Crescimento

Recorde nas vendas de carros no Paraná

Um número muito próximo a 200 mil veículos vendidos será a marca que o setor automotivo paranaense alcançará até o último dia deste ano, um recorde para o setor. As vendas da primeira quinzena de dezembro vêm demonstrando um fôlego maior do que o esperado pelo setor, principalmente após o anúncio do Banco Central das medidas de arrocho na oferta de crédito. O fim da opção de financiar 100% do valor de parcelamentos de longo prazo motivou milhares de consumidores a anteciparem a compra ou troca dos veículos antes da virada do ano. Há concessionárias em Curitiba que já venderam 45% a mais do que todo o mês de novembro, que também foi bom (15% de aumento).

O clima de euforia fez a Federação Nacional das Distribuidoras de Veículos Automotores, regional Paraná (Fenabrave-PR) apostar em um novo percentual de ampliação nas vendas deste ano. Para o diretor geral da Fenabrave-PR, Luís Antônio Sebben, o crescimento das vendas de veículos em 2010 deve passar dos 6% estimados em novembro, para uma variação próxima a 8%, tornando evidente que o patamar de 190 mil unidades comercializadas também será ultrapassado com folga.

Em 2009, as negociações chegaram a superar 184 mil unidades, mas as vendas contavam com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). No total de veículos (automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, etc), a Fenabrave-PR acredita que o Estado alcançará um número próximo a 347 mil unidades vendidas em 2010, contra 327 mil unidades comercializadas em 2009. Em todo o Brasil, o ritmo das vendas também segue acelerado e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) acredita que 2010 deva encerrar com 3,45 milhões de veículos (entre automóveis leves e utilitários) emplacados, alta de 10% em relação a 2009.

Para atender a demanda, as montadoras reduziram ou suspenderam as férias coletivas e a produção de veículos também baterá recordes. A Anfavea calcula que o número de veículos produzidos neste ano chegue a 3,64 milhões – contra 3,18 milhões de 2009 (alta de 14%).

Menores juros do varejo, destaca a Fenabrave-PR

Para a Fenabrave-PR não são os financiamentos usados na compra de veículos que geram inflação e riscos para o aumento da inadimplência. “Os juros cobrados são os menores do varejo, entre 1,60% e 1,76%. O grande problema acontece nos empréstimos consignados e nos cartões de créditos que levam os consumidores a perderem o controle dos gastos e, para agravar, os juros cobrados são elevadíssimos”, argumenta Luís Antônio Sebben, diretor geral da Fenabrave-PR. Apesar de serem as menores taxas praticadas no varejo, cálculos da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), apontam que, atualmente, quem financia um veículo desembolsará por ano, em média, 35,1% a mais por conta dos juros. E a desvalorização anual do bem, em média, é de 20% no primeiro ano (para automóvel novo) e 10% para os seguintes.

Sobre a inadimplência, de acordo com a Anfavea, a taxa caiu para 3,1% neste ano. Em 2009, o percentual de inadimplentes ficou em 4,7%. São classificados como inadimplentes aqueles que atrasam por mais de 90 dias o pagamento de uma ou mais parcelas do financiamento. Essa melhora verificada pela Anfavea se deu mesmo com a expansão dos prazos e condições de financiamentos. No País, conforme a Anef, o tempo médio de parcelamento está em 72 meses. No Paraná, pelo acompanhamento da Fenabrave-PR, os veículos estão sendo financiados em um prazo médio de 42 meses. Ainda pela Fenabrave, no Estado, 60% das compras de veículos são por meio de financiamentos. Vale destacar que, em Curitiba, as concessionárias têm observado que 77% das compras são financiadas e, especificamente neste mês, o percentual está em 85%.

Haja garagem

Fábio Alexandre
Cobradora Cleninda de Oliveira, de 39 anos: “Antes perdia muito tempo”.

Pegando os números do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) sobre veículos em circulação no Estado (quase 3 milhões) e em Curitiba (1,8 milhão), e dividindo pelo número de habitantes apurados pelo Censo 2010, os resultados mostram que a proporção deste ano no Estado é de um veículo para 3,5 habitantes e, na capital, a relação está em um para 2,1. Isso significa que a cada duas pessoas na cidade, uma está motorizada.

A família da aposentada Maria da Conceição Souza, de 68 anos, não só ilustra bem a realidade curitibana, mas também amplia as estatísticas. Todos os integrantes da família – dois filhos, mais a nora e ela – têm carros. “É uma necessidade e um facilitador”, explica. Ela foi a última da família a se render ao automóvel na última década. “Por economia, houve um tempo em que abri mão do carro, mas retomei depois dos 60 anos. Ganhei autonomia e me livrei das dores nas articulações causadas pelo peso das sacolas de compras de supermercado que eu carregava”, constata.

A cobradora e diarista Cleninda Ortiz de Oliveira, de 39 anos, também é um exemplo da evolução no consumo de veículos nos últimos anos. Hoje, ela possui três automóveis: um Fusca, uma Pampa e um Ford Ka zero quilômetro. Entretanto, em 2005, ela tinha apenas uma motocicleta. “Comprei um Fusca parcelado da minha sogra, após sofrer um acidente de moto que me deixou em cadeira de rodas por seis meses”, revela. De lá para cá, ela não parou mais. A frota particular é resultado de 15 horas de jornada diária de trabalho, cumpridas há mais de dois anos, e muito apreço por pegar no volante. “Adoro dirigir, tanto que o meu maior sonho é me tornar motorista de ônibus”.

Ela conta que a última aquisição tem garantido a ela uma hora a mais de sono. “Agora estou conseguindo dormir quatro horas por noite, antes eu me deslocava de ônibus e perdia muito tempo”, recorda. Segundo ela, o Fusca não era usado porque frequentemente estragava. Já a Pampa foi adquirida com o intuito de desenvolver um negócio para a família. “No futuro, meu marido pretende fazer serviços de transportes”. Além das prestações do Ford Ka, que ela parcelou em 60 meses, Cleninda também investe na construção da sua casa. “Meu marido entrou com o terreno e eu com a casa, já faz um ano e meio que estamos construindo do jeito que planejamos. Claro que o espaço da garagem, para pelo menos duas vagas, já está garantido em nosso projeto”.

Expansão vai continuar

Na avaliação do diretor geral da Fenabrave-PR, Luís Antônio Sebben, as restrições ao crédito poderão interferir nas vendas em 2011, mas não reduzirão a expansão esperada pelo setor. “As vendas vão aumentar em um ritmo menor, em torno de 6%. Isso porque o poder aquisitivo dos consumidores também melhorou. Ainda temos uma média de habitantes por veículo muito baixa, sem contar que uma parte desse consumo está servindo para a modernização da frota. Há muitas pessoas aproveitando a melhora da economia para aposentar um carro velho em troca de um zero quilômetro”, pontua Sebben.

O gerente comercial da Fiat Barigui, Rodnei de Jesus Marques, reforça a previsão. “Depois do anúncio do BC, o movimento na concessionária caiu, mas as vendas já são 45% maiores do que novembro. O pessoal que vem, entra para comprar. E isso não vai mudar em 2011. As pessoas só vão deixar de gastar o dinheiro da entrada em outras aquisições para investir na compra do veículo”, explica Marques.

Pelo anuário 2010 da Anfavea, que trabalha com informações de 2008 para a relação de habitantes por veículos, o Brasil ficou atrás de 18 países nessa proporção. Enquanto nos Estados Unidos, havia 1,2 habitantes por veículo em 2008, no Brasil, a relação ficou em 6,9 habitante,s por veículo. Em 1999, porém, a situação era ainda mais distante no País: um veículo para 8,9 pessoas (no mesmo ano, os EUA apresentavam uma relação de um veículo para 1,3 habitantes). Além de países desenvolvidos como Japão e Espanha, outros, como Argentina, México, Polônia, também apresentaram proporções melhores que o Brasil.

O economista da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Roberto Zürcher, chama a atenção para o fato de que fatores como câmbio, alta tributação, taxas de juros e elevados encargos trabalhistas do País também têm impacto sobre um setor tão auspicioso. “Cada vez mais os componentes dos carros montados aqui são de fora. Só neste ano, até setembro, o setor de transportes já havia aumentado em 28,5% as importações de peças, sobretudo porque o custo para produzir aqui não compensa e os importados acabam sendo muito mais competitivos”, alerta. “As montadoras ainda estão no Brasil devido ao mercado interno superaquecido, porém, se o governo não investir em infraestrutura e não realizar as reformas, daqui a pouco, as empresas migram para outros países”, avalia Zürcher, acrescentando que, para os próximos anos, uma das ameaças previstas para as montadoras daqui será a concorrência com veículos importados de países como a China.