França pode se tornar 2ª maior em comércio de armas com Rafaele

Preterido pelo governo do Brasil, que escolheu aviões Gripen NG, da sueca Saab, os caças Dassault Rafale se tornaram o principal produto de exportação militar da França e devem levar o país à segunda posição mundial em comércio de armas do mundo neste ano, à frente da Rússia e atrás apenas dos Estados Unidos. Após o fracasso das negociações com Brasília, o presidente François Hollande assinou, nesta segunda-feira, 4, em Doha, um contrato de venda de 24 aviões ao Catar por um total de 6,3 bilhões de euros.

O acordo prevê a entrega das aeronaves a partir de meados de 2018, além da venda de mísseis ar-ar Meteor e mísseis de cruzeiro Scalp, de fabricação francesa. Os pilotos da Força Aérea do Catar também serão treinados em solo francês, e todos os equipamentos serão produzidos na França, sem transferência de tecnologia. Como o Brasil, o Catar também já possuía aparelhos do país, com 12 aviões de caça Mirage 2000 ainda em atividade, uma esquadrilha que agora será integrada pelos Rafale.

O acordo foi assinado com a presença do presidente da França, François Hollande, e do emir do Catar, Tamim Al-Thani, um sinal da proximidade dos dois países. O Catar é hoje um dos maiores investidores externos na França. Fundos do país são donos de hotéis de luxo (como o Carlton, de Cannes) a clubes de futebol, como o Paris Saint-Germain (PSG). “A França é vista como um país confiável”, disse Hollande, elogiando a própria política externa.

A comemoração tem a ver com o papel desempenhado pelo Estado francês e com a importância da diplomacia nas negociações. A França é aliada dos países árabes de maioria sunita do Golfo Pérsico, como Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos, e também do Norte da África, como o Egito. Nos bastidores, está a desconfiança mútua, de árabes sunitas e da França, de um lado, em relação ao Irã, país de maioria xiita.

A proximidade com os árabes sunitas, porém, não é suficiente para explicar o recente sucesso de vendas dos Rafale, um caça que entrou em serviço em 2004 e desde então é reputado por sua eficiência e preço elevado. Até aqui, além da negociação com o Brasil, outros países, como Suíça e Marrocos, decidiram abortar projetos de compra da aeronave em parte pelo custo elevado cobrado pela Dassault.

Mas nos últimos três meses, três países optaram pelo aparelho fabricado em Mérignac, cidade-sede da companhia. Em fevereiro, o governo do Egito encomendou 24 aeronaves por 5,2 bilhões de euros – incluindo uma fragata Fremm, do grupo naval DCNS, e seus armamentos. Em abril, foi a vez da Índia firmar acordo de 5 bilhões de euros por 36 aviões.

Agora é a vez do Catar, que ainda tem opção de compra de mais 12 unidades. Se todas as opções de compra já firmadas forem exercidas, o total de aviões já exportados poderá chegar a 96 unidades do Rafale. Há negociações em curso com a Índia por um segundo contrato, com os Emirados Árabes Unidos e com a Malásia, o que deixa a direção da empresa e o governo otimistas sobre novas exportações.

Além da Dassault, quem sai ganhando é toda a indústria aeronáutica e bélica do país, em especial as parceiras Thales, fabricante de radares e sistemas de navegação, e Snecma, responsável pelos motores. Com os 16,5 bilhões de euros em contratos do Rafale, a França deve superar este ano os 20 bilhões de euros em contratos militares, tornando-se o segundo no ranking mundial de exportações bélicas, atrás dos EUA.

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