Intolerância

Mulheres muçulmanas sofrem ataques nas ruas de Curitiba

Após os atentados em Paris, Curitiba registrou casos de agressão e hostilização contra muçulmanos. Na última sexta-feira, uma mulher levou uma pedrada apenas por estar trajando o véu islâmico. De acordo com a Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, esses episódios são frequentes desde o atentado de 11 de setembro. Hoje, a cada caso de terrorismo que repercute na mídia, mesmo longe de qualquer zona de conflito, quem é muçulmano fica inseguro.

Por andarem mais caracterizadas que os homens, as mulheres sofrem mais agressões. “Próximo ao Jardim Botânico, um rapaz arremessou uma pedra que acertou minha perna e gritou para que eu voltasse ao meu país, mas eu sou brasileira”, conta Luciana Velloso. Vítimas de ofensas, piadas e até agressões físicas, as mulheres buscam apoio umas nas outras. No dia 18 os abusos ocorreram com Paula Zahra. “Dessa vez me chamaram de terrorista. Já arremessaram latas de cerveja e até cuspida levei. Tem pessoas que tentam puxar o véu pra provocar”. O que antes era apenas um constrangimento, virou medo. “Meu filho deixou de ir ao colégio, pois os colegas dizem que a mãe dele é uma mulher-bomba”, afirma. Os casos serão levados à Comissão dos Direitos Humanos da OAB-PR, ao Núcleo de Promoção da Igualdade Étnico Racial (Nupier). “É um absurdo que as pessoas relacionem casos de terrorismo com viés político e econômico a pratica de uma religião que promove o bem. Devem ser responsabilizadas criminalmente”, defende Gamal Oumari, diretor da sociedade muçulmana do Paraná.

Portas abertas

Pra desassociar a ideia da prática religiosa do islã de atos político-terroristas, o muçulmanos mantém a Mesquita Imam Ali, próxima às ruínas do São Francisco, aberta à comunidade. “Desde o ataque às torres gêmeas, a imagem do islã passou a ser relacionada com atos bárbaros que não possuem absolutamente nenhuma ligação com a prática da religião”, afirma Gamal.

Conversão ao Islã

Filho de casal católico, o jornalista Omar Nasser encontrou no islamismo a orientação espiritual para guiar sua vida. Após ler o alcorão e aprofundar os estudos sobre o islã, ele se tornou um muçulmano. “De acordo com o livro sagrado do islã, todos nascem muçulmanos. Ao longo da vida, muitos se afastam desse caminho e cedem às tentações. Quando buscamos o conhecimento sagrado revertemos essa condição”, explica Omar.

Ele abriu mão de hábitos como beber com os amigos pra se dedicar ao islã. As práticas como o Ramadan, o ritual do jejum para renovação da fé e realizar cinco orações ao dia se tornaram parte do dia a dia de Omar. “Meu pai era católico da igreja maronita do Líbano. Mas para mim, o islã acabou me ajudando a me desenvolver como um ser uma pessoa melhor por ser dar respostas mais racionais a questionamentos espirituais”, conta.

Pai de dois filhos, Ali e Hassan, e casado com uma empresária, ele diz que a religião o ajuda a ser um marido melhor. “Em casa, ajudo com as tarefas domésticas e com a criação das crianças. Quando minha esposa chega, eles já estão de banho tomado, prontos para dormir. Há um equívoco muito grande em relação ao papel da mulher na cultura muçulmana. No ocidente existe a cobrança pra que a mulher tenha um corpo perfeito, trabalhe e cuide dos filhos. É obrigação do homem dividir responsabilidades”, compara. 

Casos de discriminação religiosa

Neste ano, o país assistiu a casos de intolerância religiosa de diferentes formas. No Rio de Janeiro, evangélicos atacaram adeptos de umbanda a pedrada. Na própria Câmara Municipal de Curitiba, quando houve a aprovação do título de utilidade pública para Sociedade Espiritualista das Almas, um terreiro de umbanda, a proposta sofreu ataques de vereadores, que se referiram &agrav,e; entidade como “uma casa de macumba”.

“Qualquer tipo de discriminação não pode vir de uma pessoa que se diz religiosa, pois todas as religiões pregam pelo bem e evolução do ser humano. Preconceito racial ou étnico é crime e as pessoas precisam entender que se cometerem esse abuso serão responsabilizadas”, afirma Gamal Oumari.

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