Atlético perdeu. Mas o juiz deu empate

atletico210205.jpg

William vê a bola passar por fora,
e não vibra. O juiz deu gol.

O Atlético viveu ontem uma tarde de "Além da Imaginação", enlatado americano dos anos 60. Ou seria o "Sobrenatural de Almeida" de Nélson Rodrigues? Jogando com o que tinha de melhor à disposição, o Furacão ressuscitou os piores momentos do "Ventania" e acabou conseguindo um empate surreal por 2 a 2 diante do Império. Isso mesmo. Enfrentando a pior equipe do Paranaense, só não saiu derrotado da Arena porque a arbitragem "inventou" um gol para o Rubro-Negro. Mesmo com o ponto conquistado, a equipe perdeu a liderança do grupo B.

Passava dos 26 minutos do segundo tempo, o Atlético perdia por 2 a 1 para o modesto e improvisado time do Império quando Baloy lançou Jorge Henrique pela direita. O atacante cruzou para William virar de primeira para a rede, pelo lado de fora. O meia, que era a última cartada do técnico Casemiro Mior para tentar mudar o panorama da partida, socou o chão de raiva, pelo gol perdido. Mas a torcida vibrou e o árbitro apontou para o centro. Começou a revolta dos jogadores comandados por Aurélio Almeida e técnico Celso Tadeu.

O assistente Rogério Luder foi cercado por todos eles, que pressionaram muito, mas não conseguiram nada. O goleiro Tales chegou a acusar o presidente do conselho deliberativo do Rubro-Negro, Mário Celso Petraglia, de influenciar a arbitragem do "pombal". "O bandeirinha pode ter ficado intimidado. O Petraglia só estava reclamando, dizendo ?o que é que há bandeirinha??", disparou à Rádio Globo após a partida. Por sua vez, William saiu pela tangente. "Eu não sei, bati a mão no chão porque vi a bola lá fora", declarou, meio sem jeito.

Depois disso, o próprio William teve até algumas chances para fazer o gol da vitória, mas esbarrou na trave e nas mãos de Tales. Antes, o que a torcida pôde ver foi uma verdadeira pelada de luxo, com jogadores de seleções internacionais contra um time montado às pressas. Para se ter uma idéia da tragédia, o Rubro-Negro tomou o primeiro gol de um atleta que paga para jogar. O zagueiro Rodrigo faz parte do projeto Império, algo como uma escolinha de futebol para adultos. Como o titular abandonou o barco por falta de pagamento, ele jogou e abriu o placar na Arena, de cabeça, livre, no meio da área.

Não seria somente esse gol a expor as falhas do time de Mior. Treinando para a Copa Libertadores da América, o Furacão atacava no 4-4-2 e se defendia no 3-5-2. Não deu certo, os buracos ficaram escancarados e Viola aproveitou um lançamento para aumentar a vantagem. Na raça, Baloy aproveitou a única falha de Tales para enfiar o pé e diminuir, ainda na primeira etapa. De resto, apenas um festival de passes errados. A coisa estava tão largada para o Atlético que os suplentes se aqueceram sozinhos, meio que abandonados na linha de fundo durante quase todo o segundo tempo.

CAMPEONATO PARANAENSE
1.ª Fase – 2.º Turno – 1.ª Rodada
Local: Arena da Baixada
Árbitro: José Francisco de Oliveira
Assistentes: Marco Aurélio Paes e Rogério Luder
Gol: Rodrigo aos 9, Viola aos 18 e Baloy aos 34 do 1.º tempo; William aos 27 do 2.º tempo
Cartão amarelo: Élvis, Daniel, Róbson Araújo, Baloy, Du, Viola, Paulo Henrique
Renda: R$ 47.137,00
Público pagante: 3.557
Público total: 5.033

Atlético 2 x 2 Império

Atlético
Tiago Cardoso; Cocito, Baloy e Marcão; André Rocha (Jancarlos), Alan Bahia, Rodrigo Souto (William), Lima (Marín) e Fabrício; Jorge Henrique e Dênis Marques. Técnico: Casemiro Mior

Império
Tales; Viola, Daniel, Rodrigo (Du) e Ígor; Élvis, Paulo Henrique, Róbson Araújo (Artur) e Jones; Erik (Samambaia) e Ronaldo. Técnico: Celso Tadeu

Mior pede paciência. E o "Ventania" volta

O técnico Casemiro Mior, do Atlético, preferiu tirar a partida contra o Império de lição para o futuro. Para o treinador, o Rubro-Negro não foi a maravilha que se comentou após a partida contra o Independiente, nem medíocre, como as vaias de ontem fazem supor. O comandante do Furacão diz que a equipe ainda está em formação e tem muito a crescer, mas contra o Francisco Beltrão o "Ventania" volta à ativa enquanto os titulares ficarão treinando no CT do Caju.

"É uma equipe que está em formação, é um grupo que está em formação e nós precisamos trabalhar muito e isso é até natural. É bom que aconteça isso agora para nós podermos trabalhar e corrigir", apontou, na entrevista coletiva. Depois, ele se corrigiu e disse que preferia ganhar a partida. "Mas, é natural porque o cansaço físico, emocional de uma viagem longa, o jogo que nós tivemos lá. Nós sabíamos que corríamos o risco e até por isso colocamos a equipe para dar um maior entrosamento", explicou.

De acordo com ele, a torcida não está sendo paciente com os jogadores. "O André Rocha nunca jogou, o próprio Jancarlos entrou e ele está há apenas quatro dias no clube e é normal que isso aconteça. Vamos ter que ir com calma, com serenidade. A expectativa de todos é grande, mas não vamos fazer terra arrasada", ponderou.

Apesar dos problemas, do desentrosamento e da equipe estar em formação, Mior não colocará os titulares para enfrentar o Francisco Beltrão na quarta-feira. "Nós temos um planejamento e vamos mantê-lo dentro daquilo que a gente pensa ser o melhor para o Atlético", disse. A delegação que irá para o interior só será conhecida hoje, mantendo o habitual mistério do clube, mas deverá ser uma mescla de reservas e time B.

Imagens de TV podem ajudar o Império

O Império do Futebol tem até amanhã para entrar com um pedido de anulação do gol no Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paranaense de Futebol, se quiser mudar o resultado do confronto de ontem, contra o Atlético. De acordo com o ouvidor do Campeonato Paranaense, José Roberto Hagebock, o time de Aurélio Almeida precisa provar que houve erro de direito. Case seja comprovado a irregularidade, a arbitragem também poderá ser penalizada.

"Se eu tivesse no jogo, como ouvidor, poderia relatar o ocorrido para que as providências fossem tomadas. Eu não vi o lance, mas se ficar comprovado que a bola não entrou, caracteriza um erro de direito", disse Hagebock, que já foi presidente do TJD. Segundo ele, esse é o típico caso para se anular o gol ou até mesmo a partida. "O Aurélio tem que fazer um ofício à Federação e ao TJD e, se possível, pedir que o tribunal peça as imagens para evitar qualquer tipo de montagem", apontou.

Hagebock diz que a decisão do TJD é de difícil prognósticos pois casos desse tipo não estão previsto no CBJD, mas, comprovado o erro de direito, o tribunal deverá anular o gol ou mesmo a partida. "Além das punições para o árbitro", destacou.

Com medo

Apesar da possibilidade de se mudar o resultado da partida, Aurélio Almeida não parece acreditar que algo possa ser feito. Assim que aconteceu a confusão, ele entrou na cabine da Tribuna e parecia não acreditar no que via. "O Atlético não precisa disso", lamentou, passando as duas mãos na cabeça. Questionado se entraria com um recurso para mudar o resultado, ele foi tachativo. "Não adianta nada, estamos jogando contra o Atlético", reclamou.

Após a partida, ele mudou a postura e anunciou que irá tomar as providências. "A gente vai ver porque são três pontos. Seriam os primeiros três pontos e vamos na Federação para ver o que está acontecendo", revelou em entrevista à Rádio Banda B. O dirigente insinuou que a entidade que controla o futebol paranaense estaria querendo o rebaixamento de sua equipe. "Se eles querem que a gente vá para a segunda divisão, então nem precisa terminar o ano. Nós estamos pagando tudo certinho para a Federação e não devemos nada, nem para o Paraná", finalizou.

Voltar ao topo