Dólar em queda, sem previsão de reversão

A curva descendente do dólar parece estar longe do fim. Na sexta-feira, a moeda americana registrou nova queda e fechou a R$ 2,384. É o menor valor desde abril de 2002. Com a última cotação, a moeda já registra queda de quase 10% no ano. No dia 31 de dezembro de 2004, ela valia R$ 2,654 – ou seja, R$ 0,27 a mais. No cenário internacional, o déficit na conta do comércio exterior dos Estados Unidos, bem como na conta corrente, são apontados como os principais fatores para a desvalorização da moeda. No Brasil, o superávit da balança comercial e a taxa de juros elevada – que atrai mais investidores estrangeiros – resultam no cenário atual.

?A economia norte-americana tem apresentado uma série de fatores, que estão deixando os investidores preocupados?, apontou o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, regional Paraná (Ibef-PR), Luiz Afonso Cerqueira. ?Os Estados Unidos estão com déficit na conta do comércio exterior muito grande e também déficit nas contas correntes – diferença entre o que é arrecadado pelo governo e o que é gasto – principalmente devido aos gastos na guerra contra o Iraque. Além disso, a economia americana está com crescimento muito baixo e isso faz com que os investidores prefiram direcionar os recursos para moedas mais estáveis, como o euro?, explicou. ?Com isso, a moeda americana vem perdendo valor relativo na comparação com outras moedas.?

De acordo com o vice-presidente do Ibef-PR, o Brasil já está sentindo o reflexo da instabilidade da economia norte-americana. Desde a disparada da moeda americana em 2002, com a maior cotação registrada no dia 10 de outubro a R$ 3,99, o dólar só vem caindo. ?Os investidores vêm buscar aplicações mais rentáveis no Brasil e com isso trazem dólar, que já começa a sobrar?, apontou. Também o fato de a balança comercial – exportações menos importações – ser superavitária tem contribuído para a desvalorização cambial. A elevação da taxa básica de juros, lembrou Cerqueira, também contribui para a queda da moeda americana. ?Nossa taxa de juros está extremamente alta e isso faz com que muitos investidores tragam dólar para comprar títulos, especialmente da dívida pública, ou fazer investimentos em empresas privadas que oferecem bom risco de crédito, como é o caso da Vale do Rio Doce ou a própria Petrobras.?

Tendência

Para Cerqueira, num curto espaço de tempo a tendência é que a moeda continue caindo, ?a não ser que o governo brasileiro faça alguma intervenção? – o que é pouco provável. ?O dólar baixo ajuda a combater a inflação. E como o Banco Central tem como prioridade manter a inflação baixa, ele não parece preocupado em intervir.?

?Para o governo é importante que o dólar esteja desvalorizado. Há uma parcela de dívidas públicas que tem a chamada ´cláusula cambial´, em que além da taxa de juros, ele se compromete em remunerar conforme a diferença cambial?, apontou o economista Edson Stein, do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e Conselho Regional de Economia (Corecon).

Para Stein, no entanto, o governo não deve demorar para intervir na tentativa de segurar a queda do dólar. ?Não deve cair muito mais. Há pressão grande do setor exportador, um lobby muito forte. Alguns estão represando estoques de produtos à espera da valorização do dólar e não podem ficar indefinidamente nesta situação. Precisam vender e reinvestir?, apontou Stein, acrescentando que o setor exportador defende a taxa cambial entre R$ 2,75 e R$ 2,85 como a ideal.

Já o gerente de renda variável da Omar Corretora, Wilson Paese, acredita que o dólar possa cair ainda mais, mas com menos força. ?O governo federal captou US$ 500 milhões esta semana, o Bradesco outros US$ 300 milhões. Só essas duas operações já pressionam bastante o câmbio?, apontou. Paese lembrou que, conforme projeção de instituições internacionais como a JP Morgan, o dólar poderia chegar a R$ 2,20. ?Nesse nível, porém, mais setores de exportações seriam prejudicados, principalmente os manufaturados?, arrematou.

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