Custo de captação financeira e cronograma de projetos preocupam setor elétrico

A escassez e o custo de linhas de financiamento e os problemas de cumprimento de prazos e licitação de novos projetos na área de transmissão são considerados, neste momento, dois entraves ao futuro do sistema elétrico nacional. De acordo com executivos e especialistas do setor elétrico, tais dificuldades podem não apenas barrar o investimento em novos projetos de geração de uma forma geral, como também travar o crescimento das fontes renováveis no País. Justamente em um momento no qual a energia eólica se consolida como importante alternativa às hidrelétricas, e a fonte solar começa a dar os primeiros passos no Brasil.

“Há uma estimativa de necessidade de investimento da ordem de R$ 20 bilhões, montante necessário apenas para que a gente possa correr atrás do atraso que já existe”, afirmou o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Salles. “E o macrofinanciador do mercado brasileiro, o BNDES, está recolhendo os flaps”, disse o especialista, que participa nesta segunda-feira, 30, de evento realizado no Instituto FHC, em São Paulo.

O presidente da CPFL Renováveis, Andre Dorf, destaca que neste momento aproximadamente três em cada quatro projetos de transmissão estão com o cronograma atrasado, uma situação que se agrava ainda mais diante da dificuldade de acesso a recursos a custos competitivos. “Hoje o apetite dos bancos está baixo. Falta disponibilidade de recursos e o custo de financiamento está bastante elevado. Fala-se em CDI mais três, quatro ou cinco pontos. Estamos falando de quase 20% ao ano para projetos de infraestrutura, um custo de dívida que em alguns casos chega a passar o custo do equity”, afirma.

O executivo destaca que, a despeito dos sinais de desaceleração da economia brasileira, a perspectiva de longo prazo é de aumento de demanda. Em dez anos, a demanda pode crescer aproximadamente 30 GW médios, o que indica uma necessidade de ampliação da potência instalada de 60 GW a 75 GW, ou algo como 60% em relação à atual capacidade do parque gerador nacional.

As dificuldades enfrentadas pelo setor elétrico aumentam a percepção do investidor externo de que o Brasil está “barato” e atrativo para o investimento estrangeiro. Ainda assim, as empresas adotam tom cauteloso ao analisar eventuais aportes no Brasil. “Vemos entre os investidores a interpretação de que o Brasil está em Black Friday, mas é uma Black Friday prorrogada”, afirmou a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Élbia Gannoun.

A dicotomia entre a perspectiva de que o Brasil está em liquidação e a cautela antes da aprovação de novos investimentos estrangeiros têm explicação. “O investidor abre o jornal e vê certa estabilidade do setor, mas há uma incerteza enorme quanto à economia”, afirma o presidente da CPFL Renováveis. O investimento feito no Brasil sofre influências do ponto de vista cambial e de taxas de juros, por exemplo. “E essa insegurança não conversa com esse tipo de investidor. Nosso investidor é sereno e tem o foco no longo prazo”, complementou o executivo, ao se referir a fundos de pensão, fundos soberanos ou assets, entre outros exemplos.

Dorf destaca que, além da dificuldade provocada pela falta de apetite dos bancos, as empresas do setor elétrico também enfrentam a dificuldade em captar recursos via debêntures de infraestrutura, por exemplo. Esses papéis garantem incentivo ao investimento da pessoal física, a partir da isenção do imposto de renda, mas não tem a mesma atratividade ao investidor institucional.

Para piorar, a pessoa física encontra no mercado, neste momento, opções consideradas mais atrativas do que as debêntures de infraestrutura. “Hoje temos carência de instrumentos”, afirmou o presidente da CPFL Renováveis.

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