Mulher mais idosa no País faz 126 anos e fica sem presente

Astorga – Ela pediu um refrigerante, ganhou; um bolinho, e ganhou dois. E o presente? "Ninguém trouxe", lamentava-se Aparecido Silva, o Cidão, filho adotivo de Maria Olívia da Silva, que completou hoje (28) 126 anos e é considerada a mulher mais idosa do Brasil – apesar de ter nascido na Polônia – e, possivelmente, do mundo.

Como faz todos os dias desde que acorda, às 7 horas, dona Maria passou a maior parte do tempo sentada no sofá puído da sala. O que quebrou a rotina foram as visitas. "Mais de 60" até às 15 horas, contabilizava Cidão, que anuncia seu trabalho numa tosca placa de madeira à entrada da casa como "topa-tudo", especializado em consertos de guarda-chuvas e sombrinhas.

"É uma oportunidade rara conhecer uma pessoa tão idosa como ela", justificou Miguel Manoel Teodoro, que viajou de moto os 10 quilômetros que separam Astorga, norte do Paraná, do distrito rural de Içara, onde dona Olívia reside. "Tenho 55 anos e já estou caindo pelas tabelas, com dor por todo o corpo", comparou Teodoro, que foi um entre tantos visitantes de outras localidades que não conteve a curiosidade de conhecer a mulher mais idosa do Brasil. Um desses visitantes, Osvaldo Soares de Faria, viajou com a esposa, filhos e a mãe, num percurso de 80 quilômetros ida e volta entre sua cidade, Guaraci, e Içara.

Dona Maria fala baixo, tem dificuldade em pronunciar as palavras, enxerga mal e está com deficiência auditiva, mas está lúcida, comprovam todos os que foram visitá-la. "Quero um vestido de ouro", brincou dona Maria com um dos visitantes que ousou perguntar o que ele pretendia ganhar. O filho, mais prático, aponta para o telhado da casa e lamenta que a cobertura já não suporta mais a chuva, seja fraca ou forte. "Não tem lugar nessa casa livre de goteira", afirma. Não é apenas o telhado da velha casa de madeira, de 40 metros quadrados, que está clamando por socorro: não há forro, o chão é de cimento batido, as paredes – de madeira – não têm mata-junta. E os móveis, de pobreza espartana, há muito tempo ultrapassaram o prazo de validade. A casa fica na rua Sergipe, 169, mas, para localizá-la, basta perguntar pela casa da "velha mais velha", como a tratam os moradores de Içara. É tiro e queda. Todo mundo sabe onde ela mora.

Edna Pereira dos Santos é paga pela Prefeitura de Astorga para cuidar de dona Maria Olívia. Apresenta-se para o trabalho às 7 horas, quando a anciã está despertando, e o deixa depois de servir o jantar, às 17 horas. "Ela odeia sopa", observa Edna, relacionando como prato preferido de dona Maria Olívia arroz, feijão e carne. Edna confidencia: a "patroa" tem predileção pela carne de porco.

Dona Maria Olívia nasceu em Varsóvia, veio para o Brasil aos três anos de idade, teve sua documentação queimada durante um incêndio numa das muitas casas em que habitou, mas conseguiu comprovar a idade, segundo o RankBooks, o Guiness brasileiro, graças aos certificados obtidos por um radialista de Astorga. Ela casou-se duas vezes – a primeira aos 12 anos -, teve 14 filhos, quatro dos quais adotivos. Dois filhos naturais e um adotivo estão vivos e, de acordo com Cidão, dona Maria Olívia tem aproximadamente 380 netos, bisnetos e tataranetos.

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