Tensão

Trabalhadores de UPAs sofrem com agressões e xingamentos

Já parou para pensar o que passam os funcionários, enfermeiros e médicos das unidades de pronto atendimento (UPAs) ou das unidades de saúde da prefeitura (postinhos)? Na madrugada de ontem, confusão no Centro Municipal de Urgências Médicas do Cajuru assustou até pacientes que esperavam atendimento. Um jovem, de 22 anos, acompanhado da namorada, ameaçou, xingou enfermeiros e foi detido pela Guarda Municipal.

O rapaz chegou com a moça, que estava desacordada com suspeita de embriaguez. Segundo os funcionários do local, os dois imediatamente foram atendidos por enfermeiros e médicos de plantão. No momento em que colocavam a jovem na maca, o namorado a teria derrubado no chão e culpado um enfermeiro.

Delegacia

A todo o momento, o rapaz ameaçava e xingava os profissionais e dizia ser policial militar. Depois da queda, a jovem foi colocada para receber atendimento no consultório médico. Depois de alguns minutos em atendimento, teria retomado a consciência e tentado fugir do local, mas foi contida pelos médicos.

Os guardas municipais que ficam no interior da unidade de saúde teriam tentado conter os ânimos e o namorado da moça ameaçou um deles. Ele também teria chutado cadeiras e mesas. O rapaz foi detido por desacato e ameaça e foi encaminhado ao 6.º Distrito Policial (Cajuru).

Bandido também “manda”

O tumulto na US do Cajuru expõe o que vem acontecendo em muitos outros centros de atendimento. Segundo os funcionários, que não se identificam por medo de represálias por parte da Secretaria de Saúde, são inúmeras as histórias de agressão física, verbal e psicológica aos profissionais da Saúde (veja o quadro nesta página). “Conheço histórias de médicos agredidos com a impressora do próprio consultório e de profissionais ‘bandidos’ do posto por ordem de traficantes”, conta um funcionário.

Muitas vezes o fato é abafado. “Temos medo, pois sofremos as consequências. Se falamos, nos calam. Se acontece alguma coisa dentro da UPA onde trabalhamos, nos afastam e fica por isso mesmo”, explica outra funcionária.

“Ano passado, na porta do consultório, um paciente impaciente quase me bateu, ameaçando e apontando o dedo contra o meu rosto. Naquele dia, me senti um lixo”, disse outro funcionário.

Tráfico

Segundo outra funcionária, o que mais preocupa são ameaças de bandidos, principalmente traficantes. “Atendi uma vez um paciente que estava nervoso. Ele saiu da sala e, não deu cinco minutos, voltou esfaqueado. Devia dinheiro de drogas”, contou.

O paciente foi atendido por um médico, da US do Umbará, que o preparou para que fosse encaminhado a um hospital, mas enquanto a ambulância vinha, ele fugiu. “Só falou que havia risco de morrer lá dentro, pois os bandidos poderiam invadir a unidade para matá-lo”.

Faltam condições de trabalho

Quem trabalha na Saúde denuncia também que faltam condições de trabalho. “De modo geral, sempre falta alguma coisa. Quando não é um medicamento, é um produto de limpeza”, conta uma funcionária.
Manter a limpeza de um posto não é uma das tarefas mais fáceis. “Papel toalha, higiênico, sabonete líquido e até o assento do vaso somem”. Um dos funcionários lembrou de um episódio na Unidade de Saúde da Praça Ouvidor Pardinho, no Rebouças, no ano passado: “Um dos banheiros alagou, porque alguém roubou a torneira da pia”.

A Unidade de Saúde Umbará 2, na Rua Nicola Pellanda, por exemplo, segundo os funcionários, é adaptada.
Lá era um antigo supermercado e não há condições de trabalho. “Temos apenas uma porta de entrada e saída. Não existem janelas suficientes. Há anos prometem a construção de uma nova unidade”.

Perigo

Segundo os funcionários, falta me,dicamento. “Também falta luva, por exemplo. Já teve plantão em que eu não pude atender um paciente, porque não tínhamos as luvas e não temos como atender sem o material, ele é essencial”, lamenta.

Serviço no aperto

Os funcionários alegam que as Unidades de Saúde trabalham sobrecarregadas. “Temos bem menos auxiliares de enfermagem do que é necessário para cobrir a escala, por exemplo. Isso faz com que a pessoa trabalhe estressada e cansada, consequentemente, a forma que os pacientes serão tratados não será a esperada.

Somos humanos”, reclamou uma funcionária. “Acreditávamos que era ruim no passado, mas está muito pior”
Se pudessem definir o modo de trabalho em uma só palavra, os funcionários diriam que é sufocante.

“Dependendo do horário, uma UPA parece uma panela de pressão. Não existem cadeiras ou macas suficientes, os pacientes ficam largados pelo chão. Você olha para o computador – com mais de 100 nomes na tela – e fica imaginando como atender aquela multidão com algum tipo de dignidade”, desabafa.

Descaso

Os funcionários reclamam que muitos usuários do SUS não dão continuidade aos tratamentos e que a cada 100 exames, 75 ficam “abandonados”. Permanecem nas unidades esperando que algum dia os pacientes os busquem.

É o seguinte!

Há pouco tempo, a reportagem passou uma manhã dentro de uma UPA para testar a qualidade do atendimento e concluiu que o serviço – no geral – é bom. Mas não dá para avaliar só um dia. É o que mostram os depoimentos nesta matéria, que contam fatos acumulados no tempo. O duro é que os funcionários não podem falar sobre isso.

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