Gota d´água!

Rio por baixo de cratera aberta na Carlos Gomes é sinônimo de enchentes

O Rio Ivo, que passa por baixo da cratera aberta na manhã desta quarta-feira (22) na Praça Carlos Gomes, já foi sinônimo de muita dor de cabeça e prejuízos aos curitibanos. Motivo da “má” fama? As grandes enchentes que causava na região central da capital até a década de 90.

Até meados do século XIX, o local onde está hoje a Praça Osório era um grande pântano formado pelas águas do Rio Ivo, conforme mostra o Mapa de Curitiba de 1857. As primeiras intervenções nesta área alagada aconteceram em 1870.

Na gestão do ex-prefeito Ivo Arzua, entre 1962 e 1967, a água cobria os carros na Praça Zacarias e impedia o povo de sair do Cine Luz, o grande cinema de Curitiba, que ia até metade da atual Marechal Deodoro. A via era estreita e só comportava a passagem de um carro por vez.

Arzua alargou o Rio Ivo e o canalizou desde a sua nascente na Rua Visconde de Nacar, no Batel, até a Praça Carlos Gomes, no Centro, passando pelas ruas D. Pedro II e Avenida Vicente Machado.

De 1970 a 1993, as enchentes praticamente acabaram no Centro. Mas antes de deixar a prefeitura, em 1992, Jaime Lerner desviou o rio e o jogou no canal de vazão que corre pela Rua Pedro Ivo.

Obra de recanalização do Rio Ivo na gestão Rafael Greca. Reprodução/Facebook

Quando Rafael Greca assumiu, recanalizou o Rio Ivo, ampliando a galeria subterrânea. Em 1995, quebrou a Avenida Vicente Machado, entre as ruas Coronel Dulcídio e Visconde de Nacar, construindo enormes recipientes de concreto para reterem o excesso das águas do Rio Ivo.

Em 2013, já na gestão Gustavo Fruet, foram implantadas novas galerias de concreto na Vicente Machado, para aumentar a vazão de água e prevenir enchentes.

Em 2013, Fruet trocou as galerias pluviais da Av. Vicente Machado. Foto: Arquivo/SMCS

Mas até hoje quem passa pela Vicente Machado em dias quentes se queixa do fedor que vem dos bueiros, em consequência da sujeira recebida pelo Rio Ivo e que se acumula na galeria. Mesmo com as obras realizadas, ainda acontecem alagamentos, principalmente na esquina das ruas Carlos de Carvalho com Visconde de Nacar. O que mostra que o sistema de drenagem ainda precisa de investimentos para eliminar de vez o problema das enchentes.

Apesar das obras, ruas da região central ainda alagam com chuvas fortes. Foto: Átila Alberti

Problema enterrado

Na avaliação do geógrafo Francisco Carlos Rheme, mais conhecido como “Professor Chicho” do Colégio Medianeira, a abertura da cratera na Praça Carlos Gomes não foi causada pelo volume de chuvas dos últimos dias, considerado pequeno para provocar uma erosão, mas pelo assoreamento dentro da rede canalizada do Rio Ivo. “Se houver um excesso de resíduos, especialmente lixo, há uma pressão forte de água que provoca o rompimento da tubulação”.

Segundo ele, “por mais que o poder público faça obras, a cidade é um espaço físico próprio para esse tipo de acontecimento,. Ao cobrir a superfície com pavimentação e calçamento e reduzir a área exposta de vegetação, a água que escorre pela superfície cai nos bueiros e atinge os rios subterrâneos, não tendo condições de escoamento tão rápido”.

Para “Chicho”, Curitiba está longe de resolver o problema dos alagamentos. “Com menos áreas verdes, temos um volume de chuvas 10 a 15% maior que há 70 anos. Por mais que haja projetos, as redes subterrâneas ficam entupidas”.

A curto prazo, acredita, a solução para evitar enchentes seja investir em dragagem e limpeza das galerias pluviais. “A médio prazo, deveriam retomar os projetos engavetados para proteção das bacias hidrográficas de Curitiba, mas isso exige muito dinheiro, como indenizações para moradores de beira de rio, o que parece um pouco utópico na crise. Grandes cidades da China e Coreia estão revivendo os rios urbanos, enquanto nós sepultamos”.

Sem saudades

A jornalista Rosy de Sá Cardoso presenciou várias enchentes do rio que cortava o Centro de Curitiba até o final da década de 1960 e conta nesta entrevista que não tem saudades do Ivo.