Nunca se leu tanto jornal

Nizan Guanaes: o digital veio potencializar as outras mídias

“Diante de mim está um dos mercados de propaganda mais sofisticados do mundo, mas que às vezes carece de auto-estima”. Com essa fala, Nizan Guanaes, sócio-fundador do Grupo ABC, deu início a seu painel “Carta a um jovem mídia”, na tarde desta quarta-feira, 7, no Maximídia 2015.

Na leitura de sua carta, Guanaes relembrou o fato de ter nascido no Pelourinho, Bahia, assim como de ter trabalhado como locutor da Rádio Cidade e, posteriormente, ter feito três campanhas presidenciais (as duas vitoriosas de FHC e a de José Serra, que não se elegeu), alertando que o Brasil tem uma realidade singular. “Vivemos em um mundo bem diferente daquele da Croisette, de Cannes. Um raciocínio de que o mundo é um só é falácia. O consumo de TV, jornal e digital é desigual, assim como o consumo de camisinha, pasta de dente, água, energia elétrica, esgoto. É importante colocarmos essa perspectiva antropológica e política para que nossa discussão não fique na Faria Lima, na Madison Avenue”, disse.

Para Guanaes, o grande desafio do “jovem mídia” é dialogar com as pessoas dentro de uma realidade complexa, que não separa criação e mídia apesar de tanto discutir integração. “É uma aberração separar as duas coisas. Mídia é ‘the new thing’”. Segundo ele, a força do digital é inegável, mas é preciso que os demais meios sobrevivam a métricas anglo-saxônica. “Empresas como Google e Facebook têm folego para vender o peixe delas. A gente volta de Cannes achando que tudo é digital. Depende”, analisou.

Com uma pilha de revista em mãos, Guanaes ressaltou o fato de que, hoje, toda marca, de companhias aéreas a grifes de bolsa, possui uma revista própria. “E depois dizem que a revista está acabando! O que aconteceu foi uma mudança de padrão de leitura de revista”, falou. E uma lógica parecida ocorre com o jornal, na visão do publicitário. Para ele, o jornal tornou-se uma marca de mídia a partir do momento em que deixou de ser apenas impresso e passou a ser consumido em diferentes plataformas. “É um momento histórico para os jornais. E se o veículo não está tendo competência para representar esse papel, cabe ao mídia defender isso”, declarou.

Uma plataforma complementa a outra

De acordo com Guanaes, o digital veio para potencializar o desempenho das outras mídias, e não destruí-las. “Como seres humanos, somos péssimos em prever o futuro. Estamos comendo alimentos orgânicos, e não pílulas. A TV não destruiu o rádio, a televisão está desafiando o cinema com séries geniais”, ressaltou o publicitário, destacando a série “Narcos”, produzida pelo Netflix.

A mensagem final para a os jovens mídias é: não tenham medo de riscos. “Estou com 57 anos, vou correr a meia maratona de Amsterdã para continuar acompanhando vocês nesses tempos de alta velocidade. Eu quero estar em forma para acompanhar meus tempos. Eu tenho muito orgulho de vocês”, finalizou.

Métrica unificada traça retrato fiel do alcance dos jornais

Desde desta quarta-feira (7), agências de publicidade e anunciantes terão à disposição um novo retrato, mais amplo e fiel, do alcance dos jornais no Brasil. Em uma iniciativa inédita no país, um indicador mensal mostrará a audiência total dos veículos de comunicação em suas diferentes plataformas, somando a leitura nas mídias impressa e digital.

O projeto coordenado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), que resultou na Métrica Única de Audiência, foi resultado de um ano de trabalho conduzido pela empresa de pesquisa de mercado Ipsos, em colaboração com a comScore e IVC ­ as três companhias, que atuam de forma independente com suas próprias métricas, se uniram pela primeira vez para a iniciativa.

A Métrica Única permitirá que os jornais e anunciantes tenham ,uma nova visão sobre a relevância e alcance dos meios de comunicação do país, reforçando o papel do jornal como um veículo multiplataforma. Para ser o mais fiel possível à realidade, o indicador integra as métricas já existentes e desconta a superposição de leitores, levando em conta que uma pessoa lê o mesmo jornal em diferentes plataformas.

“A nova métrica rompe um paradigma e torna palpável o fato de que os jornais já transcenderam a fronteira do papel. O jornal é hoje muito mais do que uma mídia impressa, é uma marca de mídia com a qual o consumidor pode entrar em contato da forma que bem entender, com a plataforma mais conveniente”, reforça Flávio Ferrari, diretor da área de mídia, conteúdo e tecnologia da Ipsos no Brasil.

A iniciativa será apresentada oficialmente nesta quarta durante o Maximidia, evento do mercado publicitário que ocorre em São Paulo. A Métrica Única de Audiência ficará à disposição para os clientes das três empresas que participaram do projeto e vale para todo o mercado brasileiro.

“Poderemos mostrar que os jornais têm uma audiência enorme e que é uma audiência muito qualificada, o que é valorizado pelo mercado publicitário. Para o nosso modelo de negócio, que tem como principal fonte de receita a publicidade, é uma iniciativa fundamental”, afirma o diretor executivo da ANJ, Ricardo Pereira.

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