Reportagem flagra urubus por cima de estação de tratamento

Saindo da portaria da empresa Essencis, basta atravessar a rua para chegar a uma Estação de Tratamento de Água (ETA) da Sanepar. É de lá que sai a água que abastece boa parte dos lares curitibanos. A água que é tratada ali vem da Represa do Passaúna, a cerca de 900 metros de distância.

Jadir Silva de Lima, presidente da Aliança de Desenvolvimento da Comunidade da Caximba (Adecom), questiona como que pode haver um aterro sanitário (popularmente chamado de lixão) bem na frente de uma ETA. Estudos feitos pelo IAP demonstraram que havia “concentração anômalas de contaminantes nos poços de monitoramento” da empresa Essencis. Ou seja, na opinião de Jadir, a contaminação pode ter atingido os lençois freáticos que abastecem a Represa do Passaúna e a bacia do Rio Barigui, também próxima, porém em lado oposto. Mesmo assim, a Sanepar informou à Tribuna que a água que é captada na represa fica longe do aterro e não há risco de estar poluída.

Porém a reportagem esteve em frente à ETA e constatou outro problema, a presença de urubus por cima da estação. Jadir explicou que, depois que estes animais andam pelo aterro, ficam com dezenas de bactérias incomodando seus pés. Para eliminá-las, os urubus urinam sobre os próprios pés. “Olha ali quantos em cima da estação de tratamento. Urinam por cima da água que vai para nossas casas. Sem contar os urubus que diariamente vemos tomando banho na represa”, alertou Jadir. A Tribuna constatou milhares destes animais por toda a região.

Incêndio gigante

Em 2011, a Essencis sofreu um incêndio de grandes proporções, que destruiu por completo um barracão de dois mil metros quadrados e demorou muitas horas para ser controlado pelos bombeiros. Sorte é que choveu naquela tarde. Se não, a previsão de controlar o fogo era de quase um dia. Era possível ver de outros bairros as colunas de fogo e os tonéis inflamáveis de 100 litros (com resíduos tóxicos industriais) voando pelos ares em chamas. A fumaça preta invadiu quase todo o bairro CIC e parte de Araucária. Por causa da fumaça tóxica, dezenas de comércios fecharam as portas, escolas cancelaram as aulas e a Defesa Civil se viu obrigada a remover centenas de famílias do bairro, até o controle do incêndio.

Num dado momento, os bombeiros sequer podiam chegar a menos de 100 metros do local, por conta do calor do fogo. A única coisa que podiam fazer era jogar água nos barracões ao redor, para fazer o rescaldo e evitar que as chamas alastrassem. Tiveram que deixar o barracão atingido pegar fogo até que as chamas se extinguissem sozinhas.

Jadir Silva de Lima, presidente da Aliança de Desenvolvimento da Comunidade da Caximba (Adecom), acredita que foram estas explosões do incêndio que pode ter arrebentado as mantas, que são colocadas por baixo do aterro, e evitam que o chorume invada lençois freáticos. E deve ser por causa disto que estudos do IAP apontaram contaminação das águas e do solo no terreno da empresa.

Pode lixo tóxico em aterro?

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) regulamentou os tipos de lixos que produzimos em duas classes: I (perigosos) e II (não perigosos). Este segundo ainda se divide em duas subclasses, o II A e o II B. Veja no infográfico as diferenças.

Nos aterros sanitários, geralmente, são jogados os classe II A, que entram em decomposição e podem voltar a se “harmonizar” com o meio ambiente em relativo pouco tempo. Já os classe II B, em geral, podem ser reutilizados ou reciclados, pois se jogados no meio ambiente, alguns podem demorar mais de 500 anos para se decompor.

Já os classe I não podem ser di,retamente jogado no aterro. Parte deles até pode ir para o lixão, mas antes, precisam passar por tratamentos. Alguns, por exemplo, são incinerados. Outros não podem ser incinerados porque soltam gases tóxicos. Por isto, só podem ser autoclavados, ou seja, submetidos a um processo de desinfecção. Uma parte é destilada. Existem outros lixos que sofrem um co-processamento inicial e são levados para serem queimados em fornos de cimento, pois servem como combustíveis para estes fornos. Mas existem vários outros tipos de tratamento de lixo. Alguns podem até gerar o biogás, um combustível limpo e ecológico para veículos. A empresa Essencis, que recebe o lixo classe I, tem vários destes tipos de tratamentos.

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