Pesadelo verde

Lotes em condomínios verdes viram pesadelo para famílias

Possuir um cantinho de terra dentro de condomínio em área rural, para descansar nos fins de semana ou morar com a família no meio do verde, da tranquilidade e rodeado de animais silvestres. No mínimo 500 famílias sonharam com isto. Mas para pelo menos 10 delas o sonho virou pesadelo, pois não conseguem os alvarás para construir suas casas em dois condomínios rurais na Região Metropolitana de Curitiba.

Quando foram investigar a fundo o porquê, descobriram que os dois empreendimentos, ambos pertencentes a uma incorporadora de São José dos Pinhais, não possuem as devidas autorizações para serem loteados e vendidos, já que este tipo de empreendimento em área rural requer muito mais exigências ambientais e urbanísticas do que em área urbana. Um deles, inclusive, está embargado. Sem contar que estas pessoas dizem que foram enganadas no fechamento do negócio, pois teria sido oferecido um contrato muito diferente do que a aquisição de um imóvel; compraram um título de clube.

Um dos condomínios é o Viridi Viam Home Hotel, em Almirante Tamandaré, e o outro é o Espaço Ambiental Home Hotel, em Tijucas do Sul. Até agora, há pelo menos 10 compradores insatisfeitos, a maioria do Viridi Viam.

Internet

A maioria destas pessoas, que buscava um ritmo de vida mais tranquilo e harmonioso com a natureza, chegou aos anúncios dos condomínios pela internet. Em um site de vendas, por exemplo, há áreas no Viridi custando entre R$ 130 mil e R$ 160 mil. Porém é no anúncio do Espaço Ambiental que o preço dos terrenos salta aos olhos. Além de o local ser muito bonito, há terrenos de 1.200 a 1.800 metros quadrados por apenas R$ 50 mil a R$ 80 mil. Preço bem mais barato que a média de mercado. Sem contar a taxa de condomínio, que custa de R$ 90 a R$ 180, dependendo do empreendimento. Todos prometem ampla área de lazer, segurança 24 horas, salão de festas, piscinas, haras, caseiro, etc. Ou seja, muitos benefícios, para uma taxa de manutenção tão baixa.

Vida tranquila

Quem se depara com anúncios dos condomínios, logo fica empolgado com a ideia de possuir um terreno grande – em torno dos mil metros quadrados – por cerca de R$ 100 mil. Quem está pesquisando a compra de uma chácara ou terreno em área verde na grande Curitiba, sabe que os preços são, no mínimo, cinco vezes maiores que isto.

Em seguida, a pessoa começa a olhar os anúncios dos empreendimentos e fica ainda mais empolgada com as fotografias de locais paradisíacos e com toda a estrutura de um condomínio clube / hotel, por taxas de manutenção tão baixas. Quem mora em condomínio em Curitiba, por exemplo, sabe que um local com a mesma estrutura de lazer e segurança gera uma taxa mensal, no mínimo, três vezes maior que as cobradas no Viridi Viam e no Espaço Ambiental.

A possibilidade de ver seus sonhos realizados é tanta, que o consumidor passa batido por algumas aparentes contradições nos textos descritivos dos empreendimentos. No site da incorporadora, que foi recentemente reformulado, e nos anúncios públicos em redes sociais e sites de vendas, não são usados os termos “condomínio” ou “loteamento”. Os locais possuem nomenclaturas como “Home Hotel” ou “Clube Recreativo”, confundindo o consumidor sobre qual é a finalidade do que está sendo vendido. Fala-se em opções de lazer com estrutura de hotel, sem especificar se é condomínio, hotel, pousada ou apenas clube.

No entanto, basta ler com mais atenção os textos, que são encontrados termos como “unidades habitacionais” e frases como “você realizara o sonho de ter uma casa no campo para os fins de semanas, feriados, férias, e até moradia, próximo a cidade, do trabalho e das facilidades como a escola para os filhos”, levando a crer assim que o que está send,o comercializado é uma residência com benefícios de hotel e clube.

Vendas nas redes sociais

É no Facebook que a venda de terrenos em condomínio está mais clara. No perfil de um dos vendedores há as imagens dos loteamentos, com as metragens, tabela de preços e formas de pagamento. Não há nenhuma referência a bancos conveniados para financiamento e o parcelamento é direto com a incorporadora.
Mas o consumidor, empolgado com os preços e condições de pagamento, nem repara nestes detalhes. Depois da visita com a família no fim de semana, o interessado já pensa em chegar logo a segunda-feira para fechar contrato.

Foi assim que aconteceu há quase dois anos com um comerciante de 47 anos, que deu uma entrada de R$ 18 mil e financiou o resto em parcelas de pouco mais de mil reais por mês, no Viridi Viam. A parcela pesou no orçamento, mas estava sendo paga com sorriso no rosto, já que a família pensou que estava realizando um sonho. Além do dinheiro já investido, o comerciante pagou R$ 3 mil a um engenheiro, que fez o projeto da tão almejada casa.

Outra vítima, um autônomo de 30 anos, deu 37 mil de entrada. Já um empresário de 50 anos deu R$ 28 mil de entrada e, por pouco, não deu os R$ 130 mil de valor total do terreno à vista, já que tinha o dinheiro disponível, mas acabou decidindo parcelar.