porque estreei no profissional com 16, mas desde os nove anos meu pai vinha me cobrando. Foi muita pressão a vida toda.

Tribuna: Você voltou ao Atlético com esta intenção, de se aposentar este ano?
Lucas – Em nenhum momento pensei nisso. Imaginava ficar até final
do ano, pelo menos. Mas já estava desmotivado o ano passado todo. Lá no Japão estava como capitão, salário muito bom, poderia ficar até o final da carreira, mas imaginei que o Brasil ia me trazer motivação. Quan,do surgiu a proposta do Atlético foi melhor ainda. Mas tive essa dificuldade: jogo, crítica, elogio, não estava mais aguentando isso.

Tribuna: Ser pouco aproveitado nas últimas partidas pesou na decisão?
Lucas – Certeza absoluta que não foi. Pelo contrário, queria deixar claro, porque surge esta dúvida. Existia uma vontade de parar e este momento só somou, mas é o menor de todos. O cansaço foi maior, a família, meus filhos, três dias concentrado e eles sempre reclamando. Foi juntando tudo e deu no que deu.

Tribuna: E com será sua vida a partir de agora? Já se acostumou com a “folga”?
Lucas – Vai ser mais tranquilo. Eu já tinha uma vida paralela, negócios paralelos e estava preparado. Lógico que é diferente, agora sou um ex-jogador. Chego na padaria e a pessoa pergunta o que eu faço.
É estranho falar: ah, sou ex-jogador (risos). Mas tenho meus negócios fora do futebol. Os próximos seis meses quero descansar e depois estudar. Agora quero dar esse luxo para minha família, estou casado há oito anos e quero viajar com eles.

Tribuna: O que você leva de melhor e de pior desses 15 anos de carreira?
Lucas – Como melhor lembrança não posso deixar de falar do período entre 1999 e 2000. Foi meu melhor momento na carreira, com o primeiro gol na Baixada e a Seleção Brasileira. O pior foi a eliminação para Camarões, nas Olimpíadas (em 2000). Isso fez com que minha carreira desse uma caída, começou a declinar. Se não fosse o Japão, teria parado antes.

Tribuna:
Fica em Curitiba ou volta para Ribeirão Preto?
Lucas – Eu volto para Ribeirão. O custo de vida lá é menor, vou gastar
menos (risos). Vou trabalhar no ramo imobiliário lá, nada fora disso. Mas vou ficar por aqui duas, três semanas ainda.