BC quer medir efeito sobre economia brasileira de medidas externas contra a crise

O Banco Central tem desenvolvido trabalhos que buscam identificar os efeitos colaterais para a economia brasileira das políticas adotadas por diferentes países para sair da crise financeira internacional de 2008 e 2009. A avaliação atribuída ao diretor de Política Econômica, Luiz Awazu Pereira da Silva, consta do Relatório de Pesquisa em Economia e Finanças do Banco Central do Brasil – 2014, divulgado nesta quarta-feira, 6, pelo Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais da instituição.

No documento, o diretor salienta que os bancos centrais de todo o mundo têm lidado com os efeitos da crise global, considerada a maior em mais de setenta anos. “A globalidade e a profundidade da crise chamaram a atenção para as necessidades de pesquisa em diversas áreas relacionadas à melhor compreensão dos fatores subjacentes à crise, assim como dos instrumentos e políticas de prevenção de novas crises e de resolução de seus efeitos macrofinanceiros”, escreveu.

Na parte da apresentação, Awazu salienta o fato de a crise ter surgido logo após um período de prosperidade e de estabilidade de preços. Isso teria evidenciado, de acordo com ele, a necessidade de atenção sobre a importância da discussão sobre preços de ativos e da construção de indicadores antecedentes de risco financeiro sistêmico, que apontariam a ocorrência ou não de vulnerabilidades do sistema financeiro a eventos de materialização de risco.

“Depois da crise financeira global e diante das evidências de sua origem parcial na insuficiência prudencial-regulatória, diversas alterações no que diz respeito à regulação micro e macroprudencial internacional, como Basileia III, têm sido sugeridas para reduzir o risco sistêmico e moderar a prociclicidade inerente aos ciclos financeiros”, escreveu.

Essas novas medidas em geral envolvem, conforme a apresentação do diretor, requerimentos adicionais de capital, de liquidez e de provisionamento, que procuram suavizar riscos excessivos em momentos de exacerbação da exuberância, assim como sua reversão em momentos de excessivo pessimismo. “No entanto, seus impactos precisam ser avaliados, de forma a evitar que soluções de curto prazo causem movimentos bruscos no longo prazo”, alertou.

Awazu destacou que tem-se investido no Brasil em pesquisas que mostrem e apoiem a adoção de medidas que levem em consideração as particularidades do sistema financeiro doméstico, contribuindo para a discussão em nível internacional. Ele enfatizou que entre as particularidades estão uma regulação prudencial mais conservadora e a construção de uma infraestrutura de mercado que permite uma supervisão mais “precisa e tempestiva”.

“Em resposta à crise, mas além do foco em estabilidade financeira, as principais economias do mundo adotaram políticas monetárias não convencionais, que influenciaram, de maneira desigual, o mundo inteiro e em particular países emergentes, pelos fluxos de liquidez global de ingresso que colocaram pressão adicional sobre a estabilidade de preços, seja a inflação, sejam os ativos financeiros e/ou mesmo a concessão de crédito em geral”, escreveu.

Entender as consequências dessas políticas, bem como desenhar e escolher a melhor estratégia de gestão e de saída dessa fase excepcional, é, e será, um desafio para as áreas de pesquisa de todos os bancos centrais, conforme Awazu. Para ele, a situação não é diferente no caso do BC brasileiro, que tem desenvolvido trabalhos que buscam identificar os efeitos colaterais para a economia doméstica, tanto do ponto de vista da política monetária como do ponto de vista da estabilidade financeira.

“A diferença nos ciclos econômicos das principais economias, com os Estados Unidos retomando o crescimento, enquanto a Zona do Euro e alguns dos principais países emergentes desacelerando e o efeito desse quadro nos termos de troca e nos preços de commodities, é outro elemento importante para decisões de política econômica”, argumentou. Isso porque o Brasil é importante produtor de commodities e tem nesses países importantes parceiros comerciais. Por isso, o diretor disse ser necessário investigar os efeitos desse fenômeno tanto para o crescimento do País como para a taxa de câmbio e para a inflação.

O mercado de trabalho é outra área com enormes desafios para pesquisas, segundo Awazu. “Em particular, isso ocorre devido às profundas mudanças estruturais pelas quais o mercado de trabalho brasileiro tem passado ao longo dos últimos anos”, lembrou. Ele citou que essas mudanças são evidenciadas por grande incorporação de trabalhadores ao setor produtivo, com redução na taxa de desemprego, maior formalização trabalhista e mudanças nas relações de trabalho, forte transição demográfica, com envelhecimento da população, mudanças nas alternativas de treinamento, aumento da educação e outros fatores que afetam as escolhas das pessoas frente ao mercado de trabalho, além de outras transformações que alteram não apenas as respostas do mercado de trabalho ao ciclo econômico, como também têm impacto em prazos mais longos, com implicações na macroeconomia.

O documento traz ainda que o desenvolvimento de um arcabouço apropriado para avaliar os mecanismos de transmissão dos diversos instrumentos de política macroprudencial e de sua interação com a política monetária também tem sido fonte de preocupação dos bancos centrais. “O BC tem feito grandes avanços no desenvolvimento de modelos adequados à realidade brasileira, sob a perspectiva de sua missão. Muito se avançou até o momento no mapeamento do canal de crédito e no impacto de políticas macroprudenciais, e, mais recentemente, alguns estudos começam a elucidar questões relacionadas às reações ‘ótimas’ e de interdependência das políticas monetária e macroprudencial.”

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