Bebida artesanal conquista espaço no mercado

O Paraná está, aos poucos, se inserindo no mapa dos Estados que produzem, no País, bebidas alcoólicas de qualidade. Pequenas marcas, criadas por entusiastas, produtores artesanais e até cooperativas, estão liderando uma corrida para disseminar produtos paranaenses dentro do próprio Estado e, por que não, por todo o País. As cervejas e as cachaças, sejam especiais ou artesanais, vêm conquistando paladares exigentes e começando a aparecer em prateleiras de lojas especializadas.

Para ajudar pequenos produtores de cachaça a se organizarem e atingirem um mercado que, sozinhos, não teriam condições de abastecer, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae-PR) instituiu, há mais de cinco anos, o projeto Cachaças do Paraná. Um dos frutos da iniciativa, a Cooperativa dos Produtores de Cachaça Artesanal do Oeste do Paraná (Copercachaça), está, este ano, iniciando uma nova fase, já focada em metas de venda a serem atingidas, mês a mês, até o final de 2014.

“A partir da entrada na Cooperativa, todos os produtores aumentaram suas venda”, informa o consultor do Sebrae-PR, Edson Braga da Silva. Segundo ele, porém, boa parte dessas vendas é feita informalmente, assim como acontece com 90% da cachaça artesanal vendida no Estado. No entanto, as vendas não são suficientes para alavancar um maior desenvolvimento aos produtores. “A perspectiva é de crescimento. O que não pode é ficar do jeito que está”, diz.

O novo foco do projeto, agora no mercado, tem como um dos objetivos fazer com que a produção possa chegar cada vez mais perto de sua capacidade. Da Silva conta que os produtores do Oeste do Estado têm condições de produzir até 2 milhões de litros da bebida por ano. Mas em 2009, por exemplo, produziram apenas 600 mil litros, ou seja, 40% de sua capacidade. “Ainda falta mercado para comprar esse total”, explica.

Um dos planos para atingir esse mercado envolveu a criação de três marcas a Quaty, a Curió e a Guarú , cada uma destinada a um público diferente. A participação da Cooperativa em um concurso estadual de cachaças, organizado pela Associação de Cooperativas e Empresas Produtoras de Cachaça Artesanal de Alambique do Paraná (Aprocapar), também deve ajudar, já que, até agora, apenas a região de Morretes, no Litoral do Estado, é conhecida como produtora de cachaça artesanal de qualidade.

Cervejas

Enquanto a produção de cervejas especiais ainda engatinha no Brasil, produtores paranaenses também estão buscando um lugar ao sol junto com marcas catarinenses e da região Sudeste. O presidente da Associação dos Cervejeiros Artesanais Paranaenses, Alessandro Oliveira, comemora uma explosão no número de marcas da bebida no Estado, nos últimos anos: “Até dois anos atrás, não tínhamos quase nenhuma, hoje temos perto de dez. Até o fim de ano, esse número deve dobrar”, avalia.

De acordo com Oliveira, o número ainda é bastante pequeno se comparado a estados mais tradicionais, mas o nicho tem grande potencial de crescimento. Para ele, a estrutura presente no Estado é única no Brasil, e em breve deve gerar produtos muito competitivos, com preços melhores que os de cervejas importadas. “As marcas que fazem um trabalho diferenciado estão tendo um lucro significativo”, informa.

Produtor reclama de falta de incentivos

De nada adianta a produção paranaense de cervejas e cachaças aumentar, se não houver como escoar as bebidas. Em Curitiba, grande parte desses produtos podem ser encontrados nas lojas especializadas do Mercado Municipal. Mas estabelecimentos em outros pontos da cidade não faltam, o que mostra que há espaço, na capital, para a venda de bebidas especiais.

Uma delas é a Mestre Cervejeiro, dos sócios Daniel Wolff e Beto Onofre. Wolff, que é especialista em cervejas, e mantém há mais de cinco anos o site que deu origem à loja,, o Mestre-Cervejeiro.com, destaca três marcas especiais, produzidas por micro-cervejarias, ou até artesanalmente no Paraná: a De Bora Bier, de Imbituva, a Diabólica, de Curitiba e a Klein Bier, de Campo Largo.

De acordo com Wolff, que trabalha com mais de 200 rótulos vindos de pelo menos 13 países, as marcas do Estado competem “de igual para igual” com outras nacionais.

“A qualidade é excelente, e Curitiba e região estão virando uma referência no meio cervejeiro”, avalia. Porém, ele reclama que nem os pequenos produtores artesanais, nem as micro-cervejarias recebem incentivo tributário para produzirem, o que acaba elevando o preço das bebidas. “Ainda bem que esses consumidores exigentes estão mais preocupados com a qualidade do que com o preço”, conclui.

Para Wolff, os exigentes consumidores de cervejas especiais, cansados da baixa qualidade das cervejas comuns, são sedentos por novidades, a ponto de produtores e importadores muitas vezes não conseguirem atender à grande demanda. “Os consumidores estão cada vez mais preocupados com o gosto e os aromas de suas cervejas, estão cansados de beberem aquela velha cervejinha de sempre”, observa. Ele lembra que só não adianta oportunistas tentarem atingir esse mercado com produtos de “sabor massificado”: “É certo que ele irá patinar com o seu negócio, e não irá ganhar espaço nesse mercado”, afirma.