Gays x escolas

Beijo entre meninas gera reclamação em escola estadual

O beijo entre duas adolescentes, num colégio estadual de Curitiba, semana passada, levou alguns professores, pais e alunos a uma discussão: como as escolas vêm lidando com os casais homossexuais? O Paraná Online descobriu que a Secretaria Estadual de Educação (SEED) possui até um departamento, responsável por garantir que todos estejam incluídos e não haja discriminação ou preconceito, independente da sexualidade, raça ou credo.

O casal de garotas, de 13 e 14 anos, já completou oito meses de namoro. Elas foram vistas pelo pai de outro aluno e professores aos beijos e as demonstrações de carinho geraram reclamação. Uma das meninas acabou trocada de horário e a outra não estuda mais na escola, mas o diretor afirma que não houve pressão ou preconceito.

A informação do que aconteceu na escola chegou pelo WhatsApp do Paraná Online através da denúncia da mãe de uma das meninas. Mãe e filha contaram que a garota foi trocada de horário e não teve, sequer, a chance de ser contrária à decisão da escola. “Me senti na condição de ser a pior pessoa do mundo, simplesmente por assumir quem eu sou”, disse a jovem de 13 anos. A direção do colégio, por sua vez, afirmou que prestou toda atenção necessária às meninas e que, tanto a troca de horário de uma, quanto a saída da outra da escola foram escolhas em comum acordo com os pais.

O casal de garotas, de 13 e 14 anos, já completou oito meses de namoro. Foto Aliocha Maurício.

Departamento

A reportagem descobriu que o trabalho com os homossexuais na rede estadual de ensino têm sido feito, inclusive, com acompanhamento do Departamento de Educação, Diversidade e Direitos Humanos (Dedi), da SEED.

“A nossa razão de existir é justamente porque entendemos que a sociedade é pautada no preconceito e que as pessoas não estão 100% preparadas para a nova realidade, para a mudança e a diversidade sexual”, explica Melissa Colbert Bello, coordenadora pedagógica da Coordenação de Educação das Relações de Gênero e Diversidade Sexual, do Dedi.

Segundo Melissa, a orientação feita aos professores e funcionários da rede é pautada em uma pesquisa “Sobre Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar”, do Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), de junho de 2009, que mostra que existe preconceito na sociedade de modo geral e a escola, por estar inserida na sociedade, não está livre disso. “E o preconceito, entre alunos e alunas, professores e funcionários, em graus diferentes, vai muito além da homossexualidade, mas também o machismo, a transexualidade, os ciganos e os negros”.

Enfrentando o preconceito

Para lidar de forma direta com a diversidade sexual dentro das escolas e orientar não só alunos, mas principalmente professores e funcionários para como lidar com o assunto, a coordenadora pedagógica da Coordenação de Educação das Relações de Gênero e Diversidade Sexual, Melissa Colbert Bello, conta que há uma equipe de enfrentamento dessas situações, que trabalha na perspectiva do respeito, de modo geral. Essa equipe possui materiais específicos e até cadernos temáticos de sexualidade. “Porque é importante explicarmos que, dentro da diversidade sexual, incluímos também a sexualidade em si, não só homossexual”, orienta.

A função do departamento é de manter que os adolescentes sejam tratados de forma igual. &l,dquo;Cada escola produz o seu regulamento interno, com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que exige que dentro da escola a mesma regra valha para todos”, explica. É o regulamento, feito pela direção e professores, acompanhados pelos pais de alunos, que determina se dentro da escola é permitido namoro e qualquer outra demonstração de afeto em público. “E o que for decidido vai valer para todos que lá estão, indiferentes do sexo ou da raça”.

Demonstrações de carinho geraram reclamação.
Foto: Aliocha Maurício

Fora de controle

Além de orientar como lidar e prevenir que situações de preconceito aconteçam, o departamento também é responsável por agir nas situações que fogem do controle interno. De acordo com a coordenadora pedagógica, quando uma família ou até mesmo um estudante, se sente lesado, pode e deve procurar a denúncia. “E ela pode até ser feita de forma anônima. Através da denúncia, pela ouvidoria, uma equipe especializada recebe as informações completas, toma conhecimento do que aconteceu e, além de investigar, enfrenta o assunto, tentando cortar o mal pela raiz”. Essa denúncia pode ser acompanhada no Site da Secretaria Estadual de Educação (SEED), através do número de protocolo, que mostra quais foram as sequências de encaminhamentos.

Uma vez feita a denúncia, o departamento pedagógico, não vai trabalhar na penalização e sim em como enfrentar o que aconteceu. A primeira atitude da ouvidoria é ouvir todas as partes envolvidas. “Depois, conversamos com a escola, fazemos um atendimento, uma formação diferenciada se for necessária, damos subsídios para que a escola lide com o que aconteceu e, se for o caso de um equívoco da escola, por exemplo, o jurídico é acionado”.

Reclame

Alguns casos encaminhados através da ouvidoria foram resolvidos com tanto sucesso, que a escola chegou a fazer um grande trabalho, que repercutiu entre os alunos e mudou a forma de pensamento deles. “Mas essa é uma mudança que precisa ser trabalhada dia após dia e não acontece do dia para a noite”, explica a coordenadora. No Paraná, as denúncias podem ser feitas pelo site da Secretaria Estadual da Educação (SEED): www.seed.pr.gov .br, no botão “ouvidoria”, ou pelo telefone 0800-419-192.