Como é que fica?

HSBC fora do Brasil deixa 8 mil pessoas com futuro incerto

A maior apreensão dos funcionários do HSBC sediados em Curitiba é saber se o banco será vendido pra alguma instituição que já tenha rede de agências e centros administrativos instalados no Brasil, ou pra algum grupo internacional que ainda não tenha atuação no país. Esta definição determinará se os quase 8 mil funcionários trabalhando na capital paranaense serão ou não demitidos.

A saída do HSBC do Brasil e da Turquia foi anunciada ontem, em Hong Kong, pelo diretor executivo Stuart Gulliver. A instituição também deverá avaliar sua presença no México e nos Estados Unidos, países onde também não obteve o lucro esperado no ano passado.

A administração do HSBC no Brasil está concentrada em Curitiba. Além das 38 agências na capital e região metropolitana, o banco tem aqui quatro centros administrativos que, no total, empregam estas quase 8 mil pessoas. Destas, cerca de seis mil são bancários.

Segundo o presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, Elias Jordão, a apreensão em relação a quem comprará a instituição é simples. Se for algum banco que já tenha rede de agências e centros administrativos instalados no Brasil, provavelmente não será necessário manter a administração em Curitiba, o que culminará com a redução drástica dos postos de trabalho por aqui.

Mas se a compra for feita por algum banco que ainda não atue no Brasil, provavelmente eles precisarão de um centro administrativo. Assim, a probabilidade de manterem a estrutura na capital paranaense é grande e não devem ocorrer muitas demissões.

Em 1997, a rede inglesa HSBC, com sede em Londres, comprou o Bamerindus. Hoje, diz Elias, cerca de 60% dos atuais bancários do HSBC eram funcionários do Bamerindus, banco paranaense e que tinha sede em Curitiba.

Impactos financeiros

Além do Sindicato dos Bancários, quem compartilha a expectativa de que uma instituição ainda não atuante no Brasil compre o HSBC é o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet. Além do temor de que os centros administrativos sejam desativados, há a preocupação em relação à arrecadação de impostos.

Só o HSBC arrecada anualmente, em Curitiba, cerca de R$ 84 milhões de ISS. O município não deixará de arrecadar este montante, porque as contas bancárias continuarão existindo e apenas migrarão pra instituição que comprar o HSBC. No entanto, a forma como o negócio será feito pode afetar em parte esta soma, que hoje representa 8% do total de ISS sobre tarifa bancária recolhido em Curitiba.

Quanto ao prejuízo estadual, a Secretaria da Fazenda explicou que não haverá impacto expressivo na arrecadação, já que bancos não recolhem ICMS. E outros impostos, como IPVA, relacionados ao banco, são irrelevantes. Os maiores impactos deverão ser os sociais, como a redução dos postos de trabalho.

Clientes: prejuízo a longo prazo

Economistas e sindicalistas acreditam que os clientes do HSBC não devem ser prejudicados, pelo menos a curto e médio prazo. Isto porque, além da legislação brasileira “blindar” os correntistas de prejuízos, a instituição que comprar o banco terá interesse em manter a carteira de ativos (clientes), pra se tornar maior e mais forte no ranking de instituições bancárias do país.

No entanto, dependendo de quem comprar o HSBC, o prejuízo aos clientes pode vir a longo prazo, não só pros correntistas do HSBC, mas também de outras instituições. Isto porque, se for o Itaú ou o Bradesco o comprador (as duas maiores instituições bancárias do País), haverá falta de conc,orrência, o que não é saudável em nenhum setor da economia. Tarifas bancárias em geral podem aumentar e o cliente ter menos opções de escolha.

Vizinhança apreensiva

Um dia de paralisação dos funcionários do centro administrativo do HSBC, no Hauer, já muda toda a dinâmica da região. “Teve restaurante que não abriu. A rua está vazia, normalmente não tem vagas pra estacionar”, diz o chaveiro Ortiz Delfin. Há semanas, os comerciantes da área discutem o que pode acontecer em caso de fechamento do centro.

Ortiz está há 35 anos no bairro, na rua ao lado do banco. Ele conta que viu toda a região se desenvolver com a abertura da estrutura e que boa parte do serviço que presta depende dos funcionários do HSBC. “O pessoal do banco já me conhece. Sempre foi uma parceria forte”, comenta.

Ao lado da loja de Ortiz, está em construção um restaurante. “A dona agora está insegura. Quem que vai querer investir aqui se não tiver o centro?”, questiona. Fernando Alves, proprietário de uma banca de revistas, diz que somente ontem, com a paralisação, já teve redução nas vendas. “Pra nós, será só lamentar se não tiver mais esse espaço”.

Elizalde Scholz, dona de uma loja, não deixa o pessimismo a atingir. Ex-funcionária do Bamerindus e do HSBC, ela acompanhou a transição entre os bancos. “Não sei o que vai acontecer, mas ninguém vai comprar o banco pra virar fumaça”, comenta. (Leilane Benetta)

Paralisação

O Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, a Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Paraná (Fetec-PR) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) promoveram ontem uma mobilização nacional em prol dos bancários do HSBC. Em Curitiba, os quatro centros administrativos – Palácio Avenida, Hauer, Kennedy e Xaxim – permaneceram fechados. A mobilização está entre uma série de medidas adotadas pelo movimento sindical pra garantir que os trabalhadores não sejam prejudicados com a venda do banco.

É o seguinte...

Nem tanto para os correntistas, que já provaram outras fusões. Mas para os 8 mil bancários (11 mil empregados indiretos), a venda do HSBC no Brasil é para espalhar apreensão. Como os prováveis candidados são Itaú, Bradesco e Santander, que possuem matriz e centros administrativos em outras capitais, Curitiba também perderia.

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