Colombiano Ferreira se despede do Atlético

Após quatro anos defendendo as cores rubro-negras, David Ferreira, 29 anos, deixa o Atlético para começar uma nova vida nos Estados Unidos. Emprestado até o final deste ano ao F.C. Dallas. Podendo continuar por mais uma temporada, o colombiano diz sair de cabeça erguida e com a certeza do dever cumprido, pois toda vez que entrou em campo buscou dar o seu melhor pelo Furacão.

Nem sempre isso foi possível e a falta de apoio em alguns momentos – principalmente as críticas recebidas após o seu retorno dos Emirados Árabes – é o que mais pesou para optar em ir para o futebol norte-americano.
E o baixinho sai meio chateado do Furacão.

Foi uma decisão difícil, como o próprio Ferreira deixou claro. Mas essa mudança se fez necessária para que todo o carinho que ele possui pelo clube e por grande parte da torcida rubro-negra não fosse abalado. “Tem hora que precisamos tomar certas decisões”, comentou.

O colombiano falou com o Paraná-Online no último dia de treino da sua nova equipe (Dallas) no CT do Caju. O ex-camisa 10 ficará alguns dias no Brasil e viaja com a delegação atleticana que participará do amistoso naquele país. Ferreira aproveitou para agradecer as pessoas e considerou o período de Atlético como um aprendizado em sua vida.

Mas também cutucou aqueles que só “sabem apoiar quando o time está vencendo e em grande fase”. Esse imediatismo na maneira de agir e de cobrar, da torcida e também da imprensa, incomodou o meia, que se queixou: “Esses setores não souberam relevar o bom trabalho antes realizado”.

O colombiano tem suas razões para estar bronqueado. Ferreira tem bons números pelo Atlético, tanto que ele nunca perdeu um Atletiba, sempre foi titular do time, e decisivo no Brasileiro de 2007, detalhes que o transformaram em ídolo.

Mesmo longe, Ferreira afirmou que estará torcendo para seus companheiros e para que o Atlético conquiste títulos, o que em sua passagem pelo clube não conseguiu. Aliás, um dos objetivos do meia não realizados no Rubro-Negro. “Meu sonho era voltar a disputar a Libertadores e vestindo a camisa do Atlético”, revelou. Como não pretende “pendurar as chuteiras” tão cedo, talvez a possibilidade de realizar esse desejo faça Ferreira voltar em breve ao Furacão.

Meia sai chateado, mas se mostra orgulhoso de jogar no Furacão

Confira os trechos da entrevista e do desabafo de Ferreira.

Paraná-Online – O que mudou no Ferreira que chegou ao Brasil há 4 anos e que agora está indo jogar nos Estados Unidos?

Ferreira – Conheci um país muito bom, com pessoas e um clube que confiaram em mim. Foi uma experiência boa. Sabia que estava chegando num lugar onde o futebol é muito bom internacionalmente e que teria uma responsabilidade grande. Graças a Deus esses 4 anos foram importantes. Sempre fui titular. No princípio foi difícil mas me acostumei ao time, à cidade e ao idioma, e as coisas deram certo. Ganhei experiência e aprendi muito.

Paraná-Online – O que mais pesou na decisão de ir para o Dallas?

Ferreira – Coisas que vinham acontecendo nos últimos meses. Não foi por salário porque não ganharei muito mais, como muitos pensam. Pesou que o ambiente para mim não estava muito bom. Quando você está bem as pessoas acreditam em você, no ruim… Aqui alguns torcedores esquecem muito rápido dos jogadores que proporcionaram alegria a eles. Fiquei triste pelas coisas que vinham acontecendo, mas isso faz parte do futebol.

Tratei isso sem problemas, continuei trabalhando. Sempre fui a mesma pessoa, jogando bem ou mal. Nunca mudei, tanto na minha forma de pensar e de trabalhar com as pessoas do Atlético, torcedores ou imprensa. No momento bom todas as pessoas estão com você, mas quando as coisa não estão andando muito bem as pessoas falam mal. Mas sempre agradeci o que acontece na minha vida; minha família; o torcedor que confiou em mim desde que cheguei ao Atlético, meus companheiros. O professor Geninho, ,que quando as coisas não estavam dando certo, acreditou em mim.

Paraná-Online – É o momento certo para mudar de clube?

Ferreira – Não foi fácil tomar essa decisão (ir embora), mas tudo na vida tem seu momento. Creio que chegou a hora. Acredito que 50% dos torcedores estão felizes porque estou indo embora, já que eles esquecem muito rápido o que fiz pelo Atlético. Não dei títulos, mas dei mais alegrias que tristezas. Esses últimos meses foram difíceis, mas segui trabalhando e para quem trabalha as coisas dão certo. Mas as pessoas não entendem isso.

Querem que o jogador renda e ganhe sempre. E as coisas não são assim, pois há momentos bons e ruins. Deixo um recado para o torcedor. O time está bem, ganhando e ele está acreditando no time, o que é muito bom. Mas quando as coisas não derem certo, continuem acreditando. É complicado, quando se está ganhando tem um supertime, melhor que o Barcelona e Real Madrid… Em 2007 quando as coisas não estavam bem, o time era ruim e ninguém prestava.

Isso deixa a gente chateado. O torcedor tem que incentivar sempre no momento bom ou ruim. E apoiar o jogador porque ele sempre entra em campo buscando dar o melhor. Jogador também erra. Não porque quer. E cuidado para não queimarem o Valencia, ele tem um grande potencial.

Paraná-Online – Sobre a sua nova equipe. Qual a impressão que teve?

Ferreira – Boa. Os companheiros me receberam bem e é importante você se sentir em casa. Agora tenho a responsabilidade, já que eles estão confiando muito em mim. Estou trabalhando forte e espero conseguir meu espaço e deixar meu nome em alta no Dallas. Espero que as coisas se desenrolem bem para mim e minha família. Com o tempo vou aprender muita coisa boa em Dallas.

Paraná-Online –
Jogar nos EUA afasta você da seleção colombiana?

Ferreira – A idéia é retornar a seleção, mas indo para o Dallas será difícil. Porque o técnico dificilmente observará quem está lá. A decisão de sair daqui não foi fácil. Vivi momentos bons e tenho carinho grande pelo Atlético e torcedores. Mas tenho que pensar na família e tudo que há ao redor. Tenho que estar onde me tratam bem. Se há uma parte de pessoas que quer você e outra não, é melhor procurar novos horizontes, novos ares. Saio com alegria e uma ponta de tristeza. Sempre honrei a camisa e sempre lutei para que o Atlético estivesse no alto.

Paraná-Online –
O que você espera alcançar no futebol ainda?

Ferreira – Agora é aproveitar a oportunidade no Dallas. Sei que tenho responsabilidade grande e vou lutar pelo meu espaço. Este ano ainda será muito bom para mim e Deus queira que o Atlético também consiga títulos. Os jogadores estão trabalhando muito por isso e o Geninho e sua comissão técnica também. Vou torcer muito, de Dallas.

Obrigado a todos que confiaram em mim. Torcedores, companheiros e Geninho. Muito obrigado por tudo. O Geninho é um cara que me apoiou em todos os momentos, me colocou para jogar. É algo que não vou esquecer nunca. São poucos os técnicos que fazem o que ele fez comigo. Deus queira que num futuro volte a trabalhar com ele.

Paraná-Online – Pretende jogar até quando?

Ferreira –
Se der até os 40 (risos). O importante é poder jogar e ajudar até quando tiver saúde. Me sinto bem fisicamente, com gana de jogar, porque essa é minha vida. Me entrego às coisas que estou fazendo, tento dar o meu melhor. É difícil falar o que tenho no coração porque vou bastante chateado com algumas pessoas. Dei tudo pelo Atlético, lutei, mas aconteceu o que vinha acontecendo. Então agora tenho outra vida e espero aproveitá-la ao máximo.

Paraná-Online –
Você viveu coisas boas e ruins no Atlético. Mas o que marcou e fica de lembrança positiva do Atlético e de Curitiba?


Ferreira –
É uma cidade boa para morar, ir jantar, passear no shopping com a família, no mercado. E quando você encontra pessoas nesses lugares e elas dizem: “Vai com Deus, v,ocê nos deu muitas alegrias”. Isso para mim é marcante. Um estrangeiro que chega ao Brasil, um país com grandes jogadores, e é titular durante os 4 anos. Deixo meu nome no Atlético, mas não queria sair como aconteceu. Agora é virar a página e pensar nas coisas boas que vêm pela frente.

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