Cinemas de rua estão a um passo da extinção

Os cinemas de rua estão praticamente extintos em Curitiba. De caráter comercial, sobrou apenas o Cine Plaza, localizado na Praça Osório, centro da cidade. Existem ainda o Luz, Ritz e a Cinemateca, que pertencem à Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e não se encaixam nesse perfil. Hoje os cinemas estão totalmente concentrados em shopping centers. São quase 60 salas em sete locais.

O consultor de audiovisual da FCC, Chico Nogueira, acredita que a migração dos cinemas para os shoppings é uma tendência mundial. Ele considera que a idéia do momento é facilitar a vida do espectador. “São várias salas passando o mesmo filme em horários diferentes. A tendência é a aglomeração de salas em vários locais”, afirma.

Para Nogueira, os cinemas de rua não têm como competir com aqueles localizados nos shoppings: “A qualidade dos cinemas é bem melhor nos shoppings, onde também há maiores condições técnicas. Além disso, existe o conforto das salas e o fato de ter um estacionamento disponível”.

O administrador do Cine Plaza, Alfredo Prim, conta que os outros cinemas particulares da cidade (Astor, Lido e Condor) fecharam com o advento das salas em shoppings, e foram sofrendo o impacto desse fenômeno aos poucos. O começo da transição não afetou muito o segmento: “A primeira sala foi o Astor no Shopping Champagnat, que não vingou. Na seqüência veio o Astor no Shopping Novo Batel, também com uma sala só. Deu certo, mas ainda não representava um problema para os cinemas de rua”, relembra.

Quando surgiu o cinema no Shopping Curitiba, em 1996, com seis salas no conceito multiplex, os cinemas do centro da cidade começaram a perceber uma queda no movimento, o que foi acentuado quando surgiram as cinco salas do Shopping Crystal. “Nesse momento passou a fazer mais efeito. Era uma novidade. O Condor, o Lido e o Astor sentiram muito”, conta Prim.

De acordo com ele, a gota d’água foi a abertura de dez salas no então chamado Estação Plaza Show, hoje Shopping Estação: “Foi a primeira empresa americana a administrar um conjunto de cinemas aqui. Com ela, vieram a tecnologia em equipamentos modernos, apesar da qualidade de imagem e do som não ter muita diferença para o cinema de rua, mesmo com aparelhos mais antigos”.

A partir disso, o Condor e o Lido foram colocados à venda. O Astor sobreviveu até a exibição do filme Titanic, recorde mundial de bilheteria. Quando saiu de cartaz, fechou. Os antigos cinemas viraram bingos ou centros comerciais.

Último

Assim, resta somente o Plaza, que tem capacidade para 800 pessoas e também passou a sofrer as conseqüências do novo mercado. O movimento caiu mais de 50%. Nos tempos áureos, era campeão de bilheteria em Curitiba, com 20 mil espectadores por semana, e lançador exclusivo dos filmes do Estúdio Fox. “Hoje, com um grande lançamento, se conseguirmos colocar 5 ou 6 mil pessoas é excepcional”, diz o exibidor. “Mas ainda temos um público cativo que assiste às sessões aqui.”

Plaza é patrimônio cultural do Paraná

Segundo o administrador Alfredo Prim, que trabalha no Cine Plaza desde 1972, o local é considerado patrimônio cultural pelo município e pelo Estado, por ser o único cinema de Curitiba exclusivamente cinema. O cinema pertence à Associação dos Servidores Públicos do Paraná (ASPP). A entidade planejou nos anos 60s fazer no mesmo local um prédio para a sua sede. As fundações chegaram a ser construídas, mas depois o resto da obra foi paralisado.

A idéia de construir um cinema partiu após uma parceria com a empresa Unibrás, que finalizaria a construção, mas com algumas condições: ter o direito de explorar o cinema durante 25 anos e fixar um aluguel baseado na percentagem do custo do ingresso. Assim, o cinema foi inaugurado em 1964 com o filme Moscou contra 007. Depois de algumas mudanças, inclusive para outra empresa, o prazo do acordo venceu. A administradora da época renovou o contrato com a associação por mais cinco anos. Após o vencimento da parceria, a empresa queria uma nova renovação, que não foi aceita pela direção da ASPP. A briga foi parar na Justiça e o Tribunal de Alçada determinou a reintegração de posse do prédio à entidade.

Estacionamento

Como meios para conseguir uma renda maior, já houve tentativas de se construir um estacionamento no andar térreo do cinema – a sala do Plaza tem dois andares. A tela seria deslocada e o segundo piso continuaria funcionando. O projeto não foi adiante por causa do título de patrimônio cultural e pelo fato de a Prefeitura proibir a construção de estacionamentos no anel central do município. “A associação está estudando o que vai fazer. O cinema vai existir enquanto for tombado”, avalia Prim. (JC)

Atrativos dos shoppings são imbatíveis

O operador Aloísio José da Rosa, quando vai ao cinema, prefere aqueles localizados nos shoppings. “É mais prático, seguro e tem estacionamento. Como venho com a família, não abro mão disso”, afirma. São justamente esses itens que chamam a atenção de todos os freqüentadores das salas nesses locais: “Cinema hoje é sinônimo de shopping center pelo conforto, facilidade de estacionamento e principalmente pela segurança. São os motivos para não se pensar mais em cinemas de rua”, revela Alessandra Furtado, gerente de marketing do Shopping Curitiba.

Ela conta que atualmente os shoppings são centros de lazer, extinguindo o conceito de serem apenas centros de compras. De acordo com uma pesquisa realizada pela própria empresa, o cinema é o grande chamariz para as pessoas irem até o shopping. Elas acabam passeando, fazendo compras e comendo na praça de alimentação. “O lazer não é bom, é essencial para um shopping. O cinema está dentro disso e é um dos ícones mais importantes”, classifica Alessandra.

O Shopping Curitiba abriga seis salas com capacidade total para 1.350 pessoas simultaneamente. Os dias mais freqüentados são terça, quarta e sábado. Os dois primeiros estão relacionados com as promoções de ingressos. Além disso, são oferecidos ao espectador três horas de estacionamento grátis, em todos os dias e sessões. “A concorrência está muito acirrada, e as promoções são necessárias para atrair o público”, relata a gerente. “É um bom negócio tanto para o shopping quanto para a empresa do cinema. Nós oferecemos a infra-estrutura e o aproveitamento do fluxo. A gente se beneficia com a opção de lazer.” (JC)

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