Mães que não esquecem

Chega de matança! Existe remédio para a doença: leis e punições

O sofrimento não pode ser uma coisa inútil. Foi pensando assim que Cristiane Yared resolveu transformar a ebulição provocada por sua dor em algo construtivo. “Um amigo advogado disse o seguinte: a nossa luta é pegar quem provocou a tragédia. Vamos concentrar o foco na condenação de quem provocou o acidente e cometeu o homicídio. Que foi ele. Fernando Carli. Que praticou um homicídio”, conta ela. Mas não apenas ele.

Todos os que, como o ex-deputado, usam o carro como uma arma para tirar a vida de pessoas que tem o direito de viver. “Seis anos depois o que eu posso dizer é que a indignação não pode morrer. É preciso manter a indignação para focar na mudança no cumprimento das leis. É preciso que as leis sejam efetivadas. Nós temos leis. Mas nossas leis não são cumpridas”, diz ela.

O trânsito brasileiro se transformou numa doença perigosa. Numa espécie de câncer que precisa ser combatido. O remédio para esta doença são as leis. “É a mesma coisa que existir um remédio para o câncer e ninguém dar este remédio. Ele não serve de nada se não for medicado. A minha luta é para que os crimes culposos de trânsito se tornem dolosos. Os casos de quem dirige e mata hoje são culposos. Eles têm que ser dolosos”, diz ela.

Só assim um irresponsável que usa as ruas como pista de corrida ou de maneira contrária a uma convivência civilizada vai pensar duas vezes antes de agir com irresponsabilidade. Para ela, do jeito que a situação está hoje, a vítima pago o pato e o infrator escapa de ser punido.

“O infrator acaba se beneficiando porque a família não vai atrás de justiça. É muito dolorido ficar correndo atrás de punição, pois a cada dia a pessoa se lembra do caso. É uma forma de deixar a ferida viva. Ficar revivendo tudo é triste”, diz ela.

“Além disso, tem outro problema, é caro correr atrás de punição para o infrator, porque tem que pagar advogado, os processos são demorados, tudo isso acaba sendo favorável a quem comete homicídios no trânsito”, acrescenta.

Ela convoca pessoas que perderam parentes no trânsito. “Não se pode desesperar. Por isso é que esse grito nosso é para que leve outras famílias a gritarem juntas conosco contra os assassinos de trânsito. Isto tem que acabar. Morre-se muita gente no trânsito do Brasil. Isto é inadmissível. Por isso eu digo que tem que focar na indignação, tem que focar no fechamento das brechas que existem nas leis, tem que focar na punição dos homicidas”, afirma.

A sua posição é clara: “Eu quero punição para o homicida do trânsito. País que não pune, não pode reclamar. Nossas leis são boas. O problema é que elas não são aplicadas. E o que impede a sua aplicação são as brechas. Precisamos que as leis sejam cumpridas, o que não acontece. Precisamos transformar os crimes culposos de trânsito em crimes dolosos”, diz ela.

O Grito

“Pessoas fazendo racha, motoristas falando ao celular, tudo isto faz parte do nosso cotidiano. E isto não pode. Beber e dirigir não pode. Quem bebe uma taça de vinho perde reflexos. Vai frear com atraso de sete metros. É o suficiente para arrastas para a morte todas as pessoas que estão no ponto de ônibus”, diz ela.

“Curitiba, por exemplo, mata os seus velhinhos no trânsito. Muitas vezes por imperícia, imprudência e negligência, mas muitas vezes por assumir um risco que não devia ser assumido”, acrescenta.

“Pessoas formadas (adultas) só se corrige se forem punidas. Agora, com as crianças, o país tem que investir em educação. Nós (do Instituto Paz no Trânsito) temos salvado vidas, n&oacu,te;s estamos transformando infratores em educadores, ao transformar a pena de serviços à sociedade numa forma de educação. O infrator vai trabalhar de maqueiro, carregar acidentados, para ver a realidade do trânsito, para que vendo o drama destas pessoas se transforme em alguém que além de evitar cometer estes riscos propague para outras que nunca os cometam”.

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