Cooperativas no Paraná saem ilesas em ano de crise

 crise financeira mundial que assolou o mundo no segundo semestre desse ano parece ter passado incólume nas cooperativas paranaenses. Segundo o presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski, a perspectiva para o fechamento do ano deve ultrapassar a marca de R$ 22 bilhões de lucro, um recorde dos últimos 10 anos, beneficiando diretamente mais de dois milhões de pessoas.

Mas mesmo com os bons índices acumulados em 2008, Koslovski pede cautela e tranqüilidade para lidar com a crise. “Sabemos que a economia mundial vem manifestando sinais de dificuldade. Agindo da maneira certa, teremos uma bela oportunidade para as cooperativas crescerem. Profissionalização e gestão segura são pontos fundamentais nesse momento e nossas cooperativas estão seguindo essa idéia à risca, descartando assim a hipótese de ameaças”, diz.

Um exemplo disso é a Cocamar Cooperativa Agroindustrial. A cooperativa de Maringá, noroeste do Estado, fundada em 1963 e que conta com seis mil cooperados, vai apresentar, segundo sua assessoria de comunicação, um de seus melhores anos, com um crescimento de 25%, passando de um lucro de R$ 1,15 bilhão no ano anterior para R$ 1,38 bilhão em 2008. Os fatores que permitiram esse expressivo crescimento devem-se a venda de insumos agrícolas (sementes, fertilizantes, entre outros materiais), que subiu 43%. O volume dos produtos industrializados da Cocamar, como sucos, café, trigo, óleo de soja, entre outros, também desempenhou um importante papel para a cooperativa, com lucro de R$ 360 milhões nesse ano contra R$ 252 milhões em 2007.

Além disso, a cooperativa teve um bom lucro com a soja, recebendo um volume de 675 mil toneladas. O milho também rendeu bons dividendos e obteve uma safra recorde de 413 mil toneladas, batendo a marca de 2003, que era de 400 mil toneladas.

Para o biênio 2008/2009, a Cocamar deve investir R$ 60 milhões nas suas 15 plantas industriais. Está no plano da cooperativa também a criação de uma usina de co-geração de energia elétrica, suprindo em 60% todo o consumo de eletricidade por suas indústrias.

Divisão de lucros

A Cocamar vai realizar, em janeiro de 2009, uma assembléia para discutir a divisão dos lucros. Os valores ficam a disposição para retirada do agricultor ou para ser investido na própria cooperativa. O valor recebido varia de acordo com a movimentação financeira de cada cooperado. Quem vender mais produtos para a cooperativa ou adquirir mais insumos, mais terá de retorno financeiro na divisão dos lucros.

Frimesa: R$ 700 mi

Outra cooperativa que apresentou bons índices de crescimento em 2008 é a Frimesa Cooperativa Central. Localizada em Medianeira, oeste do Paraná, e com aproximadamente seis mil cooperados, obteve um crescimento de 18,5% superior a 2007, passando de um faturamento de R$ 580 milhões para R$ 700 milhões. “O crescimento foi dentro do esperado, apesar do todos os percalços que ocorreram em 2008”, diz o diretor-executivo Elias José Zydek. De acordo com ele, o fato de haver uma recuperação no preço de vendas e por produzirem produtos de maior valor agregado contribuíram para que a empresa obtivesse o crescimento.

“Investimos mais nos produtos industrializados, como o de carne e derivados e de origem láctea. Isso fortaleceu a marca no mercado, principalmente no sul e sudeste do país. Nosso foco agora é utilizar a capacidade instalada de nossas indústrias em 85%”, revela. O foco da cooperativa está no mercado interno. Contudo, se a flutuação do câmbio do dólar estabilizar em um valor alto, não está descartada a hipótese de exportar os seus produtos. “Hoje nós temos 95% da produção voltada para o mercado interno e 5% para o mercado externo.

Com a moeda norte-americana muito ba,ixa, não compensava exportar. Agora, com o dólar acima dos R$ 2, poderemos investir um pouco mais na exportação.” Mas mesmo com o crescimento e com a previsão de aumentar o lucro para R$ 820 milhões (o equivalente a 17% a mais que 2008) no próximo ano, Zydek diz que há uma certa apreensão com os rumos da economia. “Vamos esperar para ver. Investimentos que poderíamos fazer em um curto prazo estão temporariamente cancelados. O momento é de cautela e não iremos tomar nenhuma decisão precipitada”, encerra.

Coamo: R$ 4,3 bi

“Mesmo com a crise financeira, podemos dizer que a Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda. (Coamo) vai fechar o ano com um balanço positivo. Mais do que isso, acredito que 2008 será o melhor ano da história da cooperativa.” A afirmação é do diretor-presidente da instituição e engenheiro agrônomo José Aroldo Gallassini. Considerada a maior cooperativa do Brasil e da América Latina, a receita global da Coamo para esse ano deverá ser em torno de R$ 4,3 bilhões. Ela recebeu em seus armazéns volumes de 83 milhões de sacas, o equivalente a R$ 5 milhões de toneladas de produtos.

Para Gallassini, o ótimo resultado deve-se a força, união e o trabalho de seus 21 mil cooperados, assim como a sua diretoria e seus funcionários. “Isso consolida de vez que o cooperativismo, quando bem trabalhado, dá certo”, analisa. Como forma de facilitar e melhorar os cooperados, o diretor diz que serão inauguradas no próximo ano mais quatro unidades: em Engenheiro Beltrão, Quarto Centenário e Campo Mourão, no centro-oeste, e em Toledo, oeste.

“São investimentos necessários para o aumento da capacidade de recebimento, visando receber a produção dos cooperados. Isso vai fazer com que o custo do frete seja reduzido, além de aproximar a cooperativa ainda mais de seus cooperados”, afirma. Ele diz que, mesmo com a queda no número de compradores no mercado de commodities, a lentidão no comércio de soja e milho e com a crise de confiança, a Coamo não está tendo problemas.

“Não especulamos no mercado e se o cooperado não fixar sua produção, não há como a cooperativa passar o produto para frente. Contudo, estamos trabalhando muito para que o recebimento da safra seja normal, com agilidade e segurança, para que os cooperados não se preocupem com a crise.”

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