O pesado custo da alimentação saudável

Você sabe quanto gasta do seu salário para comer? A resposta dessa pergunta depende da renda de cada pessoa (ou família) e também da qualidade da alimentação.

Se levar em conta um cardápio mais balanceado, com mais nutrientes do que aqueles oferecidos pela cesta básica, o curitibano gasta aproximadamente um terço de sua renda com comida.

Considerando o valor de R$ 458 da cesta nutricional montada pelo Ipardes, e que a renda média do curitibano é de R$ 1.455, ele dispende 31,4% do salário para se alimentar.

O valor de R$ 458 foi levantado pelo Ipardes, que montou, em conjunto com o departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR), uma cesta nutricional para uma família de quatro pessoas.

Esta cesta traz diversos itens, não somente os básicos, e que são necessários para que a pessoa se alimente melhor, com valores nutricionais agregados (por exemplo, a cesta traz frutas, biscoitos, leite em pó, ovos, e outras verduras, que não as básicas).

“Os produtos da cesta básica não atendem a necessidade nutricional. Se não der problemas de saúde para a pessoa logo, dará a longo prazo”, comenta o coordenador de pesquisas periódicas do Ipardes, Gino Schlesinger.

Se levar em consideração a renda média de uma família com três pessoas (que seria de R$ 2.614), segundo cálculo do Ipardes, com a mesma cesta nutricional de R$ 458, a família gastaria 16% da renda só com os alimentos.

“Aí seria mais confortável. Porém, sabemos que a desigualdade é grande, que há as famílias bem mais pobres. Sem falar que, nas duas situações, há outros gastos que uma família tem, não só alimentação. Se pensarmos que a renda média do curitibano é de R$ 1.455, se na residência tiver apenas uma pessoa ocupada, realmente gastar R$ 458 fica complicado”, avaliou Schlesinger.

Tempo

O tempo médio que o curitibano trabalha para comer (levando em conta a cesta básica) foi de 93h13m, no mês de julho. O tempo reduziu um pouco em relação ao mês anterior, quando foi de 97h59m, segundo o Dieese.

Pesquisa e redução de impostos podem baratear produtos

Uma das maneiras de se gastar menos é pesquisar. Mas para a maioria das pessoas, o problema é a falta de tempo para fazer isso. Então, quem não tem tempo de sair de mercado em mercado, o site da prefeitura de Curitiba traz uma ferramenta de pesquisa muito útil (www.curitiba.pr.gov.br) na qual as pessoas têm a possibilidade de verificar em qual supermercado é mais barato determinado produto.

Porém, na opinião de especialistas há outras maneiras de se reduzir o preço dos alimentos. Uma delas seria diminuir os impostos, diz a consultora tributária Sueli Angarita.

“Faria toda a diferença no bolso do trabalhador”, afirma. Para ela, é possível, porém muito difícil, de diminuir esses valores no Brasil. “Temos uma reforma tributária que não sai do papel, temos os estados que ganham com o ICMS e as indústrias que não abrem mão disso. Então é uma luta árdua”, avalia.

Para a economista coordenadora do Laboratório de Orçamento Familiar da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ana Paula Mussi Cherobim, é preciso que haja uma política de preços mínimos mais completa para os agricultores, o que poderia amenizar os preços em períodos de entre-safra.

Preço dos alimentos

A cesta básica em Curitiba teve queda de 4,86% em julho. O tomate, a banana e o açúcar foram os produtos que tiveram a maior queda de preço: o tomate teve queda de preço de 24,05% em relação ao mês anterior; a banana caiu 16,95%, e o açúcar, 7,18%.

A queda de preços deixou a capital paranaense em oitavo lugar no ranking das cestas mais baratas do país. A capital com a cesta básica mais cara em julho foi São Paulo ,(R$ 239,38), e a mais barata, Aracaju (R$ 181,04). (MA)

Cesta básica não possui todos os nutrientes necessários

Já a cesta básica, que tem 13 itens, serve como uma base para que as pessoas não passem fome, mas não significa que, com ela, tenham-se todos os nutrientes necessários para o organismo.

Segundo o Dieese, em Curitiba gasta-se R$ 216,11 com a cesta básica (ou 42% do salário mínimo, pegando como base o salário nacional de R$ 510). Se levar em conta o rendimento médio do curitibano, que é de R$ 1.455, se gastaria 15% do dinheiro na cesta básica.

Os 42% representam muito, na opinião de especialistas. Para a economista especialista em tributos, Sueli Angarita, é um absurdo que se gaste tanto, mesmo que seja com a cesta básica, em comida. “Você não come só o básico. E os outros gastos, como ficam? Saúde, transporte, moradia”, indaga.

Na avaliação da economista e administradora, coordenadora do Laboratório de Orçamento Familiar da UFPR, Ana Paula Mussi Cherobim, os 42% não podem ser considerados em demasia, pois não refletem a realidade da maioria.

“Poucos são os curitibanos que recebem salário mínimo”, afirmou. Para ela, os 15%, então, seriam razoáveis. “Claro que sempre tenho que fazer a análise do custo benefício. Quando você fala em 15% para a cesta básica seria o básico para não passar fome ou ficar desnutrido. Mas se a pessoa quer mais conforto, vai gastar mais”, observa. (MA)

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