Pesadelo verde

Esqueleto de obra leva famílias a descobrir cilada na RMC

A compra de lotes em dois supostos condomínios em regiões rurais da grande Curitiba tornou-se um pesadelo para algumas famílias, que, só depois de fechar o negócio, descobriram que os locais tinham empecilhos para ser loteados e receber construções. “Eu vivia pedindo o alvará para poder construir e o documento nunca vinha. Até que um amigo meu que ia comprar lá também descobriu que o condomínio tinha um embargo no IAP (Instituto Ambiental do Paraná)”, disse um comerciante, de 47 anos, que comprou terreno no loteamento Viridi Viam Home Hotel, em Almirante Tamandaré, empreendimento comercializado pelo Grupo Pedra.

Como deixou de pagar as parcelas do terreno de 700 metros quadrados e a taxa de administração de R$ 170 do condomínio, depois que desconfiou que havia algo errado, a vítima teve o nome protestado junto a órgãos de proteção ao crédito. Foi então que descobriu que a área está em discussão na Justiça.

A chácara onde foi montado o loteamento pertencia a um conhecido advogado de Curitiba, que negociou o imóvel de quatro alqueires (96.800 metros quadrados) com a empresa Viridi Viam Home Hotel Ltda. em janeiro de 2013. Eles fizeram um contrato, que previa uma entrada de R$ 200 mil, outros R$ 108.664,00 de abatimento do total e o pagamento de mais 39 parcelas mensais de R$ 12.870,00. Quando tudo estivesse quitado, a transferência do imóvel seria feita à empresa Viridi Viam. As cláusulas do acordo também previam que, se o comprador atrasasse três parcelas consecutivas, perderia boa parte do que pagou (a entrada de R$ 200 mil e mais 1/3 do restante pago).

Foi exatamente o que aconteceu. Os sócios da empresa Viridi Viam pararam de pagar as parcelas já no início do contrato. Até tentaram negociar, mas teriam dado vários cheques sem fundo ao advogado. “Eu não vi má-fé na empresa. Apenas senti a dificuldade deles em honrar os pagamentos. Creio que não conseguiram algumas licenças necessárias e, por isto, acho que não conseguiram vender os títulos do clube que disseram que fariam na chácara. Devem ter ficado sem dinheiro”, analisou o advogado, que afirmou não saber exatamente qual a atividade desenvolvida no local.

Diante do atraso nas parcelas, o advogado pediu a reintegração de posse da área, processo que ainda está em fase inicial na 22.ª Vara Cível de Curitiba.

Embargo

Além da questão judicial envolvendo a chácara onde está o Viridi Viam, a área tem outro problema. O condomínio foi embargado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) em 31 de julho de 2013, impedindo qualquer tipo de atividade que degradasse o meio ambiente, como construção, movimentação do solo e a comercialização de mais lotes. Porém, as vendas continuam normalmente, como apurou a Tribuna. Um exemplo é a compra feita por um autônomo, de 30 anos, que adquiriu um lote no Viridi Viam há três meses, quando o local já estava interditado há um ano.

A Tribuna telefonou a um dos vendedores do Grupo Pedra, que além de oferecer terrenos no Viridi Viam, disse ter loteamentos rurais no Espaço Ambiental Home Hotel, em Tijucas do Sul, e em outras cidades da região metropolitana. O vendedor encaminhou por e-mail as propagandas, com todas as áreas disponíveis.

O Grupo Pedra foi procurado para se pronunciar sobre o assunto. A secretária que atendeu o telefone informou que ninguém irá falar no momento. A reportagem deixou telefone e e-mail para contato, mantendo o espaço aberto para que o Grupo possa dar seu posicionamento até o fim da série Pesadelo Verde.

Como explicar aos filhos?

“Não é só o dinheiro que se vai. É um sonho que acaba”, lamentou o comerciante, que achou que estava fazendo negócio com uma empresa sólida, por conta da conversa dos envolvidos no suposto esquema e também pela bonita sede do Grupo, em São José dos Pinhais.

“Foi muito difícil explicar pro meu filho que não íamos mais morar lá (no condomínio Viridi Viam). Ele até levou um amiguinho pra andar de bicicleta. Estava apertado de pagar, mas eu ia sorrindo ao banco, porque eu achava que depois de 20 anos, aquilo ia ser meu. Ia ser o lugar onde eu iria passar o resto da minha vida, ia viver a minha velhice, com 70, 80, 100 anos, sei lá. Ia ficar pros meus filhos. Foi duro descobrir que fomos enganados”, disse a esposa do comerciante,
aos prantos.

“Tem muita gente simples que está comprando esses terrenos e perdendo seu dinheiro”, lamentou o comerciante.

Venda proibida

Nem todos que compraram terrenos no Viridi Viam e no Espaço Ambiental Home Hotel, em Tijucas do Sul, sabem que seus “vizinhos” estão entrando com ações na Justiça.

A incorporadora está vendendo lotes em Almirante Tamandaré, São José dos Pinhais, Tijucas do Sul, Campo Largo, Balsa Nova, Matinhos, Antonina e em outros municípios. No Espaço Ambiental, por exemplo, 90% dos terrenos já foram vendidos. Mesmo havendo uma liminar impedindo a publicidade do empreendimento e comercialização de mais lotes, a venda continua normal, conforme apurou a Tribuna.

Lá já existem casas construídas à beira do lago, como a de um casal de advogados de Curitiba e também a de um engenheiro de uma conhecida multinacional instalada em Curitiba.