Ajuste fiscal dependerá da força do presidente eleito

A capacidade de o governo realizar em 2015 o ajuste fiscal considerado necessário por grande parte dos economistas dependerá das condições em que for eleito o próximo presidente. A vitória partidária em Estados-chave, o número de assentos ocupados pela legenda no Congresso Nacional e quais serão os partidos integrantes da coalizão devem pesar na formação do capital político e na determinação de promover o aperto nas contas públicas.

O cientista político Octavio Amorim Neto, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e Empresas da Fundação Getulio Vargas (Ebape/FGV), traçou cenários otimistas e pessimistas para os três principais candidatos à Presidência da República – a atual presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) – e cruzou com as chances de o ajuste fiscal ser realizado.

Na hipótese de Dilma ser reeleita, o cenário otimista considera eleição no primeiro turno ou com folga sobre o adversário no segundo turno, além de conquista na disputa para governador em algum Estado do Sudeste. “Seria uma grande vitória pessoal para Dilma, porque a política econômica dela tem sido duramente criticada. Ela poderia reivindicar para si ativos como a independência de seu antecessor (Lula)”, afirmou Amorim Neto, em seminário sobre as eleições realizado nesta tarde pela FGV, no Rio.

A partir daí, duas possibilidades se abrem. “Com Dilma mais forte politicamente, isso sugere que tem gordura para fazer o ajuste fiscal que alguns economistas liberais têm demandado”, explicou. Um segundo caminho seria a adoção de um mandato conservador, com manutenção da política econômica, uma vez que a reeleição seria entendida como aprovação ao que foi feito até agora. “Nesse caso, muito provavelmente o ajuste seria muito superficial. Para economistas, um prelúdio de mais quatro anos de economia morna.”

O cenário pessimista de Dilma considera vitória apertada no segundo turno, sem eleger nenhum governador no Sudeste. A pouca vantagem deixaria a presidente enfraquecida politicamente e disseminaria o pessimismo em relação ao ajuste fiscal, favorecendo o “experimentalismo” na política econômica, segundo o cientista. “Pode começar sendo um ajuste profundo e se tornar superficial, ou vice-versa”, afirmou Amorim Neto.

Aécio e Campos

Para os candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos, as chances de algum deles ser eleito no primeiro turno são mínimas. No caso do tucano, um cenário otimista teria uma margem de cinco ou seis pontos porcentuais na vitória sobre o adversário no segundo turno. Mas o sucesso do governo e do ajuste fiscal dependerá da expansão do PSDB no Legislativo.

“O PSDB hoje tem apenas 44 deputados, ou 8,6% da Câmara, e 11 senadores”, citou Amorim Neto. Além disso, a realização do ajuste fiscal depende da manutenção dos governadores em São Paulo e Minas Gerais, além da obtenção de apoios do PTB e do PSB.

Num cenário pessimista, Aécio seria eleito com pouca margem e sem o apoio de Campos, enquanto o PSDB não ampliaria participação na Câmara e perderia um dos Estados-chave. Ainda que tivesse o apoio de PMDB, seria um governo com capital político reduzido. “Ele teria problemas na aplicação do choque de credibilidade. Com o tempo, ele poderia vacilar, devido ao perfil de conciliador”, disse Amorim Neto.

No caso de Eduardo Campos ganhar, o cenário otimista envolve o apoio político e técnico do PSDB, uma vez que o PSB é um partido pequeno. “Poderia contar ainda com o apoio do PT”, disse o cientista. Em um cenário pessimista, a vitória apertada e a ausência de apoio de PT, PMDB e PSDB deixariam Campos isolado no poder.

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