Profissão perigo!

Cobradora de estação no Hauer já foi assaltada 35 vezes

Conversando com cobradores de ônibus da Rede Integrada de Transporte (RIT), é difícil encontrar algum profissional que nunca tenha sofrido um assalto no trabalho. E se antes os crimes se restringiam apenas aos cobradores, agora até os passageiros tem sido alvos de “arrastões”. O Paraná Online levantou quais são as estações-tubo e as linhas de ônibus mais perigosas. Enquanto os tubos mais visados estão no Hauer e Xaxim, as linhas mais atacadas são as que circulam pela CIC.

A Urbanização de Curitiba (Urbs) forneceu dados de roubos de 1.º de janeiro a 30 de abril. Os tubos Coronel Luiz dos Santos, na Avenida Marechal Floriano Peixoto, no Hauer, onde param os expressos Circular Sul e Boqueirão, são os mais visados. Eles somaram cem crimes até 30 de abril. Mas seguindo a média aproximada de um crime a cada 28 horas, até ontem já devem ter sofrido pelo menos outros 65 assaltos.

Uma cobradora de 33 anos que trabalha nessa estação e tem dois anos e meio de profissão já passou por 35 roubos. Um cobrador que foi chamado para trabalhar no local ficou apenas duas horas e meia trabalhando. Não suportou as ameaças de bandidos e pediu para ser substituído. Outro pediu a conta depois que os ladrões, além de levarem o dinheiro do caixa, também pegaram seu tênis e celular e ainda deram um tiro para cima. Outro já levou um tiro na barriga e, em outra situação, até os passageiros aguardando o ônibus tiveram os pertences levados.

“Depois do crime, agente começa a chorar, dá tremedeira no corpo todo”, disse uma cobradora com 14 anos de serviço, que já foi assaltada quatro vezes durante os seis anos que trabalhou no tubo Passarela (o segundo mais assaltado, também na Marechal Floriano). Em três roubos, ela teve armas apontadas à cabeça e no quarto uma faca direcionada ao corpo.

Entre essas duas estações também há outra bastante visada: a Hipólito da Costa. Lá, a reportagem encontrou um cobrador de 28 anos, que tem quase cinco anos de profissão e já passou por 60 assaltos, 34 cometidos pela mesma dupla, que foi presa. Ele conta que os roubos aos tubos são mais frequentes à noite, já que aquele trecho é composto em sua grande maioria por comércios. Depois que fecham, a região fica muito deserta.

Não são raros casos de três assaltos à mesma estação, numa mesma noite. Os bandidos “batem ponto” no horário entre a saída de alunos de um colégio próximo, às 22h, e a saída dos funcionários do supermercado Condor, até as 23h, momento em que o caixa junta um pouco mais de dinheiro.

O cobrador ressaltou que, nem sempre, os ladrões são viciados em drogas ou maltrapilhos. Geralmente são jovens até bem vestidos, com roupas de marcas da moda. “Destes 60 assaltos, acho que só uns dois eram ‘nóias’ querendo dinheiro pra fumar crack”, analisou a vítima.

Xaxim

O guarda municipal Ademir Costa, que atua na segurança do transporte coletivo, disse que além dos tubos na Marechal Floriano, outros localizados no Xaxim também são muito visados. Eles explica que, geralmente, os marginais chegam a pé e esperam a estação ficar mais vazia para abordarem o cobrador. Nem sempre vão armados e geralmente levam uma mochila com outra muda de roupa, para trocarem logo após o crime e não serem identificados. “Muitas vezes comparsas ficam estacionados em ruas próximas, para dar fuga aos ladrões”, contou.

Linhas que passam pela CIC são visadas

Entre as linhas de ônibus mais assaltadas, estão a Tamandaré/Cabral, que sai do Terminal Cabral e vai até o Terminal Central de Almirante Tamandaré; o Interbairros IV, que sai do Terminal Santa Felicidade, passa por São Braz, Campo Comprido, Fazendinha e CIC; e a linha Trabalhador, que sai do Terminal Fazendinha, passa por CIC, Sítio Cercado e Terminal Boqueirã,o.

A linha Tamandaré/Cabral sofreu seu último roubo às 18h20 de sexta-feira passada. O motorista, que tem 32 anos – dez roubos em dez anos de profissão – disse que quatro rapazes entraram armados. Um ficou apontando a arma para o motorista, enquanto os outros limpavam o caixa. Ele conta que o trecho da Avenida Anita Garibaldi em Curitiba é tranquilo. “Mas passou do bairro Cachoeira pra frente, principalmente ali da rotatória no início da Rua Francisco Kruger, em qualquer local agente pode ser assaltado”, lamenta. O cobrador que estava com ele falou que já tem 20 anos de profissão e já passou por 27 assaltos.

Já nos ônibus que passam pela CIC, a reclamação é geral. De acordo com os funcionários, todas as linhas que entram no terminal do bairro são visadas. O local onde são mais atacados é ao longo da Rua João Bettega, principalmente em frente a uma empresa de transporte. Outros pontos ficam nas Ruas Desembargador Cid Campelo, Pedro Gusso e José Rodrigues Pinheiro.

No Interbairros IV, os arrastões, com marginais levando dinheiro e pertences dos passageiros, têm sido constantes. Uma cobradora contou que quando o ônibus parou em frente a uma editora de livros didáticos, o bandido apontou uma arma ao motorista e mandou que ele não fizesse nenhum sinal de luz para os que vinham no sentido contrário. Se não “estouraria os miolos” do funcionário. Em seguida, outros marginais entraram e fizeram a limpa em cerca de 15 passageiros e o cobrador. Isto aconteceu às 19h55 de um domingo, há algumas semanas.

Nesta mesma linha, um motorista de 42 anos, que tem 17 anos de profissão e oito assaltos, e o cobrador, de 61 anos, 17 de empresa e 25 roubos, ressaltam que o crime não tem hora. E os cobradores reclamam que, depois do roubo, as empresas ainda obrigam que o funcionário continue trabalhando e volte sozinho de ônibus pra casa. “Poxa. Tinham que no mínimo levar agente em casa e dar suporte psicológico. Quando roubam, a primeira coisa que querem saber é quanto levaram”, reclamou uma cobradora.

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