Saúde pede socorro

Hospital Evangélico cria campanha para juntar recursos e explica crise

No próximo dia 27 de setembro, o Hospital Evangélico lança a campanha “Ajude o Evangélico”, com o objetivo de arrecadar fundos e iniciar sua recuperação financeira. A iniciativa chama a população para ajudar a entidade e reflete a que ponto chegou a crise em uma das mais importantes instituições de saúde no estado, que no ano passado atendeu 1,3 milhões de pacientes, mas arca com um déficit mensal de aproximadamente R$ 2 milhões.

Em entrevista exclusiva à Tribuna, o presidente da Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba (mantenedora do hospital), João Jaime Nunes Ferreira, admitiu que a situação está próxima a “um limite” e destacou a necessidade urgente de um plano de recuperação às entidades filantrópicas de todo o País, que juntas têm endividamento de R$ 15 bilhões. “O Brasil inteiro está com este problema. O problema é grave, sim, e a tendência é agravar cada vez mais. Precisamos do envolvimento de todos pra buscar solução”, afirmou.

Na avaliação de Ferreira, o subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é o principal fator responsável pela crise financeira no setor. Dados da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB) apontam que a cada R$ 100 gastos pelos hospitais, as instituições recebem apenas R$ 67. “É uma defasagem de R$ 33 e essa diferença tem que ser tirada de algum lugar”, diz. No caso do Evangélico, o impacto da defasagem é grande, já que 94% dos atendimentos são pelo SUS.

A dívida do Evangélico chega a R$ 300 milhões, referente a pendências tributárias, financeiras, com fornecedores e com os médicos. “Você faz o serviço, mas não tem como pagar. E vai virando uma bola de neve. Só que tem um limite e acho que ele está muito próximo”, avalia. Este limite já se manifestou por diversas vezes nos últimos anos. “É o que tem acontecido, individualmente, que é o fechamento das instituições. Agora a tendência é acelerar esse processo”, lamenta o presidente da Sociedade, que ocupa o cargo há dois anos e meio.

Mais fôlego pro hospital

A campanha pode garantir mais fôlego para o hospital. A expectativa é agregar 1 milhão de doadores em todo o Paraná e utilizar a quantia arrecadada para aquisição de medicamentos, alimentação, enxoval e, depois disso, investimentos.

“Não podemos parar porque existe uma necessidade importante no estado, por todo serviço que o hospital presta. Somos referência em diversas áreas e temos que lutar para não parar”, diz. A saída para reverter o quadro, explica Ferreira, está no posicionamento do governo, que precisa implantar medidas que facilitem o acesso ao crédito, financiamento de dívidas, com juros baixos e prazos mais longos, e carência. “Mas não vejo uma sinalização. Talvez o Prosus (programa lançado no final do ano passado que visa restruturação tributária), mas é um processo muito demorado”.

Serviço

A campanha Abrace o Hospital Evangélico será lançada no sábado da próxima semana, dia 27 de setembro, com um abraço simbólico ao Hospital Evangélico. O ato está marcado para 10h e as doações podem ser feitas a partir de R$ 5. Mais informações pelo site www.ajudeoevangelico.org.br.

Atraso nos salários

Recém saídos de uma greve por atraso de 16 dias no pagamento dos salários, os funcionários do Hospital Evangélico reclamam do problema constante. Apesar de a situação ter se regularizado desde o com,eço do ano, a falta de pagamento do vale refeição e benefícios como férias e fundo de garantia desagrada os trabalhadores.

“Empregados ficam até 30 dias sem receber e isso afeta tudo. Tem gente que não tinha gás em casa e as pessoas vivem deste salário”, afirma o diretor de finanças do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Curitiba e Região (Sindesc), Natanael Marchini.

De acordo com ele, a maioria dos 2,8 mil funcionários entrou com ação na Justiça. Apenas o sindicato encaminha 200 ações e outras 1,3 mil estariam em andamento. “O trabalhador perde a confiança no hospital e fica na corda bamba”, diz o diretor.

O Paraná Online tentou entrevista com representante do Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar), mas não conseguiu contato até o fechamento da edição.

Improvisado

Sobre o trabalho das especialidades de ginecologia e obstetrícia, ortopedia e oftalmologia na garagem do hospital, João Jaime Nunes Ferreira afirmou que a instituição está trabalhando para a instalação em local adequado. “Foi uma situação contingencial e pretendemos até o mês de outubro o reajustamento dos ambulatórios que atendem lá para outro local”, explicou.

De acordo com o presidente da Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba, a instalação ocorreu para que as especialidades não deixassem de atender durante um período de 90 a 180 dias. O hospital tem o prazo de encontrar um novo local até novembro, conforme ultimato da Secretaria Municipal de Saúde.

Paraná Online no Google Plus

Paraná Online no Facebook