Deixados para trás

Rede de proteção é o 1º passo para evitar abandono em hospitais

Uma política pública voltada para os idosos e suas necessidades pode ser o primeiro passo para esvaziar os leitos de unidades de saúde que hoje abrigam pacientes que já estão de alta, mas sem um lugar adequado para serem recebidos. Conhecedor das causas ligadas a pessoa da terceira idade, o promotor Mario Luiz Ramidoff, da 2ª Promotoria de Defesa dos Direitos do Idoso, propõe a criação de uma rede de proteção. Com uma política voltada para os idosos, as ações seriam mais rápidas. “A primeira ação seria criar a Defensoria de Proteção ao Idoso, só com isso já agilizaria todo meu trabalho”, explica ele, que neste ano atendeu quatro mil casos, desde negligência e abandono à escolha de cuidador.

O promotor está trabalhando na criação da rede que envolveria a Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS), secretarias estadual e municipal de Saúde, Defensoria Pública e demais entidades. Com esta nova política seria possível implantar um programa para atendimento domiciliar. “Se um idoso tiver atendimento em casa vai evitar muitos casos de abandono”, reforça Ramidoff. Vagas em casas de longa permanência que possam receber idosos acamados é também uma das soluções apresentadas por Solange Coning, supervisora técnica do Serviço Social do Hospital de Clínicas (HC). “Curitiba não tem nenhuma casa ou instituição para atender essas pessoas”, afirma.

E é justamente nesta linha de ação que a Prefeitura de Curitiba deve lançar até novembro o programa Cuidador Domiciliar. “Os pacientes que precisam destes cuidados receberiam o cuidador em casa. Isso permitiria que estas pessoas que estão nos leitos voltassem para casa após receber alta”, explica Angela Mendonça, diretora de proteção Social Especial da FAS. Outras novidades serão anunciadas nos próximos meses. “Fechamos uma parceria que vai abrir 30 vagas para atender idosos e pessoas com necessidades especiais. Também poderão receber pessoas que precisem deste atendimento após receber alta. Vamos avaliar as prioridades”, acrescenta Angela.

Porém, as soluções não pretendem fazer com que o governo assuma totalmente a responsabilidade sobre estas pessoas, mas para que as famílias tenham mais tempo para se preparar e poder receber esses pacientes. São programas de apoio como opção de “estadia” após a alta dos pacientes.

O HC realiza um trabalho de instrução e treinamento das famílias que receberão o familiar de alta, e também acompanha o paciente após sua saída da instituição. É feita pelo menos uma visita domiciliar para verificar se os procedimentos estão sendo feitos. “Esta preparação começa antes do paciente receber a alta. O paciente que vai para casa é aquele que precisa de atendimento básico, que qualquer pessoa pode fazer”, explica Solange.

Para mudar a triste realidade, restrita ao quarto de hospital, as soluções precisam ser colocadas em prática, para que pacientes como Maria (da primeira reportagem da série, que morreu sem que um parente a levasse pra casa) não morram nos hospitais a espera de uma vaga em casa de longa permanência ou de um cuidador, e que mulheres como Silvia (da segunda reportagem, sem recursos para receber o pai em casa) não vejam os pais morrerem por falta de condição de dar um atendimento digno em casa.

liberação de pacientes

O Hospital das Clínicas (HC) afirma, em nota, que apesar de Silvia, personagem da matéria publicada na terça-feira, assegurar que recorreu a todos os recursos para retirar o pai da unidade após receber alta, o HC “realiza todos os procedimentos previstos em lei e busca garantir os direitos do paciente. A equipe médica por sua vez, não libera pacientes em alta, sem que se tenha a ciência de que os mesmos r,eceberão os cuidados necessários pós-alta para o seu bem-estar, manutenção do estado de saúde e suporte da rede de atendimento”.

O hospital afirma que “em casos específicos uma equipe multiprofissional do hospital realiza visita domiciliar para acompanhar e verificar se o paciente está recebendo o atendimento necessário”. O HC diz que realiza o acompanhamento dos casos em que família se sente insegura ou alega não ter condições de receber o paciente. Para isso envolve uma equipe para orientá-la e reforça que em nenhum momento o familiar é pressionado e sim esclarecido sobre a situação”.

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