Julião da Caveira fala de seus planos como vereador

Na última eleição, Curitiba trocou 18 de seus 39 vereadores. Destes, nenhum causou tanta controvérsia quanto Julio César Sobota, o Julião da Caveira. Afinal, o que esse sujeito com cara de mau, cheio de tatuagens, sempre de bermuda, chinelos e camisa regata está fazendo na Câmara Municipal?

No gabinete número 1 do anexo 2 do Palácio Rio Branco, as bandeiras do Brasil, do Atlético e as caveiras espalhadas por todos os lados deixam claro. Ele continua o mesmo Julião que ganhou fama como presidente da torcida organizada do Rubro-Negro Os Fanáticos.

Confira agora, em entrevista ao Paraná-Online, um pouco do que pensa o vereador mais polêmico da capital paranaense.

Paraná-Online – Por que você decidiu entrar na política e se candidatar a vereador?

Julião – Estou na torcida há 26 anos e há muito tempo a galera me cobrava, pra fazer um trabalho diferente e ampliar nossa ação social. Muitos pensam que torcida organizada é para promover bagunça e quebra-quebra. Mas há muitos pais de família, profissionais de várias áreas. Desde um juiz até um andarilho. Quem conhece nosso dia conhece o trabalho que fazemos em creches, asilos e bota fé. Aqui podemos fazer novos contatos e ampliar essas ações.

Paraná-Online – E a escolha pelo PSC, como aconteceu?

Julião – O Ratinho Júnior (presidente estadual do PSC) fez o convite. Quando cheguei lá, senti que a energia da galera é diferente. Eu, que sou mais do povão, vi ali minha cara. Em todas as reuniões, fui de chinelo e bermuda. Não por desrespeito ou para pagar sapo, mas porque é meu estilo. O PSC não é de oposição. Não está em cima do muro, porque seria falta de personalidade. Simplesmente não é nem tão a favor e nem contra. De maneira nenhuma serei” maria-vai-com-as-outras” ou “vaquinha de presépio”. A idéia do partido pode ser uma e a minha, outra. Admiro bastante o trabalho do prefeito. Quando tiver que aprovar ou desaprovar alguma coisa, será pelo bem da comunidade.

Paraná-Online – Há algum projeto em que você esteja trabalhando com mais empenho neste momento?

Julião – Muita gente está me dando idéias. Não posso destacar um projeto específico. Meu trabalho seguirá a linha do que faço na torcida. Darei sequência nesse trabalho social, visando ajudar a comunidade com educação e esporte. Tenho um bom relacionamento com o secretário do esporte (Rudimar Fedrigo) e acredito que podemos fazer um bom trabalho em conjunto, para ajudar a criançada. Na minha campanha, quase não fiz propaganda, não prometi nada para ninguém. Nem voto pedi. Foram meus parceiros que se desdobraram. Devo a todos eles. 4.041 votos. Foi uma surpresa bem agradável.

Paraná-Online – Você não esperava ser eleito?

Julião – De maneira nenhuma entrei para medir a fé. Mas também não foi de graça. Temos um trabalho e uma história. Mas era mais realista do que otimista. Todo mundo conhecia alguém que era candidato. Só na torcida havia seis. Estava mais preparado para perder do que para ganhar.

Paraná-Online – Em qual bairro ou região você teve mais votos?

Julião – Fui votado em quase todos os bairros, mas principalmente na zona oeste. Vou construir uma regional, para fazer um trabalho legal com a comunidade de lá.O bairro que me deu mais votos foi o Portão.

Paraná-Online – Como vê as críticas de pessoas que consideram que você não está preparado para exercer esse cargo?

Julião – Por ser presidente de torcida, muit,os acham que sou bandido ou marginal. Mas tenho a ficha limpa.Já pousei algumas noites guardado, por causa de uns rolos de torcida. Mas normal, né? Se nem Jesus Cristo agradou a todos, não é o gordão da torcida do Atlético que vai agradar. Conheço muita gente que foi na televisão, meteu gravata e prometeu que ia salvar o mundo. Mas o povo não é burro. Está vacinado. Não é à toa que entraram 18 cabeças novas aqui. De 39, mudaram 18! Não digo que eu seja a solução. Mas a minha moçada sabe do que sou capaz. Sou um cara feio, aparentemente agressivo, monstruoso. Mas quem me conhece foram as pessoas que me deram esse crédito e me colocaram aqui agora. Sei do que sou capaz e posso fazer.

Paraná-Online – Você recebeu alguma ajuda do Atlético na campanha?

Julião – Não recebi e não aceitaria nenhuma moeda.O clube não teve vínculo algum com a minha campanha. Custo zero.

Paraná-Online – Continuar como presidente da torcida?

Julião – Em março tem eleição e seu for reeleito, vou continuar. De maneira nenhuma vou abandonar a torcida e o Atlético.O trabalho que fiz em dez anos como presidente não posso abandonar.

Paraná-Online – Qual será o futuro do Julião na política? Pretende se candidatar a um cargo maior?

Julião – Não dá para contar com depois de amanhã, se amanhã não chegar. Daqui quatro anos, se fiz por merecer, vou concorrer à reeleição. O partido já me perguntou se queria sair para deputado estadual. Mas se demorei 26 anos na torcida para sair a vereador, não é com dois, seis ou dez anos que vou querer ser deputado. Se pensar nisso será a longo prazo. Mas prefiro cuidar do quintal da minha casa, pelo resto da minha vida. Já foi uma grande conquista.

Paraná-Online – Como está a enquete que você lançou? Continua Julião da Caveira ou vai mudar o nome para Júlio César?

Julião – Muita gente está ligando e, pelo peso da balança, acho que o vereador Julião vai prevalecer. Foi o que escolhi e nesses quatro anos é assim que vai ser. Na torcida, o mesmo Julião, de chinelo e bermuda. Aqui na Câmara, o Julião vereador, de terno e gravata.

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